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Faria de Oliveira: Berardo era “preocupação constante” na CGD

O presidente da APB, e antigo presidente da CGD, diz que a argumentação de Berardo, de que a Caixa devia ter executado logo as garantias (ações do BCP), "não corresponde à realidade".

Tiago Petinga/Lusa
17 de Junho de 2019 às 12:20
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Fernando Faria de Oliveira, antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), diz que Joe Berardo era uma "preocupação constante" na administração do banco estatal. E garante que o reforço das garantias junto do empresário madeirense "foi a melhor opção" para a Caixa. A execução das garantias, ou seja, das ações do BCP, não era uma solução possível. 

"As decisões de reestruturação e negociação com o grupo Berardo foram aquelas que tomaram mais tempo e energia do conselho de administração", afirma Faria de Oliveira na comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD. Isto porque, salienta em resposta a Mariana Mortágua, o comendador era uma "preocupação permanente" para a gestão da Caixa.

Questionado pela deputada do Bloco de Esquerda se foi o responsável por negociar o último empréstimo da CGD a Berardo, de 38 milhões de euros, quando já era notória a tendência de queda das ações do BCP, o gestor diz lembrar-se "que falou-se sobre o pedido que tinha sido feito com a parte livre do acordo de 350 milhões, numa altura em que não havia ainda incumprimento", mas "que não nos parecia adequado fazer mais empréstimos a menos que houvesse mais garantias".

"Ficou definido que quem realizaria um contacto devia ser o vice-presidente [Francisco Bandeira], para assegurar que eram dadas mais garantias, designadamente a aval" recomendado pelo departamento de risco. Um aval que Berardo aceitou, na ausência de qualquer avaliação do seu património.

Mariana Mortágua diz não perceber como é que se aceita um aval pessoal sem se avaliar primeiro o património. "Se a CGD tinha já dado o crédito sem aval, que poder negocial tem a Caixa a pedir aval pessoal quando apenas se estava a ir buscar 38 milhões que já estavam previstos", pergunta Faria de Oliveira, notando ser uma questão de "estratégia negocial". O objetivo era dar a entender a Berardo que era preciso um reforço das garantias, diz. Na sua ausência, o banco iria resistir a conceder os 38 milhões. 

Argumentação de Berardo "fora da realidade"

Na sua audição, Joe Berardo acusou a CGD de não ter executado logo as garantias associadas aos empréstimos. Ou seja, as ações do BCP, que acabaram por sofrer uma queda acentuada. 

Para Faria de Oliveira, esta venda não seria viável porque as cotações estavam sob pressão e o volume diário não era suficiente. "Ia causar um problema sistémico", diz o presidente da APB.


Nesse sentido, só havia uma saída possível: o reforço das garantias. "Era uma opção melhor para a Caixa", defende o gestor, considerando que aquilo que Berardo defendeu na sua audição - de que a CGD devia ter vendido os títulos - "não corresponde à realidade".

"A realidade é radicalmente diferente. É evidente que se a CGD tivesse executado as ações tinha provocado uma derrocada total nas instituições em causa" e a CGD perderia tudo o que tinha. Por isso, "a defesa de Berardo é apenas jurídica, não corresponde à realidade".

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