A Blackrock, uma das maiores gestoras de activos do mundo e uma das mais atingidas pela transmissão de dívida do Novo Banco para o BES "mau", considera que os investidores podem ter medo da dívida portuguesa devido às recentes situações da banca nacional. 

"[Com] o que aconteceu a alguns dos bancos, os investidores amedrontaram-se", comentou o vice-presidente da área de obrigações da Blackrock, Scott Thiel, à Bloomberg TV.

O comentário do responsável da gestora de activos norte-americana não foi feito relativamente à retirada de dívida do Novo Banco mas sim sobre a oscilação das obrigações portuguesas. Mas Scott Thiel liga os dois acontecimentos. 

Segundo dados do terminal da Bloomberg, as taxas de juro pedidas pelos investidores para negociar dívida portuguesa não estavam tão distantes das "yields" solicitadas na transacção de dívida alemã há seis meses - e este é um indicador de desconfiança na dívida portuguesa. O Financial Times também escreve esta segunda-feira que os investidores ainda não perceberam a lógica por detrás da troca de dívida ordenada pelo governador Carlos Costa, pelo que a situação do Novo Banco está a afugentar investidores dos bancos da periferia.

Para a Blackrock, isso deve-se ao que se passou com os bancos. Além da retirada de dívida sénior do Novo Banco (para a sua recapitalização em 1.985 milhões de euros), a banca portuguesa viveu mais uma medida de resolução no final do ano passado – o Banif foi intervencionado, com a injecção de capital e posterior venda da sua actividade ao Santander Totta.

A Blackrock continua sem pronunciar-se sobre o facto de ter sido afectada pela decisão de retirar dívida do Novo Banco, já que, segundo dados da Bloomberg, tinha mais de 200 milhões de euros aplicados em algumas das cinco séries de obrigações seniores transferidas do Novo Banco para o BES "mau", que tem uma situação patrimonial negativa e que dificilmente conseguirá devolveu todo o dinheiro investido.

A Blackrock não tem respondido aos vários contactos feitos pelo Negócios relativamente ao facto de ter sido afectada pela situação do Novo Banco. 
 

Segundo declarou Scott Thiel à Bloomberg, também a situação política em Portugal afectou os mercados de modo "relativamente negativo", o que também poderá justificar a evolução das taxas de juro pedidas na troca de dívida nacional.