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Da banca à aviação. O que esperam as empresas do Brexit?

De uma forma geral, o clima empresarial é de insatisfação quanto à saída do Reino Unido da União Europeia. Os empresários dizem respeitar a vontade popular. Por agora, as coisas vão manter-se iguais. Mas é preciso sentarem-se à mesa.

Reuters
24 de Junho de 2016 às 14:01
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Clarificação. É a palavra-chave para os empresários que confrontam agora um novo cenário: a saída do Reino Unido da União Europeia após o referendo desta quinta-feira, 23 de Junho.

Desagrado, abrandamento da actividade económica e redução de investimentos são dadas como certas para um período onde faltam "garantias".


Os empresários dizem-se disponíveis para trabalhar com o governo britânico na definição das relações comerciais com a União Europeia a partir de agora. E adaptar-se a este novo cenário.


 

Automóvel e saúde

As primeiras preocupações chegaram do lado asiático, uma vez que várias empresas têm fábricas no Reino Unido com intenções de exportar para a restante União Europeia. As japonesas Toyota e Nissan já tinham alertado para os efeitos de um Brexit: desinvestimento e deslocação de instalações para outras cidades europeias.

A Rolls-Royce assegura que irá manter o seu "compromisso" com o Reino Unido, onde tem sede há mais de um século. O impacto desta decisão deverá ser reduzido, até porque a maioria da actividade da empresa é feita fora do espaço comunitário.

Uma análise da Evercore ISI refere que o Brexit irá representar, no sector automóvel, uma redução das receitas em oito mil milhões de euros, reduzir vendas em 14% e reduzir a produção europeia em 2,5%.


Outro foco de preocupação vem de grupos farmacêuticos, como a Astrazeneca. A regulação europeia facilitava o acesso ao mercado único através da Agência Europeia de Medicamentos, a qual, sediada em Londres, poderá ter de mudar de sítio.

A Astrazeneca acredita que a continuação na União Europeia seria o melhor caminho, mas respeita a decisão. A farmacêutica diz que vai fazer todos os esforços para "salvaguardar a competitividade da indústria".

Já a GSK reconhece que a decisão cria "incerteza e complexidade" no futuro e descarta impactos negativos para a sua actividade actualmente.


A Confederação da Indústria Britânica já tinha estimado que o voto no Brexit poderia representar menos 550 a 950 mil postos de trabalho até 2020.



Aviação e turismo

Uma das certezas é de que o Brexit irá abrandar a actividade turística, com a desvalorização da libra a ditar os preços dos bilhetes aéreos em sentido inverso.

A IAG, dona da British Airways e da Iberia, acredita que a decisão desta sexta-feira não vai afectar o negócio a longo prazo. Contudo, a curto prazo, o grupo de aviação diz já ter alterado mudanças nas dinâmicas comerciais e revisto os seus indicadores para este ano.


Já a Easyjet já fez saber que quer continuar a fazer parte do mercado da aviação civil da União Europeia. "Escrevemos hoje ao governo do Reino Unido e à União Europeia para pedir-lhes para darem prioridade à continuação do Reino Unido como parte do mercado único da União Europeia, dada a sua importância para o comércio e consumidores", anunciou a CEO Carolyn McCall.


Também a Ryanair, defensora do Remain, já alertou para alterações no fluxo aéreo: Dublin poderá passar a funcionar como porta de entrada na Europa em vez de Londres.

A Ryanair não ofereceu "os maiores saldos de sempre" – como prometeu fazer em caso de "Remain" – mas não deixou de aproveitar a decisão em termos comerciais.

A companhia "low cost" tem uma campanha com um milhão de voos a 9,99 euros/libras para escapadelas de Outono. "Time to leave the UK", pergunta ironicamente a companhia "low cost".


A fabricante aeronáutica Airbus informou que vai rever a sua estratégia de investimento no Reino Unido, numa tentativa de minimizar os "danos económicos" deste "golpe" que foi a votação para a saída da União Europeia.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) prevê que o número de passageiros aéreos britânicos poderá cair entre 3 a 5% até 2020 na sequência do referendo que escolheu o Brexit.



Banca

O Banco de Inglaterra já garantiu uma injecção de liquidez no sistema financeiro no valor de 250 mil milhões de libras (309 mil milhões de euros).

As primeiras reacções das instituições bancárias foram no sentido de acalmar os clientes, até porque a operação se mantém como até agora.


O Barclays e o Lloyds Bank já asseguraram que não haverá, para já, alterações no seu modelo de funcionamento. Contudo, admitem que poderão existir mudanças após estarem clarificados os contornos do Brexit.


Por sua vez, o Santander diz que está no Reino Unido para ficar. "O nosso compromisso com os negócios, os clientes e os nossos colaboradores britânicos continua tão forte como sempre", garantiu Ana Botín, líder do grupo espanhol.


O Financial Times escreve que o Morgan Stanley poderá mudar-se e o HSBC deslocar cerca de mil postos de trabalho para França. A BBC conretiza que já arrancou uma mudança de dois mil trabalhadores no Morgan Stanley para Dublin e Frankfurt. O JP Morgan irá manter a sua presença no Reino Unido mas estará a estudar a mudança de actividades para outro país europeu, escreve a imprensa britânica.

Enquanto o Goldman Sachs fala em "adaptação à mudança", o Deutsche Bank vai mais longe. "Nesta fase, não conseguimos ver claramente as consequências, mas não há dúvida de que serão negativas para ambos os lados", diz o banco alemão. Já o BNP Paribas destacou a "exposição reduzida" ao Reino Unido, que representa 6% das obrigações do banco.

Por sua vez, o Citi diz que "se tem vindo a preparar para este cenário há vários meses, estando bem posicionados para continuar a apoiar" os seus clientes "neste período de incerteza".


Na área dos cartões de crédito, American Express e MasterCard descartam qualquer impacto desta votação no seu negócio.

 



Energia

A Oil & Gas UK, que representa o sector energético britânico, espera uma "transição tão suave quanto possível" após o Brexit e diz-se disposta a trabalhar para uma definição desta nova fase.

Relembrando a conjectura difícil que o sector atravessa – com a quebra nos preços do petróleo – também a Royal Dutch Shell (que tinha apoiado a permanência do Reino Unido na União Europeia) se diz disponível para trabalhar com o governo britânico e instituições europeias sobre as eventuais implicações do Brexit.


Já a EDF (Electricité de France) assegura que esta votação não vai afectar a sua estratégia quanto ao Reino Unido. Em frente segue a construção de uma central nuclear avaliada em 18 mil milhões de libras naquele território. No mesmo sentido segue a BP.


Agricultura e retalho

A associação que representa os agricultores britânicos defende a urgência de um "compromisso" para assegurar que o sector não ficará em risco após esta votação.

Por sua vez, o consórcio que representa o retalho britânico explica que uma "queda prolongada no valor da libra terá impacto sobre os custos de importação" e nos preços aos consumidores.


Contrariamente ao que se esperava, a marca de luxo Burberry não foi tao afectada na negociação em bolsa, devido às expectativas de que a libra fraca vá acentuar as vendas de casacos e outros produtos de moda.

Também a indústria da moda se mostra preocupada, embora ainda não seja possível calcular o impacto desta decisão. O British Fashion Council, que representa a indústria têxtil britânica, mostra-se "triste" com estes desenvolvimentos.

 



Telecomunicações

Ainda é "cedo" para saber o que significa o Brexit na actividade da Vodafone. A empresa de telecomunicações tem a sua sede fiscal no Reino Unido.

Com esta votação, a Telefónica está a ponderar adiar a entrada em bolsa da Telxius, empresa que engloba as infra-estruturas da espanhola, e da O2, operadora britânica detida pelo grupo espanhol.


Segundo a Bloomberg, a operadora espanhola tinha planos de anunciar a oferta pública inicial (IPO na sigla em inglês) na próxima semana.

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