Notícia
Faria de Oliveira: "Jorge Tomé é que sabia da operação La Seda"
O antigo presidente da CGD garante que quem tinha o conhecimento total da entrada da Caixa no capital da La Seda e a vinda do projeto Artlant para Portugal era Jorge Tomé.
Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) e antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), garante que a entrada do banco público no capital da La Seda Barcelona e no projeto da fábrica de Sines era do conhecimento de Jorge Tomé e não seu. Sobre o porquê de este projeto ter sido "acelerado" pela Caixa, o gestor atira para o Governo do PS.
"O conhecimento total da operação da La Seda era dele [Jorge Tomé] e não meu. Tinha acabado de regressar de Madrid e estava muito longe de conhecer os contornos de como tinha sido feita a participação da CGD e o objetivo fundamental que levou a essa decisão", afirma Faria de Oliveira na comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD, esta segunda-feira, 17 de junho. Na sua audição, Jorge Tomé afirmou que o investimento da CGD na La Seda "não fazia sentido nenhum".
Já enquanto responsável máximo pela operação da CGD em Espanha, Faria de Oliveira diz ter sabido por Santos Ferreira que a "CGD ia fazer um investimento na La Seda" e nada mais.
"Jorge Tomé relatou-me a situação sobre o projeto La Seda e Sines. Relatou-me que o presidente do grupo Matos Gil estava descontente com a orientação que estava a ser levada a cabo na La Seda naquele momento e que achava que devia haver uma alteração da administração da La Seda, para uma composição mais profissional". Mais tarde "vim a saber que algures em janeiro houve uma reunião de Matos Gil com o presidente da La Seda" na qual o empresário disse a Rafael Español que "seria bom que saísse e que houvesse uma recomposição da administração da La Seda".
Nessa reunião, continua o presidente da APB, foi criada a expectativa de que o presidente da La Seda aceitava sair. Foi então que um conjunto de acionistas espanhóis fez saber que não aceitava e entregou uma queixa na CMVM dizendo que os acionistas portugueses queriam controlar o grupo e lançar uma OPA sobre a La Seda. Os desentendimentos começaram neste momento. "Não podia aceitar que a CGD tivesse de fazer uma OPA, em conjunto com a Imatosgil, sobre a La Seda".
As questões foram colocadas por João Paulo Correia, com o deputado do PS a relembrar que Matos Gil deu a entender na sua audição que Faria de Oliveira teria tido mais influência naquilo que foi o envolvimento da CGD na La Seda do que aquilo que tinha sido transmitido pelo presidente da APB.
De acordo com o empresário, Faria de Oliveira seria defensor de "não se entrar em conflito com aquela região" de Espanha, a Catalunha, e que "era importante não fazer muitas ondas". Isto numa reunião que se realizou a 13 de março de 2008, à qual Matos Gil foi a convite da CGD. "Essa é uma narrativa completamente fora da realidade", afirma o presidente da APB, dizendo "não se lembrar dos termos utilizados na reunião com Matos Gil".
Para o gestor, o mais importante era "evitar que a Caixa tivesse de fazer uma OPA sobre a La Seda", notando que o regulador acabou por dar razão ao banco estatal.
O presidente da APB é o primeiro a regressar à CPI depois de já ter respondido às questões dos deputados a 3 de maio. O gestor foi novamente chamado para explicar declarações que foram depois contrariadas por outras personalidades que foram entretanto ouvidas pelos deputados.