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Preços pedidos pelas casas disparam 28% num ano
Embora as vendas fechem, em regra, com valores inferiores ao anunciado, a tendência de subida de preços é notória. Por vezes, “demasiado”. A falta de oferta é uma das justificações num mercado que parece não ter aprendido as “lições” do passado.
Os portugueses estão a pedir mais dinheiro na hora de colocar as suas casas à venda. Mais 28%, concretamente. A evolução é traçada pelos dados da plataforma Idealista, que segue a evolução trimestral dos preços dos imóveis à venda no país. Em cadeia, o ritmo de crescimento está acima dos 6%.
A partir deles, o Negócios fez uma comparação homóloga. A conclusão: cada metro quadrado para venda custa mais 316 euros, em média, a nível nacional. No primeiro trimestre de 2017, o indicador estava nos 1.442 euros.
O Alentejo é a única região onde os preços estão em quebra. Já as regiões de Lisboa, Algarve e Madeira surgem como as mais caras. Numa análise onde os Açores ficam de fora por falta de dados, o Centro assume-se como a região mais barata.
Os próprios bancos estão a avaliar com mais força as casas, mostram os dados do INE. Em Fevereiro deste ano, a variação homóloga atingiu um recorde: 5,7%. Acima da subida média de 3,7% ao longo de 2016, com variações mais fortes depois do Verão.
"No âmbito nacional, o crescimento de preços, situa-se nos 7%. Contudo, referindo preços médios, em determinadas zonas de Lisboa, assistimos a uma evolução positiva entre os 9% e os 10%", traça Frederico Mendoça do departamento residencial da consultora CBRE.
Do anúncio à venda
É certo que o preço de venda está abaixo dos valores anunciados. No último trimestre de 2016, segundo os dados da Confidencial Imobiliário, o preço médio de venda em Portugal era de 1.279 euros por metro quadrado, um desvio de 72 euros face aos dados do Idealista para a mesma altura.
"A concretização do negócio está abaixo dos valores dos anúncios", reforça Luís Lima, presidente da APEMIP, que representa os mediadores imobiliários, sem avançar números. Contudo, admite a existência de evoluções nos preços acima dos 20%.
Sobretudo em zonas nobres de Lisboa – como a Baixa, o Chiado ou o Príncipe Real – ou o triângulo Clérigos-Aliados-Mouzinho da Silveira no Porto, onde os "preços estão a subir demasiado". "Há uma tentativa de subir estes preços. Tenham cuidado com o que estão a pedir", adverte, recordando o período pré-crise. Lima diz não notar um aumento da procura na periferia da cidade de Lisboa mas é nesta região que os dados do Idealista mostram uma maior subida do preço nos anúncios: 43% ou mais 590 euros por metro quadrado, para os 1.959.
Tal prova uma tendência face à falta de oferta no centro da capital, onde já se paga mais 834 euros por metro quadrado, para os 3.549. O investimento estrangeiro e mais alojamento local são dois dos motivos a justificar um movimento centrífugo. Como a oferta para arrendamento também contraiu, aliada à maior disponibilidade da banca no crédito à habitação, há mais famílias a optar por comprar casa em áreas mais periféricas.
O que não invalida que o centro da cidade perca importância. Pelo contrário: mais houvesse disponível e mais se vendia, resume Patrícia Barão, responsável da área residencial da consultora JLL. "Neste momento, precisamos de ter mais oferta. Temos clientes em lista de espera para produtos que ainda não estão no mercado", diz. Mesmo que o preço por metro quadrado possa variar entre os 4.500 e os 9.000 euros para o segmento médio-alto.
"Há ainda outro factor relevante: os investidores vêem cada vez mais o imobiliário como um sector ‘refúgio’. Ao contrário das aplicações financeiras e bolsistas que são sempre mais inseguras e voláteis", explica Miguel Poisson, director-geral da Era.
Luís Lima descarta uma eventual bolha imobiliária mas não acha que "sejam sustentáveis os preços pedidos", como 5.000 euros por metro quadrado no Porto, exemplifica. Para que o imobiliário continue a ter uma "segunda oportunidade", é preciso lembrar ensinamentos: inflacionar é meio caminho para acabar a "vender ao desbarato". "Não se aprendeu a lição", lamenta.
Mais construção
Onde está a solução para equilibrar preços e satisfazer a procura? Na construção nova. "Há aí uma grande oportunidade. Temos alertado os promotores", diz Patrícia Barão. Ao que presidente da APEMIP enaltece: "Começa a existir escassez de oferta. Precisamos urgentemente, para o bem de todos, de construção".
Para a associação, a grande lacuna está nos centros urbanos "que necessitam não só de construção nova mas também de uma nova dinâmica de reabilitação urbana", daí que a chegada ao terreno de apoios seja encarada como uma prioridade.