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Durão Barroso avisa que UE deve preparar-se para a guerra

O ex-presidente da Comissão Europeia falava em Lisboa numa sessão dedicada aos desafios da União Europeia (UE), no primeiro de três dias de Seminário Diplomático.

Durão Barroso
06 de Janeiro de 2025 às 22:56
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O antigo presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso disse esta segunda-feira duvidar de uma "solução definitiva de paz" que termine o conflito na Ucrânia e defendeu que a União Europeia tem de estar preparada para a guerra.

"Não acredito, e digo-o com muita pena, que num futuro previsível haja qualquer hipótese de uma paz consolidada, estável, uma arquitetura de defesa e de segurança consolidada, estável, credível, na Europa, que haja uma verdadeira reconciliação entre a Rússia de [Vladimir] Putin e a Ucrânia democrática que temos hoje", disse hoje Durão Barroso, intervindo em Lisboa na sessão de alto nível, dedicada aos desafios da União Europeia (UE), no primeiro de três dias de Seminário Diplomático.

Para o antigo presidente da Comissão Europeia (2001-2011), "não haverá essa hipótese". "Poderá haver, e seria melhor que houvesse do que nada, uma separação de forças, uma trégua, um cessar-fogo, mas parece-me pouco provável, para não dizer quase impossível, uma solução definitiva de paz", comentou.

A "consequência imediata" é, sustentou, que a Europa "deve continuar a reforçar a sua própria Defesa" e comece a "dar os primeiros passos" para constituir "uma verdadeira política de Defesa europeia".

A Europa, continuou, "está a abandonar a sua adolescência geopolítica e a tornar-se uma entidade política adulta e não o será se não avançar na integração da política externa e da política de Defesa".

"Temos, embora não o desejemos, de estar preparados para a guerra. (…) Hoje, se não queremos uma guerra generalizada, temos o dever de apoiar a Ucrânia para evitar quaisquer tentações de guerras que toquem em países da UE ou da NATO", defendeu.

O também antigo primeiro-ministro português considerou "excessiva" a promessa do Presidente eleito norte-americano, Donald Trump, de que acabará "em 24 horas" com a guerra na Ucrânia, decorrente da invasão russa em fevereiro de 2022.

"Os grandes poderes conseguem fazer a guerra, mas impor a paz é muito mais difícil. (…) É uma visão errada pensar que a paz depende apenas das grandes potências", considerou.

Mas, ressalvou Durão Barroso, este anúncio de Trump "é uma oportunidade, que não deve ser desperdiçada, (…) nem que seja para uma trégua ou cessar-fogo".

Depois de argumentar que a UE "precisa normalmente de uma crise para avançar, porque aí é que os líderes políticos se convencem que é preciso tornar possível o que é necessário", considerou que a eleição do ex-presidente norte-americano Trump, que tomará posse no dia 20, pode ser "aquele choque de realidade" de que os 27 precisam.

Sobre o futuro da UE, Durão Barroso apelou aos Estados-membros para que "não falem em revisão dos tratados".

"O Tratado de Lisboa vai demorar muito tempo", vaticinou.

Antes desta sessão, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, abriu o Seminário Diplomático, que ocorre, disse, "no momento de maior complexidade, incerteza e imprevisibilidade depois da Segunda Guerra Mundial, e quando todos esperam que essa complexidade e incerteza possam reduzir-se e moderar-se a breve trecho, de preferência nos idos de janeiro, de fevereiro ou até de março".

"A grande incógnita é saber se existe e subsiste um sistema internacional. Sem esse sistema, será difícil reduzir a complexidade e, portanto, atenuar a incerteza e a imprevisibilidade", considerou.

Rangel reiterou as cinco prioridades da diplomacia portuguesa - atlantismo, europeísmo, lusofonia, diáspora e multilateralismo - e questionou: "Como afirmar estes eixos na voragem das mudanças tectónicas que está a sofrer a comunidade internacional? Como pode Portugal subsistir, ser válido e ser útil nos tempos novos que se adivinham?".

A "possível resposta", adiantou, é o que chamou de "multilateralismo bilateralizado", correspondendo a "um relançamento da diplomacia bilateral e a um reforço substancial das missões bilaterais, mas com um escopo multilateral".

"Há que aprender com aquilo que julgo que talvez devesse ter sido a nossa experiência de integração europeia: não pode haver uma boa diplomacia multilateral sem uma forte diplomacia bilateral", sustentou Rangel.

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