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CGD recebeu ofertas por Vale do Lobo. Se não vendeu, "só pode significar que vai receber valor superior"

A Caixa recebeu, em 2013 e 2014, duas ofertas de fundos internacionais pelos créditos de Vale do Lobo, no valor de 180 milhões e 160 milhões. Rejeitou ambas.

Lusa
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A Caixa Geral de Depósitos (CGD) recebeu, desde 2013, várias ofertas por Vale do Lobo. Duas foram rejeitadas pelo banco público, uma acabou por não se concretizar por falta de capacidade financeira da entidade interessada. Mas se, até agora, ainda não se desfez da exposição que tem a este projeto, isso significa que a instituição acredita que irá receber um valor superior aos que já foram oferecidos, o mais elevado dos quais de 180 milhões de euros. É esta, pelo menos, a convicção de Diogo Gaspar Ferreira, antigo presidente executivo do resort de Vale do Lobo, empreendimento turístico que gerou perdas de quase 300 milhões de euros para a Caixa.

"Se a Caixa não vendeu os seus créditos, isso só pode significar que vai receber por eles um valor superior ao que lhe foi oferecido", afirmou Diogo Gaspar Ferreira, que está a ser ouvido, esta quinta-feira, 9 de maio, na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da CGD e à gestão do banco.

O ex-administrador do resort dedicou a intervenção inicial a descrever o processo de financiamento a Vale do Lobo, desde a concessão inicial, em 2006, até ao momento em que o projeto turístico entrou em incumprimento, em 2010, o que acabou por levar a Caixa a abrir um processo de venda dos créditos que detinha, em 2014.

A história, conforme contada por Diogo Gaspar Ferreira, começa em 2006, quando os acionistas de Vale do Lobo começam a contactar vários bancos para financiar o projeto. A Caixa "foi o banco que demonstrou o maior interesse", impondo, no entanto, várias condições para avançar com a operação. Desde logo, exigiu "garantias reais de valor superior a 130%" do montante do crédito concedido (um empréstimo de 170 milhões, a que acresceram suprimentos de 50 milhões). A garantia concedida, recorda Diogo Gaspar Ferreira, foi de 145% do valor do empréstimo e dos suprimentos.

Ao mesmo tempo, exigiu ter uma participação no capital do resort, que acabou por ser concretizada através do fundo Wolfpart, bem como um aval pessoal por parte de todos os investidores. Vale do Lobo estava ainda obrigado a atribuir à Caixa 35% do produto de todas as vendas imobiliárias que fossem feitas no empreendimento turístico, enquanto os acionistas estavam impedidos de receber qualquer dividendo até que 50% da dívida ao banco estatal estivesse amortizada.

"O objetivo seria liquidar a totalidade da dívida até dez anos. Até ao final de 2009, Vale do Lobo conseguiu cumprir este acordo", resume o responsável.

Foi a partir deste ano, com a chegada da crise financeira, que Vale do Lobo entrou em incumprimento. "A partir de 2009, o mercado imobiliário colapsou, sobretudo devido às quebras nos mercados britânico e irlandês. Entre 2011 e 2014, obtiveos receitas de vendas de 11 milhões de euros, o que representa uma média de 3 milhões por ano. Comparando com as vendas que eram feitas antes de 2010, houve uma baixa de vendas de 90%", detalha Diogo Gaspar Ferreira, sublinhando que, dos 30 resorts então existentes em Portugal, só dois sobreviveram à crise, por terem investidores com capacidade financeira: Tróia e Quinta do Lago.

A partir de 2010, e face à evolução do mercado, Vale do Lobo só poderia sobreviver, na ótica de Diogo Gaspar Ferreira, se implementasse uma de várias medidas. A primeira seria a renegociação dos termos da dívida, com a redução de custos e o alargamento dos prazos de reembolso. "A Caixa não só não aceitou reduzir custos como passou a cobrar juros de mora". Outra das soluções seria um aumento de capital, mas "os acionistas de Vale do Lobo manifestaram indisponibilidade" para esta operação.

Foi então iniciado um processo de redução de custos de 50%, "que permitiria resultados positivos a partir de 2014, mesmo sem qualquer venda".

Seja como for, a partir do incumprimento, os acionistas "iniciaram a procura de novos investidores", uma tarefa que se tornou "mais difícil" a partir de 2011. "Mais de cem fundos internacionais foram contactados.

É nesta altura que começam a surgir ofertas pelos créditos de Vale do Lobo. "Em 2013, a Caixa recebeu uma proposta de um reputado fundo de investimento britânico, no valor de 180 milhões de euros. A Caixa decidiu não aceitar a proposta", lembra Diogo Gaspar Ferreira. Em 2014, "decidiu abrir um processo formal de venda, tendo sido escolhida uma empresa que veio a revelar não ter capacidade para comprar o projeto".

Em 2017, diz o responsável, chega nova proposta ao banco, desta vez no valor de 160 milhões de euros, por parte de outro fundo internacional. A Caixa também recusou esta proposta.

Foi só em janeiro de 2018 que a Caixa vendeu os créditos que tinha sobre o resort, bem como a participação acionista que detinha, a um fundo de reestruturação gerido pela ECS Capital (fundada por António de Sousa, antigo presidente executivo da Caixa). Contudo, não deixou de estar exposta a este empreendimento, ainda que indiretamente. Atualmente, o banco detém mais de 36% do Flit-PTREL, fundo que controla Vale do Lobo.

"Apesar de tudo o que se disse de Vale do Lobo, só se consiguirá aferir as perdas e a racionalidade de não venda a qualquer um dos fundos no momento em que a Caixa se decidir pela sua efetiva alienação. Se a caixa não vendeu os seus créditos, isso só pode significar que vai receber por eles um valor superior ao que foi oferecido", concluiu Diogo Gaspar Ferreira.

Vale do Lobo pagou 100 milhões à Caixa

Mesmo com a situação de ruptura verificada a partir de 2010, Vale do Lobo pagou, entre 2007 e 2017, 100 milhões de euros à Caixa, montante que corresponde ao valor dos juros que teriam vencido ao final de dez após a concessão inicial, com uma taxa de 5%, considerada "excessiva face à realidade do mercado".

Diogo Gaspar Ferreira mostrou-se ainda convicto de que o resultado negativo da operação de Vale do Lobo "foi uma consequência direta de uma situação imprevisível única na histórica económica, que afetou transversalmente o mercado imobiliário em Portugal e no resto do mundo". Mas as decisões em torno deste processo, acredita, "não foram incorretas".

Notícia atualizada às 18h31 com mais informação.
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