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Matos Gil nega ter apresentado projeto Artlant ao Governo
Manuel Matos Gil, implicado na auditoria da EY através do projeto Artlant, garante que o projeto para a fábrica de Sines foi apresentado por um grupo turco ao Governo português e não pela sua empresa Imatosgil, que foi acionista da La Seda Barcelona.
Manuel Matos Gil nega ter apresentado o projeto para a construção de uma fábrica em Sines ao Governo, liderado na altura por José Sócrates. A Artlant, como ficou conhecida a unidade, foi apresentada, garante, pelo grupo turco Sabanci ao Executivo português.
"A origem do denominado projeto Mega-PTA [fábrica de Sines] data de janeiro de 2006", começa por afirmar Manuel Matos Gil, da Imatosgil (IMG), que foi uma das acionistas da La Seda Barcelona, na comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos.
"Outra das falsidades apregoadas é que teria sido eu próprio a apresentar esse projeto ao Governo português", refere Matos Gil, explicando que "essa apresentação foi feita pelo grupo turco Sabanci, através de uma empresa designada Advansa", da qual "resultou a celebração de um memorando de entendimento entre esta empresa e a agência portuguesa para o investimento".
Segundo o gestor, "no texto previa-se, nomeadamente, que o projeto em causa envolveria um investimento de 350 milhões de euros e que a unidade a instalar deveria ter uma capacidade de produção anual de 700.000 toneladas de PTA".
"Sucede que, poucos meses passados – em julho de 2006 – a La Seda anunciou que havia chegado a acordo para a aquisição das unidades industriais da Advansa", continua, acrescentando que "foi esse facto que esteve na base da constituição, em setembro seguinte, da empresa Artlant (à época designada Artenius Sines), cujo conselho de administração integrei".
De acordo com a auditoria da EY à gestão do banco estatal entre 2000 e 2015, o projeto Artlant, que mereceu o selo de projeto de Potencial Interesse Nacional (PIN), é considerado como um dos mais ruinosos para a Caixa, com as perdas para o banco público a superarem os 200 milhões de euros.
"Queria deixar bem claro que não foi a IMG, nem fui eu próprio, a solicitar à CGD o seu envolvimento neste processo", refere ainda o gestor aos deputados.
Visão estratégica "inconciliável" com a CGD
Na mesma audição, Manuel Matos Gil explicou ainda que o "acentuar das divergências e das suspeitas da IMG quanto ao modo como a La Seda era gerida levou-me a recusar participar no lançamento da ‘primeira pedra’ da fábrica de Sines, que teve lugar a 13 de março de 2008".
E que apenas aceitou estar presente na cerimónia, na qual o então primeiro-ministro José Sócrates lançou o projeto, "depois de ter solicitado à CGD uma reunião urgente para discutir a situação da La Seda".
Foi nessa reunião, explica, e nos contactos posteriores, que se "tornou evidente que a IMG e a administração da CGD tinham visões estratégicas inconciliáveis quanto à La Seda e à Artlant".
Foi então que a IMG decidiu alienar as ações próprias que detinha da La Seda e informar o presidente da empresa petroquímica catalã da sua "indisponibilidade para continuar", renunciando ao cargo em maio de 2009. "Esse momento representa, assim, o meu desligamento definitivo de qualquer responsabilidade no projeto Artlant."
A partir daí, "todos os atos de gestão praticados são da responsabilidade dos seus acionistas e, sobretudo, dos seus administradores", refere o gestor, que esclareceu ainda que "não foi a IMG, nem fui eu próprio, a solicitar à CGD o seu envolvimento neste processo".
"Acresce que muitas decisões da CGD ao longo deste percurso, seja relativamente à Artlant, seja em termos mais gerais à La Seda, foram assumidas sem que a IMG delas tivesse (ou tivesse de ter) qualquer conhecimento. E as mais determinantes foram adotadas em momentos em que a IMG já se encontrava desligada do projeto", remata.