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“Sell-offs” são normais, mas esta semana está a chocar até os profissionais
Os veteranos de Wall Street estão habituados à turbulência, mas o frenesim que tem assolado as acções começa a fazê-los perder a paciência.
Os dias maus têm vindo por ondas. Das cinco piores sessões desde 2015, duas aconteceram nas duas últimas semanas, com o S&P500 e o Dow Jones a eliminar os ganhos do ano, na quarta-feira, 24 de Outubro. Apesar de as bolsas estarem a subir esta quinta-feira, os índices accionistas caíram em 13 dos últimos 15 dias, igualando o maior período só verificado uma vez desde 2000.
Os profissionais estão perplexos – porquê agora? Toda a gente sabe que as acções podem entrar em queda-livre por nada, mas as condições da economia e das empresas americanas parecem tão boas. Houve um sentimento de incredulidade na indústria, na quarta-feira. Não terá a queda ido demasiado longe?
"Vou ser honesto, tenho dificuldade em explicar isto", afirmou Patrick Palfrey, estratega do Credit Suisse. "Não há uma justificação para o ‘sell-off’. As preocupações em torno da guerra comercial ou das tarifas, as preocupações sobre as avaliações, as preocupações sobre o pico dos lucros – o que for, e eu prometo que já ouvi um cliente a tentar atribuir a tudo isto. Não acredito que nada disto sirva [de justificação]".
Coisas que nunca incomodaram os investidores estão a surgir como ameaças mortais. As pessoas que passaram anos a rezar pela inflação estão agora convencidas [a inflação] que vai matar a economia. A Reserva Federal aumentou as taxas de juro oito vezes, elevando-as para próximo dos 2%, e de repente foi longe demais. Um crescimento de lucros de 11%? Já não chega.
"As pessoas têm andado por 2018 pé-ante-pé, com os olhos bem abertos, mas os mercados estão, claramente, a exagerar", afirmou Jack Ablin da Cresset Asset Management. "A actividade de venda está amplamente influenciada pela emoção. Não encontro verdadeiramente outros factores que confirmem a direcção dos mercados, e tenho-me esforçado para isso."
Independentemente da seriedade dos perigos iminentes, a evolução parece extrema. As acções industriais deslizaram mais de 4%, na quarta-feira, enquanto as "utilities" subiram mais de 2%, o que corresponde ao maior diferencial desde 2008. As acções ligadas ao sector da construção caíram para níveis próximos da recessão, a reflectir a ansiedade em torno das subidas das taxas de juro, os custos de construção mais elevados e os dados que apontam para um abrandamento do mercado imobiliário.
"O mercado está a começar a acreditar que não teremos qualquer crescimento no próximo ano e isso está simplesmente errado", salientou Paul Zemsky da Voya Investment Management. "Estão a começar a ser reflectido aumentos significativos das taxas de juro e um abrandamento significativo no crescimentos dos lucros [das cotadas]. Está a chegar a um ponto de que está a ser exagerado."
Nem toda a gente está a revelar perplexidade. Pode sentir-se que a volatilidade está fora de controlo, mas é o resultado de um problema real na economia: o aumento do custo de financiamento e provas de que as empresas não podem repercutir esses custos.
As taxas de juro podem estar baixas tendo em conta os padrões históricos, mas não estão baixas comparando com os valores praticados ao longo do "bull market".
"Porque é que as acções não caem perto de 10%? As vendas de casas novas caíram por causa das subidas de juros da Fed e das promessas de mais aumentos. Trump chamou "louca" à política monetária, e os mercados bolsistas parecem estar a dizer que o presidente está certo", realçou Chris Rupkey, da MUFG Union Bank. "Parece que estamos condenados."
Como sempre, o pânico de uma pessoa é a oportunidade de comprar para outra.
"Entrar em pânico é a pior coisa que um investidor pode fazer", afirmou Ann Miletti gestora na Wells Capital Management. "O que se deve fazer é focar-se no longo prazo e até tirar proveito da emoção do mercado", acrescentou.
(Texto original: Sell-Offs Are Normal, But This Week Is Shocking the Pros)