"Comunicado do CEO: Plano do BES para o futuro". É neste documento que o presidente da comissão executiva do BES, Vítor Bento, admite que é necessário reforçar o capital da instituição financeira, depois de reportado um prejuízo semestral de 3.557 milhões de euros. Assim, há um plano de capitalização a caminho, que será acompanhado de um plano de reestruturação.

Como foi referido no documento de apresentação de resultados, o BES não cumpriu o mínimo regulamentar de rácio de capital, "daí a necessidade de se aumentar o capital do banco". O rácio "common equity tier 1", que mede a solidez financeira do banco relacionando-o com o risco dos activos, ficou em 5% no final de Junho, quando o mínimo que o Banco de Portugal exige é de 7%.

Assim, o banco rebentou a almofada de capital que tinha (a almofada é a diferença entre o mínimo exigido e o que o banco pode perder sem descer dos mínimos) e ficou, até, com insuficiência de capital. Logo, o BES precisa de reforçar o capital para voltar a cumprir o mínimo exigido. Mas Vítor Bento escreve que não se pode ficar apenas pelos mínimos: "Este plano de capitalização deverá, desejavelmente, contemplar uma almofada de precaução".

Actuais e novos interessados em aumento de capital "imediato"

Tal como o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, tem reiterado nas últimas semanas, há interessados em injectar dinheiro no BES. Tanto actuais accionistas como outros investidores. "Nas últimas semanas, o banco tem assistido a manifestações de interesse de actuais e potenciais accionistas em participar no plano de capitalização, alguns expressando mesmo interesse em tomar participações significativas", indica o comunicado. A informação avançada por Bento foi transmitida pelo Deutsche Bank, que foi contratado como consultor financeiro.

"Será desencadeado de imediato um processo visando aumentar o capital do banco, devendo para o efeito ser convocada uma assembleia-geral para reunir dentro do prazo em que seja razoável concretizar tal aumento", assinala também o documento que pretende delinear o futuro do banco. O comunicado refere que a auditoria que o Banco de Portugal vai fazer ao BES "vai facilitar e abreviar o processo de avaliação que os investidores normalmente requerem num processo de aumento de capital, reforçando a confiança no banco".

No documento, não é referida qualquer intenção de recorrer à linha de capitalização que a troika (Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu) dedicou à banca. Dos 12 mil milhões de euros iniciais, estão ainda disponíveis 6,4 mil milhões de euros.

Activos para alienar

Além do plano de capitalização, há um plano de reestruturação no futuro próximo do BES. Um plano estratégico que visa "a sua adequação à nova realidade do negócio bancário, nomeadamente em Portugal".

Uma reestruturação que, de acordo com o comunicado, passará por uma "avaliação exaustiva dos activos que seja possível alienar, nomeadamente, mas não só, dos associados a algumas presenças internacionais que não sejam estratégicas". Não são enumerados quais os activos mas a participação de 10% na PT é um dos que poderá ser alienado.

"Em suma, apesar de serem tempos difíceis para os ‘stakeholders’ [todos os que estão à volta do banco desde accionistas, clientes a obrigacionistas], estamos totalmente focados em empreender os passos necessários para obter a viabilidade e rentabilidade do BES reafirmando-o como uma referência no futuro", conclui Vítor Bento. 

Antes de fazer esta indicação sobre o futuro, Bento fez uma referência ao que aconteceu no passado no banco - tal como já tinha sido inscrito no documento de apresentação de resultados: "os resultados parece[m] indiciar a existência de eventuais violações de normas legais". "Tais indícios irão ser devidamente investigados e, se for o caso, comunicados às autoridades competentes para os fins legalmente previstos".

(Notícia actualizada pela última vez às 22h58 com mais informações)