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Campos e Cunha reafirma que foi pressionado por Sócrates para demitir na CGD
"Sabemos que atacar o mensageiro quando não se gosta da mensagem é um expediente bem conhecido", diz Campos e Cunha numa carta enviada à comissão de inquérito à CGD.
O antigo ministro das Finanças Luís Campos e Cunha mantém que foi pressionado pelo seu primeiro-ministro, José Sócrates, a demitir o presidente de então da Caixa Geral de Depósitos, Vítor Martins. Não o fez e uma das razões para a demissão foi essa pressão. A primeira afirmação nesse sentido por parte de Campos e Cunha foi feita a 5 de Janeiro e a informação é reforçada, agora, quase um mês depois.
"Reafirmo todas as minhas declarações proferidas no dia 5 de Janeiro". Esta é uma frase que consta de uma carta datada de 2 de Fevereiro, a que o Negócios teve acesso, e dirigida a José Matos Correia, o presidente do inquérito parlamentar que se debruça sobre a CGD, pedindo para ser distribuída pelos restantes deputados.
Campos e Cunha enviou a missiva, noticiada inicialmente pelo Observador, depois de reacções ao seu depoimento de Janeiro na comissão parlamentar de inquérito. O ex-governante afirmou que, quando esteve no Governo entre Março e Julho de 2005, José Sócrates insistiu na demissão de Vítor Martins: "disse-o de forma reiterada, insistente e crescente", relatou Campos e Cunha. "Estes são os nossos inimigos" foi uma das justificações avançadas para avançar com a demissão por parte do ex-primeiro-ministro, segundo relatou o antigo ministro.
O ex-governante saiu do Governo em Julho de 2005, sem ter promovido alterações na CGD e disse aos deputados que Sócrates tinha já duas sugestões: Carlos Santos Ferreira e Armando Vara. Os dois nomes chegaram à CGD pela mão do substituto de Campos e Cunha no Ministério das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, que demitiu Vítor Martins.
As reacções a Campos e Cunha
"As declarações, comunicados e entrevistas em reacção às minhas declarações na comissão de inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos são para mim muito surpreendentes, mas significativas. Sabemos que atacar o mensageiro quando não se gosta da mensagem é um expediente bem conhecido", indica a carta de Campos e Cunha.
Sócrates, Teixeira dos Santos, Santos Ferreira e Armando Vara colocaram em causa, de alguma forma, as palavras de Campos e Cunha. "Nunca fiz qualquer pressão para demitir a administração daquele banco. Esclareço ainda que a vontade de substituir a referida administração sempre me foi manifestada pelo então ministro das Finanças que, ao contrário do que agora é afirmado, na altura considerava que não estava à altura da missão do banco", disse o antigo primeiro-ministro numa nota enviada à comunicação social a 6 de Janeiro.
Ao jornal i, dez dias depois, Armando Vara afirmou essa mesma ideia, dizendo que Campos e Cunha o tinha chamado "porque queria mexer na Caixa".
"Na altura, desconhecia que houve essas pressões. Pessoalmente estava convencido de que ministro anterior estava interessado em levar a cabo essa mudança", disse, por sua vez, Teixeira dos Santos. "Nunca falei com o primeiro-ministro antes de ser convidado pelo professor Teixeira dos Santos", foi a resposta de Carlos Santos Ferreira.
A defesa de Campos e Cunha veio do presidente da CGD que não foi por si afastado mas sim pelo sucessor Teixeira dos Santos. Segundo Vítor Martins, já em 2005, o ministro confessara ter-se demitido das Finanças devido, em parte, à pressão sentida em relação ao banco público.
Comissão em guerra de audições
"Estarei disponível, como é minha obrigação, para qualquer outro esclarecimento se porventura a comissão assim entender", indica Campos e Cunha.
A comissão parlamentar de inquérito está neste momento com a esquerda e a direita com posições desavindas no que às audições diz respeito.
O PS, o BE e o PCP já não vão aceitar mais audições para além das quatro acordadas: presidente do Tribunal de Contas, Inspector-Geral das Finanças, António Nogueira Leite e Álvaro Nascimento. O PSD e o CDS já fizeram saber que, sendo assim, vão fazer uso do direito de chamar, sem possibilidade de oposição, as dez pessoas a que têm direito.