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Sonae "repudia" especular preços e diz que prova está na margem de lucro de 2,7% do Continente

"A inflação alimentar não está a ser criada pela distribuição", insiste a Sonae, apontando para a margem de lucro do Continente que foi de 2,7 cêntimos por cada euro faturado. Grupo liderado por Cláudia Azevedo alerta que fixar preços pode vir a esvaziar prateleiras.

José Gageiro
16 de Março de 2023 às 13:42
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A Sonae "repudia" as acusações de que "está a especular" os preços em prejuízo dos consumidores, garantindo que "suportou parte da pressão inflacionista à custa da sua própria rentabilidade", o que levou à erosão da margem de lucro da rede de hipermercados Continente para 2,7%.

"As nossas margens desceram para darmos resposta às famílias portuguesas", afirmou a CEO do grupo, Cláudia Azevedo (na foto), na abertura da conferência de imprensa de apresentação dos resultados de 2022, sinalizando que essa tem sido, aliás, a postura, que descreve como "responsável", de todos os intervenientes da cadeia de valor, desde a produção à indústria transformadora até à distribuição.

"Toda a gente está a reduzir a sua margem", disse a empresária, sublinhando que uma inflação alimentar acima de 20% "é um assunto muito sério" que merece atenção por parte do Governo.

Numa altura em que os holofotes têm estado voltados para os lucros da grande distribuição no sentido de perceber se são a causa da escalada dos preços dos bens alimentares a Sonae aproveitou para rejeitar acusações "sem aderência na realidade".

"A inflação alimentar não está a ser criada pela distribuição. Repudiamos estar a especular para prejudicar os consumidores", afirmou o administrador financeiro da Sonae, João Dolores, apontando que, em Portugal, como no resto do mundo, o retalho alimentar é uma indústria de escala e que, portanto, vive de volumes elevados e margens reduzidas e que, portanto, é falsa a ideia de que tem margens altíssimas que têm subido à boleia da inflação.

João Dolores sustentou que as causas da inflação "estão bem identificadas" resultando de "um contexto muito adverso para os produtores" face à "enorme pressão de custos", desde a energia (gás e eletricidade), aos fertilizantes até aos cereais e sementes, "matérias-primas muito importantes", agravada por quebras na produção, relacionadas com "causas naturais", tanto na agricultura como na pecuária. "É algo com que os produtores sofrem no dia-a-dia e que se traduz inevitavelmente em aumentos dos produtos que depois nós compramos para vender nas nossas lojas, mas "toda a cadeia de valor tem suportado parte dos custos" que "não estão a ser totalmente refletidos nos preços". "Todos temos tentado acomodá-los de modo a passar o menos possível para o consumidor final", frisou.

O facto da inflação alimentar ser três vezes superior à geral quando há custos de fatores de produção, como os preços da energia, por exemplo, que influem em praticamente todos os produtos, a diminuir, foi uma das razões que esteve na origem do lançamento da campanha de fiscalização da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) à grande distribuição, atualmente em curso, pensada para apurar a fonte da escalada de preços dos bens alimentares em contraciclo com os demais.

João Dolores diz que a explicação é simples: "hoje vendemos um produto cujos custos foram integrados há mais de um ano". O administrador financeiro da Sonae deu o exemplo de colheitas que estão a ser processadas agora com fertilizantes comprados há um ano, mas também o caso dos contratos de energia que foram fixados na altura e que vigoram nos dias de hoje sob outra conjuntura.

O mesmo responsável quis também "desmistificar" os números que têm vindo a público de que os supermercados estão a obter margens brutas de até 50% em bens alimentares essenciais, dado que esse valor resulta da diferença entre o preço de venda ao cliente e o pago ao fornecedor, sem descontar salários, rendas, impostos, juros e custos, desde segurança, logística ou limpeza, elencou.

Defendendo que "é importante que estes factos sejam conhecidos para que se fale com base em factos e não em ideias pré-concebidas", João Dolores fez uma apresentação detalhada das contas do Continente, cujo lucro líquido diminuiu para 2,7%, com o aumento generalizado dos custos operacionais. À luz dos dados facultados na conferência de imprensa, as vendas cresceram 9,9% em 2022, mas a subida dos restantes itens foi superior. A título de exemplo, os custos com pessoal cresceram 9,9%, com mercadorias 10,6%, com impostos 21,2% e com a energia 45,6%.

"A inflação preocupa muito. Tem efeitos em todos os agentes económicos, mas sobretudo para as famílias portuguesas", disse João Dolores, notando já efeitos nos padrões de consumo. "Sentimos os clientes a consumirem menos e muita pressão nos orçamentos das famílias" que  já vinha detrás e se agravou agora com a inflação.


Fixar preços pode esvaziar prateleiras

Uma das possibilidades que estará a ser estudada pelo Governo para resolver a atual crise inflacionária nos bens alimentares passa por fixar tectos máximos, algo que, adverte a CEO da Sonae, pode ter efeitos nefastos. "Este é um mercado aberto e mundial (...). pelo que tentar fixar preços dá sempre mau resultado". Um produtor português que tem de remunerar os seus fatores de produção não vai querer vender a uma cadeia portuguesa com preços fixos, vai vender lá fora. E um produtor internacional também não vai vender em Portugal com margens tão baixa, portanto, eu acho que o resultado final de uma política destas é as prateleiras vazias, e isso ninguém quer".

"O facto de os preços subirem não quer dizer que haja mais lucros - pelo contrário", argumentou, insistindo que "a cadeia alimentar não é culpada" pela elevada inflação alimentar e considerando "um pouco estranha" a "procura desenfreada por culpados", em detrimento de soluções. Aliás, "se tivesse que procurar algum culpado, seria, talvez, o presidente da Rússia, ou a China, ou a seca", disse.

Claúdia Azevedo escusou-se, no entanto, a avançar com propostas concretas para a atual crise, por entender que "não lhe compete", mas deixou claro que "há várias coisas que podem ser feitas" pelo Governo que passam desde logo por ajudar as famílias e os produtores, assim como por "avaliar onde vai aplicar o excesso de IVA".


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