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Têxtil traça metas até 2030: vendas de 10 mil milhões e 120 mil trabalhadores
No cenário mais otimista traçado no novo plano estratégico, a indústria portuguesa do têxtil e do vestuário conta chegar ao final da década com menos mil empresas e 18 mil trabalhadores do que antes da pandemia de covid-19.
A indústria têxtil e do vestuário (ITV) portuguesa quer chegar ao final desta década com cerca de 5.000 empresas ativas, pelo menos 120 mil trabalhadores e um volume de negócios anual a rondar os 10 mil milhões de euros, dos quais 8 mil milhões de euros destinados às exportações.
Este é o "cenário ouro" traçado no estudo "Visão Prospetiva e Estratégias ITV 2030", que foi apresentado esta terça-feira, 29 de junho, pela principal associação do setor (ATP) durante o fórum anual que se realiza em Vila Nova de Famalicão. Antes da pandemia, esta indústria contabilizava perto de 6.000 empresas e 138 mil postos de trabalho.
Já no "cenário prata", o documento prevê 3.500 empresas, 80 mil trabalhadores e 6 mil milhões de euros de vendas (5 mil milhões no exterior). E a projeção mais pessimista ("chumbo") conta apenas com 2.500 empresas e 75 mil empregos, baixando a faturação anual para 5 mil milhões de euros (4 mil milhões na exportação).
"Os cenários de chumbo e de prata são aqueles que queremos evitar. Queremos [chegar] ao ‘cenário ouro’, que aposta no crescimento e que está mais alinhado com estas características que são tão nossas, como a resiliência e [superarmo-nos] mesmo em momentos de dificuldades", resume a diretora executiva da ATP.
Para alcançar as metas mais ambiciosas em 2030, Ana Paula Dinis pede "políticas arrojadas e medidas bem concebidas". Baixar a carga fiscal e a fatura energética, descentralizar as competências dos órgãos de decisão da atividade económica, impulsionar a recapitalização das empresas e simplificar os processos de licenciamento industrial foram algumas das recomendações deixadas para o Estado e para a administração pública.
Perante o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, e o secretário de Estado João Neves, a porta-voz desafiou ainda as empresas a ganhar dimensão e robustez financeira, a apostar na terciarização ou a "pensar estrategicamente o negócio tendo em conta a digitalização e a filosofia indústria 4.0". Aprofundar a ligação às universidades e criar um "hub" de reciclagem têxtil e para a rastreabilidade dos produtos foram, por outro lado, dicas deixadas aos centros de competências do setor.
O documento apresentado durante o fórum "Regenerar o setor, ganhar o futuro", que acontece durante esta tarde no auditório do CITEVE, aponta também para sete "priorioridades estratégicas" para esta indústria: capitalização, diferenciação, sustentabilidade, digitalização, cooperação na cadeia de valor, capacitação dos recursos humanos e internacionalização.
Apoios para superar efeitos da pandemia
Representando 19% do emprego da indústria transformadora e quase 10% das exportações nacionais, a atividade da ITV portuguesa está sobretudo concentrada na região norte (87%) e apresentou uma "dinâmica de crescimento" quase durante uma década, a partir de 2009. Depois de nove anos consecutivos a crescer, até atingir um novo máximo de vendas ao exterior, as exportações encolheram 1% em 2019 e voltaram a recuar 11% em 2020, totalizando 4.643 milhões de euros.
Neste último ano, que ficou marcado pela pandemia de covid-19, o têxtil foi "assolado por crise sem precedentes" que fez o setor perder 14% da faturação e 4% dos postos de trabalho em 2020. Mário Jorge Machado, presidente da ATP, descreve "uma das indústrias mais penalizadas" pelo coronavírus, com efeitos ao nível da disrupção nas cadeias de fornecimento e, por via dos confinamentos, com um travão no consumo e na procura que teve "impacto imediato na produção e em toda a cadeia".
Após 15 meses desafiantes, que exigiriam um "esforço extraordinário" às empresas do setor num "contexto de navegação à vista, marcado por uma enorme incerteza e volatilidade", o mais recente inquérito realizado pela ATP mostrou que a maioria dos associados (44%) considera que só em 2022 – e sobretudo no segundo semestre – é que a atividade regressará a níveis semelhantes ao pré-pandemia.
Com os dois membros do Governo na plateia, Mário Jorge Machado resumiu que é "essencial estender as medidas de apoio, pelo menos, até ao final do corrente ano", assim como "ter um prazo mais alargado para a liquidação de moratórias e linhas de crédito". No inquérito, as empresas reivindicam ainda mais linhas de apoio ao investimento e à tesouraria, suporte à capitalização, uma redução de impostos, mais flexibilidade na legislação laboral ou apoios à formação e à contratação.