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BCP com prejuízos de 62 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano

As operações internacionais contribuíram para a melhoria dos resultados do BCP que, ainda assim, permanecem em terreno negativo. O trimestre foi o melhor dos últimos dois anos, diz a administração. Menores imparidades ajudaram.

Miguel Baltazar/Negócios
28 de Julho de 2014 às 17:41
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O Banco Comercial Português (BCP) apresentou um prejuízo semestral de 62,2 milhões de euros. Nos primeiros seis meses de 2013, o resultado líquido tinha sido negativo, na ordem dos 488 milhões de euros. A diferença advém "da tendência de recuperação da rendibilidade em Portugal e do aumento do contributo da actividade internacional".

 

No comunicado em que dá conta dos resultados, o BCP refere que teve um prejuízo de 22 milhões de euros entre Abril e Junho, o "que é o melhor dos últimos 2 anos".

 

O número do segundo trimestre ficou acima da média de 18 milhões de euros de prejuízos estimada por cinco casas de investimento consultadas pela Bloomberg. As três principais unidades portuguesas (BESI, BPI e CaixaBI) apontavam, contudo, para prejuízos trimestrais entre 26 e 36 milhões. 

 

Quatro factores justificam diminuição dos prejuízos

 

O banco enumera quatro razões para a melhoria das contas no primeiro semestre de 2014. Em primeiro lugar, as imparidades de crédito e outras provisões (dinheiro que o banco tem de pôr de lado para eventuais perdas futuras), que caíram 31,4% para 708,4 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano.

 

No segundo ponto, a margem financeira (que resulta da diferença entre juros que remuneram depósitos e juros que pagam em créditos) melhorou tanto em Portugal como nas operações internacionais. A margem financeira alcançou, segundo informa o comunicado, os 496 milhões de euros. O produto financeiro (que, na base, é a receita de uma instituição financeira) cresceu 40,5% para os 1.088,4 milhões de euros. Os custos operacionais desceram 3,2% para os 576,7 milhões.

 

"Os ganhos em operações financeiras relacionadas com a dívida pública portuguesa" correspondem à terceira razão apontada pela administração do BCP para a redução dos prejuízos. A melhoria dos resultados deveu-se, em quarto lugar, à venda das participações de 49% nas unidades de seguradoras do ramo Não-Vida, Ocidental e Médis. 

 

Ajuda estatal continua a pressionar resultados

 
Funcionários e sucursais continuam a cair em Portugal

A 30 de Junho de 2014, o BCP contava com 8.351 colaboradores em Portugal, menos 4,5% do que em igual mês do ano passado. Nas operações internacionais, o número de funcionários ascendeu 0,1% para 10.054. O banco tem um plano de adesões voluntárias à rescisão e, em Setembro, deverá avançar um processo de rescisões amigáveis.

 

Fecharam 57 sucursais do banco em território nacional entre Junho de 2013 e o mesmo mês de 2014, para um total de 740. No resto do mundo, houve um recuo de 0,9% para 730 unidades.

 

Embora seja o melhor trimestre em dois anos, o BCP continua a ter resultados negativos tanto nos últimos três como seis meses. E tal deve-se, em parte, à ajuda estatal recebida em 2012, quando foram injectados 3 mil milhões de euros em títulos de dívida híbridos (os chamados "CoCos") na base dos quais estão taxas de juro bastante onerosas.

 

"A rendibilidade do Millennium bcp permanece influenciada pelos impactos negativos relacionados com os juros associados à emissão de instrumentos financeiros híbridos", que ascendeu a custos semestrais de 130,6 milhões de euros.

 

Aliás, o banco refere que este foi o melhor trimestre dos últimos dois anos, ou seja, desde que os CoCos começaram a prejudicar as suas contas.

 

Portugal com resultados mais favoráveis

 

Nas suas contas semestrais, a actividade em Portugal do BCP continua a prejudicar o grupo, ainda que haja uma melhoria de 404,2 milhões de euros.

 

Nas actividades internacionais, que não incluem a Roménia – que o banco quer alienar a médio prazo –, o resultado líquido subiu 12,8% para 99 milhões de euros, "potenciado pelo aumento da margem financeira no conjunto das geografias". O desempenho com destaque no comunicado é o do banco na Polónia, Angola e Moçambique.

 

Rácios de capital acima do exigido

 

Em termos de capital, o rácio que é utilizado para medir a solidez financeira das instituições financeiras com base no novo regime internacional (o rácio common equity tier 1 pro forma "fully implemented") é de 9%. No final do primeiro trimestre, o número estava em 8,4%. O mínimo exigido é de 7%. Há um período transitório para a implementação dos rácios ("phased-in"), em que os fundos que entram para o seu cálculo não são exactamente iguais. Aqui, o valor ficou em 12,5% em Junho, 60 pontos base (0,6 pontos percentuais) acima do verificado em Março.

 

O aumento de capital de 2.242 milhões de euros, concluído apenas na semana passada, está já inserido no cálculo destes rácios, que comparam os fundos próprios do banco e os riscos ponderados. Estes rácios mostram se o banco tem um nível de capital adequado para uma eventual materialização de riscos. Com a realização desta operação de reforço de capital, que melhorou a sua solidez, o banco pretendeu acelerar o calendário de reembolso da ajuda estatal, de forma, precisamente, a que os CoCos deixem de pesar nos resultados. 

 

 
Rácio de transformação desce mas crédito vencido aumenta

Apesar da “evolução favorável da actividade económica observada ao longo do primeiro semestre de 2014”, a procura por crédito continua a cair, o que o banco atribui à necessidade de as empresas e famílias reduzirem o endividamento. O crédito a clientes bruto (ajustado do facto de a unidade na Roménia e do Millennium bcp Gestão de Activos estarem na rubrica para venda) deslizou 4,4% para 58.261 milhões de euros. Os depósitos subiram 2% para 48.463 milhões de euros.

 

O rácio de crédito total (líquido) sobre depósitos a clientes - chamado rácio de transformação - desceu de 122% para os 115% entre Junho de 2013 e Junho de 2014.

 

Olhando especificamente para a concessão de crédito, o crédito vencido há mais de 90 dias do BCP fixou-se nos 4.289 milhões de euros, cerca de 7,3% do crédito total líquido. Em Junho do ano passado, o rácio era de 6,7%. Há imparidades para riscos de créditos na ordem dos 3.096 milhões de euros (sem contar com Roménia), 73,1% do total do crédito vencido a mais de 90 dias. No final de Junho de 2013, a cobertura ascendia aos 85,4%.

 

 

(Notícia actualizada com mais informações, pela última vez às 19h06)

 

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