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Dara Khosrowshahi: o novo viajante da Uber
Aos 48 anos, este gestor com origens iranianas trocou a Expedia pela Uber. Simplificar é um dos seus lemas de vida. Vai precisar de fazê-lo numa empresa para a qual olha como um campo de “guerra”, com problemas antigos.
O nome até pode ser difícil de pronunciar mas há factores que compensam a escolha. "Ele é capaz de trazer ordem para o meio do caos", garante o primo e investidor Ali Partovi. Falamos de Dara Khosrowshahi, o novo CEO da Uber, confirmado esta semana no cargo.
A sua história é relativamente linear, a contrastar com os escândalos que marcaram os últimos anos na plataforma de transporte e o seu antecessor Travis Kalanick. Calmo, discreto, focado ou disciplinado são alguns dos adjectivos que melhor cabem a Khosrowshahi.
Ele, que é o mais novo de três irmãos, chega aos Estados Unidos aos nove anos, como refugiado. Os pais estavam ligados já ao mundo dos negócios e sofreram os efeitos da Revolução Iraniana. O pai regressou ao Irão para cuidar do avô de Dara. Foi preso durante seis anos.
Talvez por isso Dara tenha sido tão crítico do presidente norte-americano Donald Trump, de quem a Uber foi outrora conselheira, quando este criou recentemente barreiras ao acesso de cidadãos oriundos de países muçulmanos.
Khosrowshahi acusa-o de destruir o "sonho americano". O mesmo que ele viu crescer em Nova Iorque, ao cuidado da mãe. No secundário fez parte da associação de estudantes e jogou futebol. Na universidade de Browns estudou engenharia eléctrica. Começou por trabalhar no banco de investimento Allen & Company.
O caminho levou-o à Expedia, agência de viagens online, que liderou durante 12 anos, desde 2005. Deixa-a agora para ir para a Uber. "Tenho de admitir-vos que estou assustado. Estive aqui tanto tempo que me esqueci como é a vida lá fora", contou na despedida de Washington.
Khosrowshahi entra na Uber a meio de uma viagem atribulada
Do outro lado, na Uber em São Francisco, espera-o uma "guerra". "E acho que todos sabemos disso", disse no primeiro encontro com funcionários na sede da tecnológica. E é uma guerra em várias frentes: acusações de espionagem industrial pela Waymo, detida pela Google; acusações de assédio sexual; uma administração dividida, legislações diferentes a cada geografia. Conseguir financiamento do Softbank ou avançar com o projecto dos carros voadores são outros dos dilemas.
Dara Khosrowshahi traz os resultados da Expedia, onde duplicou as receitas, atingindo os 8,8 mil milhões de dólares em 2016 (7,4 mil milhões de euros à cotação actual). Nesses anos, comprou nomes sonantes como a HomeAway – a grande rival do Airbnb – ou a Trivago. Esse conhecimento será essencial numa Uber sem responsável financeiro, que dá prejuízos há sete anos, apesar de uma avaliação recorde de quase 70 mil milhões de euros.
Levar a empresa para a bolsa é um dos objectivos, a cumprir dentro de 18 a 36 meses. Aos 48 anos, o gestor ultrapassou nomes como Meg Whitman da HP ou Jeff Immelt da General Electrics, que também concorriam ao cargo deixado vazio em Junho. Mas terá sempre de liderar na sombra de Travis Kalanick, sentado na administração e a quem se associam sempre os rumores de um eventual regresso.
Este "outsider" de Sillicon Valley foi em 2015 o CEO mais bem pago nos Estados Unidos da América. Não é um dos "tech boys", garantem os especialistas do sector na imprensa internacional. Khosrowshahi carrega um lema de vida: simplificar é uma capacidade desvalorizada.
E é tudo o que precisa de fazer na Uber, reforçando uma equipa há muito desmembrada. Simplificar.