Notícia
Juros a dez anos aproximam-se da fasquia de 3%
Os juros implícitos das obrigações portuguesas a dez anos sobem para 2,908%, o valor mais alto desde Julho do ano passado.
Os analistas do Natixis defenderam esta quarta-feira que, "apesar da retirada da incerteza sobre a indigitação do primeiro-ministro ter sido bem recebida no curto prazo, os impactos das políticas seguidas nas finanças públicas podem levar a uma deterioração da confiança dos investidores e da percepção de risco das agências de 'rating'". Recomendaram mesmo a aposta na descida do valor das obrigações portuguesas.
Esta semana também os economistas do Commerzbank fizeram alertas no mesmo sentido. Defenderam que o risco de um corte de "rating" por parte da DBRS aumentou, decisão que complicaria a inclusão da dívida portuguesa no programa de compras do BCE. E anteciparam que a pressão do mercado poderia intensificar-se à medida que se aproximasse a data de 29 de Abril, altura em que a DBRS poderá fazer alterações no "rating" de Portugal.
Prémios de risco aumentam
A maior percepção de risco dos investidores é também visível na cotação dos "credit default swaps", uma espécie de seguros para os detentores de dívida em caso de incumprimento. O preço para segurar dívida portuguesa superou, pela primeira vez desde Julho do ano passado, os 200 pontos base, segundo dados da Bloomberg. No final de 2015 o prémio exigido era de 170 pontos.
Apesar das taxas das dívidas italiana e espanhola também estarem a subir, o aumentou é bem mais expressivo nas obrigações portuguesas, o que se reflecte nos prémios de risco face a esses países. O mercado está a exigir mais 159 pontos base (1,59 pontos percentuais) para deter dívida portuguesa a dez anos do que aos títulos italianos, o diferencial mais elevado em quase dois anos. Em relação a Espanha, o prémio de risco exigido às obrigações nacionais é de 113 pontos base, o valor mais alto desde Fevereiro do ano passado.
Também a diferença face à dívida alemã, que é a referência na zona euro, está a aumentar. No final de 2015, os investidores exigiam um prémio de risco de 188 pontos base. Mas a diferença aumentou agora para 241 pontos base, o maior diferencial desde Julho deste ano.
Apesar do mau desempenho das obrigações do Tesouro em mercado secundário, o Estado conseguiu hoje financiar-se em valores acima do previsto e com juros negativos através de bilhetes do Tesouro a seis e 12 meses. No entanto, estes instrumentos são vistos como tendo menos risco já que têm prazos mais curtos e no passado não foram incluídos em reestruturações de dívida soberana.
E mesmo com a pressão do mercado a aumentar, Portugal já tinha garantido cerca de 20% do montante pretendido para este ano através de obrigações do Tesouro, o principal instrumento de financiamento do Estado. Na semana passada, o Tesouro conseguiu colocar quatro mil milhões de euros numa emissão sindicada de títulos a dez anos.