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O cérebro que conseguiu a libertação de Carlos Ghosn no Japão
A aposta de Carlos Ghosn numa nova equipa de advogados deu frutos. Graças a um advogado conseguiu a sua libertação sob fiança após mais de 100 dias numa prisão em Tóquio.
Takashi Takano, membro da equipa de elite de defesa chamada depois do ex-presidente do conselho da Nissan Motor e da Renault ter demitido o seu primeiro advogado, convenceu o Tribunal Distrital de Tóquio e o próprio Ghosn a aceitarem os termos da fiança, após duas tentativas malsucedidas.
À boa maneira de Hollywood, disfarçou o seu cliente de trabalhador da construção e levou-o para o seu escritório em Akihabara, o bairro de Tóquio conhecido pela venda de produtos eletrónicos iluminado por luzes de neon.
O advogado, de 62 anos, é um personagem nos círculos legais do Japão, conhecido por ir contra a corrente e estar disposto a assumir casos difíceis, como um que envolveu um assassinato em massa.
Junichiro Hironaka, o rosto público da equipa de defesa de Ghosn, disse que nem mesmo ele sabia da "brincadeira" de quinta-feira, e atribuiu tudo a Takano.
"Fiquei surpreso quando soube", disse Hironaka, cujo apelido é "A Navalha" e também é um advogado famoso. "Eu achei engraçado e bom. Ouvi dizer que ele se divertiu com isso."
Se a libertação sensacional de Ghosn servir de indicação, a saga que fascina o Japão provavelmente continuará com muita ação, porque a sua equipa está a preparar um contra-ataque às acusações de falsificação de registos financeiros e de abuso de confiança. É uma abordagem mais agressiva que se acredita que se for bem sucedido os colocará no raro grupo de menos de 1% dos réus que venceram o sistema legal.
Os promotores japoneses acusam Ghosn de má conduta financeira. O gestor nega qualquer irregularidade e argumenta que as acusações resultam de uma conspiração dentro da Nissan para bloquear seu plano de fusão com a fabricante de veículos Renault, sua maior acionista.
Quando Takano começou a trabalhar, em menos de 48 horas o terceiro pedido de fiança de Ghosn para que fosse libertado foi concedido, a apelação do promotor foi rejeitada e mil milhões de ienes (cerca de 8 milhões de euros) de fiança foram pagos. "Sou grato a Takano-san", disse Hironaka. "Ele é especialista em fianças e tem todo o know-how."
Takano não esteva disponível para comentar, mas explicou num post no seu blogue que só tentou garantir que Ghosn não seria seguido até ao local onde vai morar ou assediado pela imprensa e pelos curiosos. "O plano falhou", escreveu Takano, e disse que a exposição "enlameou sua vida de fama".
Ghosn está agora com a família na residência onde ficará, na prática sob prisão domiciliária, com acesso limitado a informações e pessoas, escreveu Takano no blogue.