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Tomás Correia recusa necessidade de reestruturação no Montepio pedida por Félix Morgado

Tomás Correia não fala dos processos judiciais em que está envolvido. À Sábado, o líder da mutualista do Montepio critica o facto de nunca ter sido ouvido sobre o pedido de empresa em reestruturação feita por Félix Morgado na caixa económica.

Bruno Simão
19 de Janeiro de 2017 às 16:32
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António Tomás Correia é o presidente da mutualista do Montepio, que detém toda a caixa económica com o mesmo nome. Esta última, que foi por si liderada até 2015 quando foi substituído por José Félix Morgado, tem estado em reestruturação, motivo pelo qual pediu o reconhecimento desse estatuto ao Governo. O objectivo é para que possa rescindir com mais pessoal do que os números legalmente previstos e, mesmo assim, esses trabalhadores poderem ter acesso ao subsídio de desemprego. Tomás Correia não concorda com o pedido. 

Na entrevista à Sábado publicada esta quinta-feira 19 de Janeiro, Tomás Correia confirma o que já havia sido noticiado: não gostou da postura de Félix Morgado.

"Não", Félix Morgado não o informou sobre aquele pedido ao Ministério do Trabalho. Devia? "Acho que sim". "A associação mutualista nunca foi ouvida", repetiu Tomás Correia, a não ser quando foi chamado a explicar-se.

 

"Nunca considerei, nem considero que houvesse uma necessidade de reestruturação nos termos que tem sido noticiado", declarou Tomás Correia à revista. Aliás, sobre este tema, o presidente da mutualista do Montepio falou nos vários tempos verbais: "Não é uma empresa em reestruturação". "Nunca foi". "Não há razão de o ser".

 

Em causa está o fecho de balcões e a redução de pessoal. Nos primeiros nove meses de 2016, a caixa do Montepio fechou 90 balcões e rescindiu com cerca de 250 trabalhadores. 
 

As palavras de Tomás Correia, recusando a reestruturação, vão contra aquilo que José Félix Morgado disse, em Novembro, sobre o tema, quando usou, precisamente, a palavra reestruturação. O pedido de reconhecimento de empresa em reestruturação "não tem nada a ver com novos despedimentos, nem com despedimentos nenhuns. Tem a ver com o plano de reestruturação da empresa que foi feito até Junho, só que há um número de trabalhadores que poderia cair fora da quota [atribuída a cada empresa para rescisões amigáveis com direito a subsídio de desemprego] e, para que ninguém seja prejudicado, foi feito este pedido de reestruturação. É assim que as empresas que são responsáveis procedem e foi o que fizemos", declarou, citado pela Lusa.

 

Mutualista não tem de pôr mais dinheiro no Montepio

 

Apesar desta defesa, Tomás Correia não foi optimista em relação à evolução da caixa económica. "O presidente da caixa económica [Félix Morgado] disse que 2017 seria o ano do regresso aos lucros. Vai ser assim?", perguntou a Sábado. "Ele também já tinha dito isso relativamente a 2016", respondeu o líder da mutualista.

 

Na entrevista, as injecções de dinheiro da mutualista na caixa económica também foram comentadas. "Não vislumbramos necessidades de outros aportes de capital. É o que temos vindo a confirmar com o conselho de administração executivo. O problema não se coloca", afiançou Tomás Correia, acrescentando que estas injecções somam 700 milhões de euros desde 2010, justificando o facto com a necessidade de fazer face às exigências de regulação. A caixa está a transformar-se em sociedade anónima, o que faz com que o seu capital seja representado por acções o que, no futuro, poderá abrir portas à entrada a privadas, sempre com posições minoritárias. A mutualista já disse que essa hipótese está, para já, descartada. 

 

Aliás, sobre regulação também Tomás Correia respondeu na entrevista. O novo Código das Associações Mutualistas, que está há dois anos na gaveta, ainda não foi publicado. Tomás Correia atira para o Ministério das Finanças e retira culpas do Ministério da Segurança Social, que é quem tem a supervisão das mutualistas.

 

"O Código Mutualista teria sido publicado há muito tempo se não fosse uma interferência sistemática por parte das Finanças no sentido de introduzir coisas perfeitamente incompatíveis com a natureza desta instituição, regras que nem sequer vão ser aplicadas de imediato nos seguros, vão ter um prazo de 16 anos", declarou. Ainda no Governo anterior, o Negócios deu conta da diferença de opiniões entre os então ministros Maria Luís Albuquerque e Pedro Mota Soares. O Código que estava a ser preparado iria passar a supervisão da mutualista para o regulador dos seguros, a ASF. 

"Absolutamente tranquilo" com processos da PGR e BdP

 

Tomás Correia escusou-se a comentar os casos judiciais e administrativos em que está envolvido, nomeadamente a constituição enquanto arguido num processo da Procuradoria-Geral da República que liga o BES e o Montepio e terrenos da Amadora, ainda que tenha assegurado que os "procedimentos nessas matérias sempre foram muito rigorosos".

 

O Banco de Portugal criticou num processo contra-ordenacional os procedimentos de combate ao branqueamento de capitais do Montepio: "Essa acusação não tem o mínimo de fundamento".

 

Nos dois casos, Tomás Correia assume-se "absolutamente tranquilo" e sem "o mínimo de preocupação".

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