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Imposto do Selo sobre os cartões vai ser pago pelos clientes
A APED, que representa grandes cadeias como o Continente ou Pingo Doce, diz que o sector está a cobrir o Imposto de Selo sobre os pagamentos com cartões. “Quem vai pagar no final do dia é o consumidor”, alerta. A factura anual pode ultrapassar os 6,6 milhões de euros.
O sector do retalho, onde se incluem as grandes cadeias de supermercados, pede ao Governo maior "transparência fiscal" sobre a quem cabe o pagamento do Imposto do Selo nas transacções com cartão.
"Pugnamos por mais transparência fiscal e que quando se desenham medidas fiscais para determinados sectores fique claro quem é o sujeito passivo do imposto e quem o vai pagar", afirma Ana Isabel Trigo Morais, directora geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED).
Em causa está o facto, noticiado esta terça-feira pelo Público, de que a Redunicre passou a cobrar aos comerciantes, em Dezembro passado, o Imposto de Selo de 4% sobre as comissões pagas aos bancos nos pagamentos com cartões.
Assim, segundo o exemplo citado no jornal, constante da carta que a Redunicre enviou aos clientes, num pagamento de 25 euros, é cobrada uma taxa de serviço de 1%, o que dá 25 cêntimos. É sobre este valor que incide o Imposto do Selo (4%), neste caso um cêntimo. O que eleva para 26 cêntimos, no total, o valor a pagar pelo comerciante.
A APED diz que os seus associados – como a Sonae, dona do Continente, e a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, que dominam o retalho alimentar em Portugal – estão a suportar este encargo adicional que entrou em vigor em Março de 2016. A cobrança arrancou em Dezembro porque a Redunicre – a maior rede de aceitação de cartões de pagamento em Portugal – estava a desenvolver o respectivo sistema para implementar esta medida.
"Contestamos que haja mais um imposto travestido de imposto sectorial e seja, na verdade, um imposto sobre o consumo. As nossas empresas associadas estão, mais uma vez, a suportar este novo imposto escondido", diz Trigo Morais.
Já em Fevereiro de 2016, por altura da apresentação do Orçamento do Estado, o Negócios antecipava que, apesar de a taxa incidir sobre a banca – que entrega a receita ao Estado – existia o risco de a taxa ser repercutida sobre os comerciantes ou até sobre os clientes. Foi isso que aconteceu. "A banca repercutiu para o seu processador de pagamentos, que repercutiu para o cliente. Quem vai pagar no final do dia é o consumidor", reforça a responsável. A APED não tem ainda dados concretos do peso desta contribuição para o sector e assegura que já teve oportunidade de "sensibilizar" o Governo para que a modele.
Por agora, os retalhistas não admitem fixar um limite mínimo nos pagamentos por cartão para fazer face aos custos deste novo imposto.
AHRESP pondera recorrer aos tribunais
A associação que representa a restauração e hotelaria nacionais admite "ir até às últimas instâncias" para "reverter esta situação" que considera estar a prejudicar as empresas já sobrecarregadas de custos de contexto. O organismo está a avaliar a legalidade da situação, admitindo que a lei em vigor pode ter "várias interpretações".
"Não nos passa pela cabeça, muito pelo contrário, que sejam as nossas empresas a suportar um imposto que foi devidamente esclarecido no Orçamento do Estado", aponta Pedro Carvalho.
O responsável considera que a banca está a "descartar" responsabilidades, já que é esta quem tem interesse económico na operação. "Temos um custo. Quem tem o interesse económico é a Redunicre", posiciona ao Negócios.
A Unicre, que detém a Redunicre, não tardou a reagir à notícia do Público e aos comerciantes. A empresa com cerca de 80 mil terminais de pagamento no país assegurou esta terça-feira, 10 de Janeiro, que se limita a cumprir a lei. Segundo a alteração legislativa de Março de 2016, "a incidência económica do imposto decorrente de operações baseadas em cartão é da responsabilidade dos clientes das instituições financeiras", informou.
Em 2015, as compras através da Redunicre superaram os 16.600 milhões de euros. Tomando esta base, e num cálculo simples e directo, teria sido pago em taxas de serviço 166 milhões de euros nesse ano. Depois, e aplicando sobre esse valor o Imposto de Selo de 4%, as empresas com contrato com a Redunicre teriam que ter pago um total de 6,64 milhões de euros de contribuição.