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Gant promete voltar a Portugal após resolver falência da Ricon
A marca de vestuário garante que se esforçou para "assegurar a continuidade do negócio e a notoriedade no mercado português", o que contraria a versão do administrador de insolvência, que criticou a "intransigência" dos suecos.
O CEO da Gant, Patrik Nilsson, admite que foi com "grande tristeza" que viu o distribuidor da marca no mercado português "não conseguir dar continuidade à parceria" que englobava a rede de cerca de 20 lojas no país, encerradas nas últimas semanas, mas que se estendia também ao fornecimento industrial através de várias sociedades do grupo Ricon.
"Sabemos que os nossos clientes têm sido afectados, mas é nossa intenção voltar a estar perto deles assim que todas as questões legais relacionadas com esta situação estejam ultrapassadas", prometeu o gestor máximo da sociedade (Gant AB) com sede em Estocolmo, na Suécia, que detém esta marca de roupa de origem americana e que está à venda em 70 países.
No processo da Delveste, a empresa do grupo que detinha a operação de retalho e despediu cerca de 200 pessoas, o total de créditos atinge os 32,4 milhões de euros, com o Santander a reclamar 8,2 milhões, a própria Gant 4,7 milhões e a Segurança Social cerca de 60 mil euros. A Gant não esclarece se o prometido regresso a Portugal será feito com lojas próprias – tem 750 em todo o mundo – ou através de retalhistas, como os 4.000 com que trabalha a nível global.
"A GANT AB aguarda pelo desenlace das questões legais relacionadas com a falência do Grupo Ricon/Delveste para determinar uma nova estratégia para o mercado português. A empresa continua a ver um grande potencial no mercado nacional e mantém a ambição de manter o melhor relacionamento com os seus clientes em Portugal", lê-se no comunicado enviado às redacções esta quinta-feira, 8 de Março, no qual Patrik Nilsson agradece ainda "toda a paixão e entrega dos trabalhadores portugueses" e "os esforços que desenvolveram ao longo destes tempos conturbados".
Tentou salvar ou enterrar a Ricon?
Foi nos anos 1980 que a Ricon firmou uma parceria com o grupo internacional Gant, tendo assegurado o exclusivo da distribuição em Portugal – a primeira loja no país surgiu em 1992 – e assumido cada vez mais relevância na lista de fornecedores. Nos últimos anos, esta marca de vestuário pesava mais de 70% no negócio do grupo de Vila Nova de Famalicão, que era liderado por Pedro Silva.
Qual o papel da Gant na falência do grupo têxtil, que atirou perto de 800 pessoas para o desemprego? Há mais de um ano que, perante o atraso dos pagamentos à Ricon, os clientes suecos vinham reduzindo o volume de encomendas ao fornecedor português, que fechou 2016 com uma facturação próxima dos 50 milhões de euros e já dependia daquele gigante mundial para sobreviver. Essa redução abrupta das encomendas "conduziu a insolvente à penúria", segundo o diagnóstico feito pelo administrador de insolvência, Pedro Pidwell.
E desde que as várias empresas do grupo se apresentaram à insolvência, no início de Dezembro de 2017, lê-se no relatório elaborado por este gestor judicial, "a posição da Gant foi intransigente, declinando qualquer hipótese de intervenção no projectado processo de reestruturação do grupo Ricon, rejeitando todos os cenários de reestruturação que lhe foram apresentados, designadamente através da sua entrada directa na operação, através de terceiros investidores e/ou, finalmente, através da reestruturação da dívida existente".
A versão da Gant, porém, parece ser bem diferente. Na nota emitida esta tarde, a Gant assegura que, perante as "sérias dificuldades financeiras" do parceiro de franchise, desenvolveu "esforços (…) ao longo do último ano para assegurar a continuidade do negócio e a notoriedade da marca no mercado português", mas não conseguiu evitar a declaração de falência por parte do distribuidor português, "terminando assim a já longa parceria" que durou 26 anos.
Como o Negócios noticiou esta semana, os grupos Valérius e Sonix, ambos de Barcelos, estão neste momento a disputar os activos industriais e também as centenas de ex-trabalhadores da falida Ricon, tendo já proposto o arrendamento temporário das fábricas com opção de compra. A decisão está agora nas mãos da comissão de credores da insolvente.