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Insolvência da Dielmar atira 300 para o desemprego em Castelo Branco

A Dielmar “sucumbiu à pandemia da covid-19”, tendo entregado o pedido de insolvência no final da semana passada. A empresa de Alcains empregava atualmente cerca de 300 pessoas, com quem garante ter os salários em dia.

Paulo Novais / Lusa
02 de Agosto de 2021 às 08:39
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"Terminamos hoje o sonho dos nossos pais e dos fundadores da Dielmar, que há 56 anos ousaram transformar a sua atividade artesanal com a criação de uma indústria em Alcains que criou milhares de empregos, formou milhares de pessoas, gerou uma imensa riqueza para a região e para o país e levou o nome de Portugal pelo mundo".

 

Foi desta forma que a administração da conhecida empresa de vestuário sediada em Castelo Branco anunciou esta segunda-feira, 2 de agosto, o pedido de insolvência entregue no final da semana passada, aceite pelo tribunal por dívidas a fornecedores, e que vai atirar para o desemprego cerca de 300 trabalhadores. Era uma dos maiores empregadoras da região.

 

Num comunicado enviado às redações, a administração liderada por Ana Paula Rafael confirma que a empresa da Beira Interior "sucumbiu à pandemia da covid-19" e garante que "pagou pontualmente e até à data os salários aos seus trabalhadores", lembrando que durante cinco décadas manteve "a prosperidade e a tranquilidade de muitas famílias em Alcains e nas terras em redor".

Talvez a insolvência da Dielmar seja o alerta e o farol para que possam repensar com carácter de urgência o interior e apoiar as indústrias que ainda aqui existem. Ana Paula Rafael, presidente da Dielmar



Fundada em 1965 pela junção de quatro alfaiates que deram o nome à empresa, sob a forma de acrónimo – Dias, Helder, Mateus e Ramiro –, a empresa de confeções especializada em roupa para homem – vestiu a seleção portuguesa que venceu o Euro2016 – chegou a empregar 400 pessoas e, antes desta crise, exportava perto de 70% da produção para 25 mercados e faturava cerca de 15 milhões de euros.

 

"Talvez a insolvência da Dielmar seja o alerta e o farol para que possam repensar com carácter de urgência o interior e apoiar as indústrias que ainda aqui existem e que suportam, há décadas, a fixação das pessoas e a economia e equilíbrio social da região. E que proporcionam, sobretudo, oportunidades de trabalho para as mulheres", refere a nota enviada por Ana Paula Rafael, filha de um dos fundadores, que em 2008 assumiu o comando da empresa.

"Novas oportunidades" depois da "tragédia"?

Enquanto a gestora diz esperar que "sejam tomadas verdadeiras medidas e iniciativas a favor do interior, para que todos estes trabalhadores voltem a poder ter o seu emprego aqui e não tenham que sair da sua terra para trabalhar", o presidente da Câmara de Castelo Branco, José Augusto Alves, fala ao Jornal do Fundão (JF) de uma "tragédia que se abateu sobre Alcains", esperando o autarca socialista que ainda possa ser encontrada uma solução.

 

"Ficam a marca e o know-how da Dielmar, as instalações e os equipamentos fabris e a vontade de trabalhar destas gentes que - porventura com a ‘bazuca’ que um dia certamente chegará à economia do interior para promover a retoma - possam ainda ter uma segunda oportunidade e dar mais 50 anos a este projeto empresarial", sustenta a administração, confiando que "a insolvência abrirá novas oportunidades que terão certamente a mobilização e apoio do próprio Estado e da autarquia e poderão proporcionar o ressurgimento da empresa e a manutenção dos atuais postos de trabalho".

Marisa Tavares, dirigente do Sindicato Têxtil da Beira Baixa, disse ao JF que "os trabalhadores estão a gozar um período de férias até dia 16" e que "a Comissão Sindical na Dielmar não sabe de nada", tendo já pedido "informações urgentes" à administração. Para esta segunda-feira, a partir das 15:00, está já marcado um plenário com os trabalhadores, a realizar à porta da fábrica, em Alcains.

"Longos e duros 16 meses" até falir Além da fábrica em Alcains e das vendas de roupa para outras retalhistas, a Dielmar contava também com dez lojas próprias e viu a pandemia "alterar radicalmente" o seu negócio a partir de março de 2020. Não só por via do encerramento do comércio em diferentes períodos e em múltiplas geografias, como pelo facto de estar crise ter "[atacado] globalmente o que de melhor sustentava a sua atividade", como os convívios sociais, os eventos e casamentos, ou "o trabalho profissional" nos escritórios, interrompido até agora pelo teletrabalho. Na nota enviada às redações esta madrugada, Ana Paula Rafael descreve que "foram longos e duros 16 meses e um esforço imenso e solitário da equipa Dielmar para conseguir fazer sobreviver a empresa nesta pandemia sanitária e económica". Infrutíferos, como agora se comprova.
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