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EDP faz aumento de capital de mil milhões para comprar espanhola Viesgo
A EDP vai emitir 309.143.297 novas ações para financiar a aquisição de ativos da Viesgo, numa operação avaliada em 2 mil milhões de euros. O aumento de capital será feito com um desconto de 23%.
A EDP anunciou hoje, em comunicado à CMVM, que chegou a acordo para comprar ativos da espanhola Viesgo por 2 mil milhões de euros e que para financiar a operação vai avançar com um aumento de capital de mil milhões de euros. Esta é a primeira ação de grande destaque que é executada pela elétrica desde que o antigo gestor financeiro, Miguel Stilwell d'Andrade, assumiu os comandos da empresa.
A E-Redes, a subsidiária da EDP para distribuição de eletricidade em Espanha, vai juntar-se a duas subsidiárias de distribuição de eletricidade da Viesgo, a Viesgo Distribution e a Begasa, para passarem a ser geridas, maioritariamente, pela EDP. A elétrica portuguesa terá uma participação de 75,1% e a Macquarie Infrastructure and Real Assets (Europe) Limited (em conjunto com os seus fundos, "MIRA") torna-se dona dos restantes 24,9% do capital.
Outra das condições deste negócio é que a EDP Renováveis vai adquirir a totalidade do negócio de energias renováveis da Viesgo. Isto significa que a subsidiária de energias da EDP, na qual a elétrica controla 82,6% do capital, arrecada 24 parques eólicos e duas centrais mini-hídricas localizadas em Espanha e Portugal, com capacidade instalada líquida total acima de 500 MW, em troca de 565 milhões de euros.
Por fim, a EDP fica ainda com duas centrais de geração térmica da Viesgo no sul de Espanha, "que potencialmente irão incorporar direito aos pontos de ligação à rede", assim que outras centrais sejam desativadas em 2021, prevê a elétrica. A EDP havia anunciado, no dia anterior, que pretende acelerar o encerramento de três centrais a carvão que possui na Península Ibérica: a de Sines, a de Aboño e a de Soto Ribera 3.
Esta operação representa para a EDP um investimento líquido de 900 milhões de euros, sendo que a empresa portuguesa vai também assumir a dívida de 1,1 mil milhões da companhia espanhola. Desta forma a operação tem um valor de 2 mil milhões de euros para a empresa portuguesa, o que representa um dos maiores negócios realizados pela EDP nos últimos anos.
Este negócio avalia a Viesgo em 2,7 mil milhões de euros, sendo que os restantes 700 milhões de euros serão investidos pela MIRA, que continua acionista da Viesgo.
"Após a conclusão da transacção, a EDP consolidará integralmente a Viesgo e terá representação maioritária no conselho de administração, com direito a nomear o Chairman, o CEO e o CFO", refere o comunicado da EDP.
Ações emitidas no aumento de capital com desconto de 23%
Para financiar esta operação a EDP avança com um aumento de capital de 1,02 mil milhões de euros, através da emissão de 309.143.297 novas ações, a 3,30 euros cada uma.
O preço do aumento de capital representa um desconto de 23% do preço teórico ex-direitos com base na cotação de fecho das ações da EDP na Euronext no dia 15 de Julho de 2020. Tendo em conta a cotação de fecho de 4,37 euros, o desconto é de 24,4%.
A EDP adianta que as novas ações a emitir representam 8,45% do capital da elétrica e que os acionistas vão ter direito de preferência, pelo que os direitos vão ser transacionados em bolsa para os acionistas que não pretendem participar na operação os possam alienar. Quem não é acionista pode participar na operação através da compra destes direitos, que podem depois ser exercidos no aumento de capital.
A elétrica acrescenta que a subscrição está totalmente garantida e que o aumento de capital foi hoje aprovado "por unanimidade pelo Conselho de Administração Executivo".
Aumento de capital inédito e não necessita de AG
A elétrica acrescenta que a subscrição está totalmente garantida e que o aumento de capital foi hoje aprovado "por unanimidade pelo Conselho de Administração Executivo".
Este vai ser o segundo aumento de capital que a EDP vai efetuar desde que está cotada, depois de ter emitido ações no valor de 1,2 mil milhões de euros em 2004 também para comprar uma empresa espanhola, a Hidrocantábrico. Agora não necessita de convocar uma assembleia geral para o efeito uma vez que a autorização já foi dada pelos acionistas na AG realizada este ano.
Habitualmente a EDP financia as suas aquisições com recurso a dívida e aos encaixes com operações de venda, mas desta vez optou por emitir ações para não afetar a "desalavancagem contínua" da companhia. Assim, segundo a EDP, o negócio vai ter "um impacto neutro nas suas métricas de crédito", o que vai proporcionar "o reforço do perfil de baixo risco e o fortalecimento do balanço de forma a permitir um crescimento sustentável no contexto da transição energética".
No primeiro trimestre deste ano a dívida líquida da EDP situava-se em 12,7 mil milhões de euros, o valor mais baixo desde 2007 e que representa uma descida de 8% face ao período homólogo.
A estratégia por detrás da operação
Para a EDP, esta operação faz sentido uma vez que significa um aumento do peso das redes de eletricidade e renováveis no portefólio, "atividades chave para a transição energética, com perspetivas de forte crescimento a longo-prazo". As atuaiss operações de distribuição de electricidade em Espanha da EDP vão crescer para o dobro, tendo em conta as licenças perpétuas com visibilidade regulatória total até 2025.
No campo das renováveis, a elétrica sai com posição reforçada enquanto líder mundial neste segmento e diz ter espaço para reforçar o compromisso com investimentos em Portugal e no restante portefólio, lê-se na comunicação.
A atividade dentro de redes reguladas também ganha um maior peso, o que resulta num "fortalecimento do perfil de baixo risco da EDP".
Apesar do esforço financeiro, a elétrica garante ainda que vai manter "métricas de crédito e balanço sólidos" e que vai acrescentar "valor de longo-prazo para os acionistas, tanto na perspetiva de crescimento do resultado por ação como dos fluxos de caixa".
Os novos "pilares" da EDP
A MIRA, que segura esta compra com a EDP, faz parte da Macquarie Asset Management, o braço do Grupo Macquarie ao nível da gestão de activos. A 31 de Março de 2020, a MIRA geria aproximadamente 124 mil milhões de euros em ativos "que são essenciais para o desenvolvimento sustentável de economias e comunidades".
A Viesgo é uma empresa que tem como base do seu negócio a geração e distribuição de electricidade. Possui quase 700.000 clientes no norte de Espanha e uma produção de cerca de 1.400 MW. No país vizinho, a Viesgo é o quarto maior distribuidor de electricidade, com uma base de activos regulados de aproximadamente mil milhões de euros a 31 de Dezembro de 2019 e uma rede de distribuição com 31.300 quilómetros de extensão ao longo do norte do país.