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“Mais um dia de vergonha” para os bancos britânicos
Em plena crise financeira, o Royal Bank of Scotland foi alvo de um dos maiores resgates bancários. O Estado injectou na instituição 45,5 mil milhões de libras e ficou com a maioria do capital. Cinco anos passados, o banco assume o seu envolvimento no escândalo de manipulação da Libor e “envergonha” a City londrina. Não foi o único. A reputação do centro financeiro foi severamente abalada. O Governo quer justiça e responsabilidade.
“Hoje foi mais um dia de vergonha para os bancos britânicos”, afirmou o secretário de Estado do Tesouro, Greg Clark, após ser conhecida a decisão de multar o Royal Bank of Scotland em 612 milhões de dólares por envolvimento no escândalo de manipulação da taxa Libor.
O Royal Bank of Scotland, detido pelo Estado desde 2008, é o segundo banco britânico (e o terceiro europeu) a ser multado no âmbito deste caso. O primeiro foi o centenário Barclays, que, em Junho de 2012, pagou uma multa de 290 milhões de libras após ter chegado a acordo com as autoridades norte-americanas e britânicas e ter admitido o seu envolvimento no caso.
O escândalo forçou o presidente-executivo e o chairman a abandonarem o cargo. Mais recentemente foi a vez do suíço UBS admitir o seu envolvimento na manipulação da taxa Libor. A multa ascendeu a 1,5 mil milhões de dólares.
A confirmação de que o Royal Bank of Scotland esteve envolvido neste caso é mais um duro golpe na – já manchada - reputação da City londrina. O centro financeiro de Londres tem sido varrido por inúmeros escândalos financeiros, que envolveram instituições como o Barclays, o Standard Chartered (acusado de quebrar as sanções financeiras contra o Irão) e o HSBC (acusado de estar envolvido em operações de lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de droga, e até mesmo de grupos terroristas).
Desde que estes casos foram tornados públicos, que a City tem sido tem sido alvo de duras críticas. Estas chegaram não só da opinião pública e dos movimentos Occupy London mas também do Governo e do banco central.
A 2 de Janeiro de 2012, na sua mensagem de Ano Novo ao país, o primeiro-ministro David Cameron prometia acabar “com os excessos da City”. Limitar as “excessivas remunerações”. E acabar com “as recompensas pelos erros”.
Seis meses mais tarde, quando foi confirmado o envolvimento do Barclays na manipulação da taxa Libor, outro membro do governo – desta vez o ministro da Finanças, George Osborne – afirmou: “A fraude é um crime num sector ‘normal’. Porque não haveria de ser banca”, admitindo de forma muito clara que o banco tinha cometido fraude.
A paciência dos políticos para com o sistema financeiro começa “a esgotar-se”, escreveu Simon Johnson num artigo de opinião intitulado “A crise de legitimidade do sector financeiro”. E isso foi bem visível com a saída de Bob Diamond do Barclays. “Diamond acreditava no seu discurso – que ele e o seu banco eram cruciais para a prosperidade económica do Reino Unido.” Mentira. Diamond foi forçado a sair do banco que liderou durante um ano e meio. Sem glória.
Conduta inaceitável, diz o ministro das Finanças
Confirmado o envolvimento do Royal Bank of Scotland (banco que o Estado resgatou em 2008 através da injecção de 45,5 mil milhões de libras) no caso Libor, o Governo não perdeu tempo e não poupou nas críticas à instituição.
George Osborne classificou a conduta do banco como de “totalmente inaceitável”. “O banco deve sentir a força da lei”, disse o ministro das Finanças, acrescentando que a multa será paga com os salários e bónus dos gestores e não com o dinheiro dos contribuintes.
Já o secretário de Estado das Finanças Greg Clark (na foto) garantiu que “não há desculpas” para o comportamento do Royal Bank of Scotland. “Terá que haver justiça e uma importante reforma” no sector, disse Clark, acrescentando que hoje foi mais um dia de vergonha para os bancos britânicos.
O secretário de Estado das Finanças mostrou-se satisfeito com o abandono do director da banca de investimento, John Hourican, afirmando “que as responsabilidades devem ser assumidas pela gestão de topo” do banco.
A confirmação de que o Barclays, o UBS e o Royal Bank of Scotland estiveram envolvidos no caso de manipulação da taxa de Libor não encerra este escândalo. As investigações levadas a cabo pelas autoridades norte-americanas, britânicas e japonesas indicam que muitos outros bancos podem estar envolvidos.
O Departamento da Justiça dos Estados Unidos já garantiu que a investigação “está longe de estar terminada”, enquanto o regulador do mercado japonês afirmou que o envolvimento do Royal Bank of Scotland continua a ser investigado.