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Calma, é só a inflação a subir

Parece descabida a tese de que é a subida da inflação que vai travar o "bull market" que dura há mais de seis anos nas principais bolsas

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Entre a bateria de indicadores económicos que são divulgados todos os meses, a inflação é certamente um dos mais enfadonhos. São poucos os que lhe dão importância e a esmagadora maioria das pessoas não quer saber qual foi a evolução dos preços.

Fazem mal. Apesar de enfadonha, é a inflação que determina um importante conjunto de factores ligado ao rendimento real das famílias. Desde logo os salários, mas também as taxas de juro (dos depósitos e produtos de poupança, bem como dos créditos), as rendas das casas, os preços das portagens e um alargado leque de produtos e serviços estão, directa ou indirectamente, ligados à inflação.

Para quem acompanha os mercados, a inflação já não é tão displicente. Sobretudo nos últimos meses. Foi sobretudo devido ao reduzido valor da inflação (e ameaça de deflação) que os bancos centrais em todo o mundo tiveram de ligar as máquinas, injectando quantias astronómicas de dinheiro na economia. A acção dos bancos centrais revelou-se pouco eficaz para acelerar os preços, mas contribuiu de forma evidente para a recuperação da economia, que está actualmente a crescer a bom ritmo e de forma sincronizada a nível global.

Foram também as medidas não convencionais dos bancos centrais que contribuíram de forma determinante para impulsionar os preços dos activos cotados nos mercados, com destaque para as acções e obrigações. Os índices accionistas estão há vários meses a fixar máximos consecutivos na Europa e sobretudo nos Estados Unidos. No mercado da dívida soberana, durante muitos meses, os investidores tinham de pagar à Alemanha para lhes emprestar dinheiro a cinco anos.

A inversão da política monetária há meses que é tema nos mercados financeiros, mas no final de Janeiro soou o alarme quando aumentou de tom o debate no BCE sobre a necessidade de anunciar o fim do programa de compra de activos. E mais recentemente quando a Fed perspectivou uma subida da inflação, levando o mercado a ajustar as estimativas para um ritmo mais acelerado de aumento da taxa de referência do banco central. Os juros das obrigações soberanas dispararam, contagiando os mercados accionistas, que estão a sofrer as quedas mais bruscas desde 2016 na Europa. Esta segunda-feira Wall Street viveu a pior sessão desde 2011.

Estamos perante uma correcção saudável nas bolsas ou no início de um período prolongado de desvalorizações nas acções? É a dúvida do momento nos mercados, mas parece descabida a tese de que é a subida da inflação que vai travar o "bull market" que dura há mais de seis anos nas principais bolsas. Sobretudo porque são vários e relevantes os indicadores que suportam o momento positivo nas bolsas (crescimento da economia mundial como não acontecia há uma década e evolução positiva dos resultados). Mas também porque a subida da inflação é saudável, pois permitirá normalizar a política monetária e até porque o BCE está cansado de repetir que será gradual para não criar choques nos mercados.

Mais negativo do que ter correcção ou queda prolongada nas acções é ter a economia a crescer de forma artificial por muito mais tempo, com taxas de juro muito baixas que castigam os aforradores e induzem o perigo do aumento do crédito fácil e barato.  
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