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Sonix quer activos da falida Ricon e já contratou 120 ex-trabalhadores
O grupo têxtil de Barcelos assinou contratos com 120 antigos funcionários da Ricon e promete "fazer tudo" para comprar as instalações e as máquinas à massa insolvente, tendo já feito uma "proposta concreta" de arrendamento temporário.
O grupo Sonix está interessado na aquisição dos activos da Ricon Industrial à massa insolvente desta gigante sociedade têxtil de Vila Nova de Famalicão, que entrou em processo de falência no início de 2018 e que atirou perto de 800 trabalhadores para o desemprego.
Em declarações ao Negócios, Samuel Costa, administrador desta exportadora de Barcelos que factura 60 milhões de euros por ano e emprega directamente cerca de 400 pessoas, assume que vai "fazer tudo" para ficar com as máquinas e com o pavilhão industrial localizado na freguesia de Ribeirão, onde quer manter o fabrico de calças e blazers.
Na passada quinta-feira, 1 de Março, já formalizou inclusive junto do Tribunal e do administrador de insolvência, Pedro Pidwell, uma "proposta concreta" de arrendamento temporário das instalações e dos activos da Ricon Industrial, que era a casa-mãe do grupo liderado por Pedro Silva, "assegurando o seu bom funcionamento e conservação, assim como a segurança do edifício".
Sem detalhar os valores propostos para o arrendamento, que insiste ser "uma medida temporária para salvaguardar os postos de trabalho e as boas condições dos materiais, que se podem estragar se estiverem parados", o empresário sublinha que "este projecto irá permitir a diversificação da actividade têxtil e a oferta de um portefólio mais alargado de produtos, assim como alavancar uma nova área de negócio que há muito [pretendia] retomar" na área dos tecidos.
É que quase todos os grandes clientes internacionais a quem já vende produtos de malha – como o grupo PVH, que detém marcas como a Calvin Klein ou a Tommy Hilfiger – também têm a "necessidade transversal" de comprar artigos em tecido. E muitos acabavam por pedir à empresa têxtil barcelense, iniciada há 34 anos por Conceição Dias, para lhes indicar outros possíveis fornecedores portugueses nesta categoria.
Detendo actualmente as unidades industriais Sonix (tinturaria e produto acabado), DiasTêxtil (confecção produto acabado) e Modelmalhas (tecelagem), instaladas no concelho de Barcelos, este grupo que apresenta uma estrutura de produção vertical já tinha tentado arrancar há três anos com um projecto na área de tecidos, num modelo de subcontratação. Porém, precisamente por falta de capacidade de produção própria, acabou por suspendê-lo após fazer as primeiras entregas.
"Queríamos controlar o processo produtivo, tal como fazemos nas restantes áreas de actuação, para garantir os níveis de serviço a que habituámos os nossos clientes. (…) Com o surgimento desta infeliz notícia [da falência da Ricon] vimos uma oportunidade para retomar o nosso projecto de tecidos", concretiza Samuel Costa.
Assegurado o "coração" produtivo
Com o objectivo de arrancar de imediato com este novo projecto no município vizinho, o grupo Sonix antecipou-se à concorrência e, também no final da semana passada, assinou contratos de trabalho com 120 funcionários que tinham sido despedidos do grupo Ricon. E que são encarados como uma espécie de garantia, pois este lote de contratações "assegura desde já o ‘coração’ da empresa [em termos produtivos], chefias e respectivas equipas".
"Foi muito gratificante vermos a motivação e adesão em massa das pessoas ao nosso projecto, que irá permitir potenciar qualificações e manter vivo o ‘know-how’ destes colaboradores num sector com escassez de mão-de-obra especializada. Tudo faremos para recolocar estas pessoas nos seus antigos postos de trabalho e queremos que voltem o mais breve possível", resume o gestor, que há um ano falou sobre o negócio das malhas no programa "Campeões Nacionais", emitido pelo Porto Canal.
Questionado sobre as condições remuneratórias oferecidas a este grupo de trabalhadores, Samuel Costa responde apenas que foram rubricados contratos de trabalho com os mesmos pressupostos salariais praticados nas restantes empresas do grupo Sonix, assegurando que este pacote compensatório é superior ao que esses trabalhadores recebiam antes na Ricon, que era um dos maiores empregadores têxteis do Vale do Ave.
Na sequência da falência das várias empresas do universo Ricon, que se apresentaram à insolvência em Dezembro de 2017 com dívidas superiores a 33 milhões de euros, o director-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) tinha dado ao Negócios a "certeza absoluta que uma boa parte, se não for a esmagadora maioria [dos trabalhadores], vai encontrar rapidamente emprego". "Mesmo ali à volta há um conjunto de empresas que estão a precisar de costureiras e de outros profissionais com competências muito semelhantes", concretizou.
Enquanto aguarda por uma resposta do administrador de insolvência à proposta de arrendamento temporário – "queremos entrar o quanto antes nas instalações, com as nossas equipas, com as pessoas que já contratámos", frisa –, Samuel Costa promete que esta foi apenas a primeira fase de contratação para a nova unidade do grupo, esperando "num curto prazo estar em condições de alargar este quadro de colaboradores".
Têxtil e vestuário bateu recorde de exportações em 2017
A indústria portuguesa de têxtil e vestuário aumentou 4% as exportações em 2017, para um total de 5.237 milhões de euros, quebrando o anterior recorde absoluto de vendas no estrangeiro (5.073 mil milhões), que tinha sido fixado em 2001. Espanha manteve a liderança do ranking dos melhores mercados externos, valendo 34% do total, embora tenha baixado ligeiramente (-0,6% ou dez milhões de euros) as compras a Portugal. França e Alemanha, que completam o pódio, reforçaram as suas posições relativas, registando agora quotas de 12% e 9%, respectivamente. Em termos sectoriais, o maior contributo para este oitavo aumento anual consecutivo foi dado pelas matérias têxteis, que cresceram 10% face ao período homólogo, enquanto as exportações de vestuário e de têxteis-lar registaram subidas de 3% e 1%, respectivamente. O saldo da balança comercial neste sector em que as empresas estão sobretudo concentradas nos distritos de Braga e do Porto – valem em conjunto mais de 80% da facturação – ascendeu a 1.098 milhões de euros, com uma taxa de cobertura de 127%.