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Lucros da Sonae crescem 27,7% para 342 milhões graças a mais-valias extraordinárias

Descontando as mais-valias extraordinárias, o resultado líquido recorrente atribuível a acionistas da Sonae caiu 17% para 179 milhões de euros no ano passado. Grupo liderado por Cláudia Azevedo vai propor pagamento de um dividendo de 0,0537 euros por ação.

José Gageiro
16 de Março de 2023 às 07:19
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A Sonae fechou o ano passado com lucros líquidos de 342 milhões de euros, valor que traduz um aumento de 27,7% face a 2021 e que decorre essencialmente do encaixe extraordinário gerado com a venda de ativos.

A alienação da corretora de seguros MDS e da tecnológica Maxive geraram mais-valias de 146 milhões de euros representando o "grosso" dos itens não recorrentes que totalizaram 162 milhões de euros, "limitando a comparabilidade dos resultados", diz o grupo liderado por Cláudia Azevedo, em comunicado enviado, esta quinta-feira, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em que privilegia o resultado líquido recorrente  - que "desconta" esses itens extraordinários - que caiu 17% para 179 milhões de euros no ano passado.

Um resultado "penalizado pelo esforço em estar ao lado das famílias absorvendo parte da inflação, pelo aumento significativo dos custos e pelo resultado indireto de menos 43 milhões de euros, na sequência das imparidades no negócio de retalho de moda, da desvalorização dos ativos da Sierra e do impacto cambial no valor dos ativos da Bright Pixel", especifica, dando conta, aliás, de prejuízos de 10 milhões no quarto trimestre de 2022.

O volume de negócios consolidado superou os 7,7 mil milhões de euros em 2022, fruto de um aumento de 10,9% sustentado pelos "sólidos ganhos de quota de mercado" e pelo "investimento na expansão", nomeadamente através do aumento do parque de lojas dos negócios de retalho. Já as vendas online agregadas registaram uma subida de 17% superando os 700 milhões de euros.

Com efeito, o EBITDA [resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] subjacente registou um desempenho inferior às vendas, crescendo 6% para 635 milhões de euros, indicou a Sonae, sinalizando uma redução da margem operacional de 0,4 pontos percentuais face ao ano anterior para 8,2% que imputa "ao esforço dos negócios de retalho em conterem o impacto da inflação nos preços ao consumidor". Isto num ano em que o investimento agregado em Portugal (do grupo e da NOS) ascendeu a mil milhões de euros, com o consolidado a subir 34% para 634 milhões de euros e o operacional (CAPEX) a crescer 28% para 357 milhões. 
 
Em termos de estrutura de capitais, a Sonae realça a "posição financeira muito sólida", já que o grupo diminuiu a dívida consolidada para 540 milhões de euros, "o valor mais baixo do século", mantendo, no final do ano passado, 1,3 mil milhões de euros de liquidez disponível.


Retalho alimentar perde rentabilidade

Nas contas pesou o desempenho da MC, unidade de retalho alimentar do grupo que integra os hipermercados Continente, cujo resultado líquido caiu 17,8% em 2022 para 179 milhões de euros, valor que traduz uma margem de lucro de 3% no geral e de 2,7% nos formatos alimentares, apontando que "o esforço da MC em suportar parcialmente o aumento dos vários custos para proteger os seus clientes, e o efeito de 'mix' e movimentos de 'trading down' juntamente com a pressão dos custos da energia mais elevados, contribuíram para uma erosão da margem de rentabilidade para 9,4% em 2022".

Segundo a Sonae, o investimento realizado e o reconhecimento desse esforço para conter os impactos da inflação nos clientes conduziu a ganhos de quota de mercado e ao reforço da posição de liderança da MC em Portugal, os quais contribuíram para que o volume de negócios tenha atingido quase 6 mil milhões de euros, um crescimento de 11,5% face ao período homólogo e de 9,6% em termos comparáveis (Like-For-Like)

Já as vendas da Worten, insígnia de retalho de eletrónica, atingiram 1,2 mil milhões de euros, refletindo um aumento de 5,4% face a 2021 e de 3,8% em termos comparáveis, tendo também registado uma redução da margem, ainda que ligeira, face ao ano passado, para 6,2%, ao contabilizar um EBITDA subjacente de 76,2 milhões de euros. No retalho de desporto, com o Iberian Sports Retail Group (ISRG), "joint-venture" que alia a Sonae ao grupo JD e à Sprinter, as vendas totais aumentaram 41% em termos homólogos, ultrapassando 1,2 mil milhões de euros, beneficiando das aquisições realizadas, designadamente da Deporvillage, em 2021.

O braço imobiliário do grupo, por seu turno, teve um desempenho operacional positivo em 2022, devido "à recuperação bem-sucedida da atividade do seu portefólio de centros comerciais, nomeadamente das vendas dos seus lojistas e da estratégia renovada de expansão para novos negócios, setores e geografias", assinala a Sonae, dando conta de um aumento significativo das vendas dos lojistas de 35% face ao período homólogo, ultrapassando os níveis pré-pandemia em 10%, e com taxas de ocupação a crescer para 98% na Europa, e de um reforço dos ativos sob gestão não relacionados com atividades de retalho em 700 milhões para 1,3 mil milhões de euros.

Em face dos resultados, o Conselho de Administração irá propor à Assembleia Geral Anual de Acionistas o pagamento de um dividendo de 0,0537 euros por ação que corresponde a um "dividend yield" de 5,7%, com base na cotação de fecho de 31 de dezembro de 2022 (0,935 euros).

Na mensagem que acompanha a apresentação dos resultados, a CEO da Sonae, Cláudia Azevedo, assinala que foram alcançados "fortes progressos em todos os domínios", apesar dos "desafios externos incomensuráveis" que o grupo enfrentou e que, antecipa, não têm para já fim à vista: "Após dois anos de pandemia, a invasão à Ucrânia, em 2022, trouxe consequências com as quais ainda estamos a lidar e que irão persistir por um longo período de tempo. Durante o ano, a inflação aumentou para níveis que o mundo não havia presenciado neste século, sobretudo devido aos aumentos acentuados nos custos de energia e às perturbações nas cadeias de abastecimento que afetaram toda a economia. O elevado nível de inflação, juntamente com as crescentes taxas de juro colocaram sob pressão o rendimento disponível das famílias e, consequentemente, alteraram os seus padrões de consumo".

A empresária garante, porém, que a Sonae agiu no sentido de mitigar esses efeitos. "Para evitar uma maior sobrecarga nos orçamentos familiares, os nossos negócios de retalho suportaram parte da pressão inflacionista, à custa da sua própria rentabilidade" e prova de que esse esforço foi reconhecido está "no aumento das quotas de mercado de todos os negócios do grupo", aponta, destacando ainda o "nível elevado de investimento" e a criação de mais de 1.200 postos de trabalho ao longo do ano passado.

"2022 foi o último ano do atual mandato do conselho de administração, o qual, enquanto CEO do grupo, enfrentei com um enorme orgulho e sentido de responsabilidade. Os últimos quatro anos foram conturbados e desafiantes. Mas estou orgulhosa do que alcançámos em conjunto". E, embora sinalizando que "há sempre riscos inesperados a surgir no horizonte", Cláudia Azevedo mostra-se "confiante"  de que o grupo estará preparado para os enfrentar.

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