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Crónica de um escândalo que ameaça devastar a City
O primeiro a demitir-se foi o "chairman", Marcus Agius, na segunda-feira. Seguiu-se o CEO, Bob Diamond. Que não quis cair sozinho. Durante a tarde divulgou um email onde se percebe que membros do anterior governo e o vice-presidente do Banco de Inglaterra incentivam a manipulação das taxas.
O primeiro a demitir-se foi o "chairman" , Marcus Agius, na segunda-feira. Seguiu-se o CEO, Bob Diamond. Que não quis cair sozinho. Durante a tarde divulgou um email onde se percebe que membros do anterior governo e o vice-presidente do Banco de Inglaterra incentivam a manipulação das taxas. Onde para o escândalo que está abalar a City?
A mensagem foi enviada para o então CEO do banco, John Varley, a 29 de Outubro de 2008, o período mais negro da crise financeira. Por essa altura a desconfiança dos bancos leva-os a fechar a torneira do crédito a outros bancos ou a exigir taxas mais altas. É o caso do Barclays e de outras grandes instituições. Para não passar para o mercado uma imagem de fragilidade, os bancos que participam na formação da taxa Libor começam a mentir, dizendo que continuam a manter o acesso a juros baixos. Depois das primeiras instituições financeiras terem sido resgatadas, os bancos estavam sob forte pressão para evitarem ficar sob a alçado do Estado.
Tal como a Euribor, a Libor é a taxa média a que os bancos emprestam dinheiro em vários prazos, que vão de um dia a um ano. Divulgada pela British Bankers Association, a partir da informação de até 18 bancos, que parte das suas estimativas sobre quanto lhes custaria pedir emprestado em diferentes moedas, como libras, dólares, euros ou ienes. A sua maior importância vem do facto de ser a taxa de referência mais usada em todo o mundo, em produtos financeiros no valor de cerca de 360 biliões de dólares.
O que explica que os bancos tenham caído na tentação de manipular a taxa também para obter ganhos em transacções financeiras. Não se sabe a dimensão do ganho obtido.
Banco de Inglaterra envolvido
São estes os alegados crimes que estão a ser alvo de investigação pelos reguladores, abrangendo uma dúzia de bancos. O Barclays já aceitou pagar uma multa recorde de 290 milhões de libras por um acordo com os reguladores britânicos e americanos. O que não evitou a queda da administração do banco. E ameaça agora as instituições do país.
A missiva divulgada por Bob Diamond, publicada ontem pela imprensa britânica, faz eco de uma conversa com o então director de mercados do Banco de Inglaterra, actual vice-governador, Paul Tucker. O responsável terá dito que estava a ser questionado pelo governo Trabalhista sobre a razão porque o Barclays aparecia sempre como estando a pagar as taxas mais altas. E termina com Tucker a dar a entender que o banco não tinha de aparecer sempre entre os que tinham de suportar o custo mais alto.
O caso promete não ficar por aqui. Foi já iniciado um inquérito parlamentar e as investigações dos reguladores estão ainda longe do fim. As primeiras notícias sobre o processo surgiram em Março de 2011, num artigo do "Wall Street Journal" onde se mencionava que o Citigroup, o Bank of America e o UBS estavam na mira das autoridades. Este último recebeu entretanto imunidade parcial nos EUA, Suíça e Canadá por colaborar na investigação. Neste último país, o HSBC, RBS, Deutsche Bank, JP Morgan e ICAP foram acusados de conluio para manipular a taxa do iéne. O caso está também a ser investigado no Japão, onde vários bancos foram proibidos de negociar estas taxas.