A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP), a Confederação Nacional da Agricultura e outras organizações da lavoura juntam-se esta segunda-feira, 14 de Março, naquela que promete ser "a maior [manifestação] alguma vez realizada pelo sector em Portugal" e que inclui acções de protesto junto a dois hipermercados de Matosinhos.

Cerca de 150 camiões, tractores e outras máquinas agrícolas saíram esta manhã de Vila do Conde, em marcha lenta, rumo à delegação da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN). A associação dos produtores de leite, liderada por Carlos Neves, refere que "esta manifestação pretende denunciar a difícil situação da produção devido à manutenção do preço do leite abaixo dos custos de produção, bem como a cada vez maior dificuldade de escoamento do leite produzido".

Isto, reforçam e contabilizam os produtores concentrados na zona Norte, apesar de Portugal "importar cerca de 500 milhões de euros em produtos lácteos, dos quais 300 milhões em queijos e iogurtes. Além de apelar aos consumidores para preferirem produtos nacionais, exigem à grande distribuição que "concretize as recorrentes promessas de apoio à produção nacional, aumentando de forma efectiva a percentagem de leite, e sobretudo produtos lácteos, que coloca nas suas marcas e nas suas prateleiras ao dispor do consumidor".

À hora do almoço e ao início da tarde, os manifestantes vão estar junto ao supermercado Pingo Doce, situado no Centro de Negócios Rivitex, e depois também do hipermercado Continente, junto ao NorteShopping. Estes dois grupos de distribuição são um dos alvos principais dos produtores, que acusam de "contribuir para a ruína da produção", com "preços de venda ao público [que] não reflectem os custos de produção".

Esta manifestação acontece três dias após o protesto dos suinicultores em Lisboa e no mesmo dia em que são esperados cerca de 500 manifestantes em Bruxelas, a propósito da reunião dos ministros da Agricultura da União Europeia, que voltará a ter em cima da mesa precisamente os temas do leite e da carne suína e onde Portugal estará representado por Capoulas Santos.

Segundo uma nota divulgada pela agência Lusa, o ministro português vai debater com os seus homólogos, a Comissão Europeia e o Banco Europeu de Investimento a eficácia das medidas já adoptadas de apoio aos mercados e a necessidade de intervenções adicionais, como linhas de crédito para os sectores do leite, da suinicultura e dos legumes.

Em comunicado divulgado no sábado, 12 de Março, o Ministério da Agricultura garantiu que "após auscultação e recolha de contributos das fileiras do leite e da carne de suíno, elaborou um conjunto de propostas que vai agora defender em Bruxelas, e que se dividem em medidas que respondam de imediato à crise conjuntural e medidas de médio/longo prazo para garantir a sustentabilidade de mercado".

O secretário de Estado da Agricultura, Luís Vieira, reconheceu a 26 de Fevereiro, que o sector do leite atravessa "uma tempestade perfeita devido ao desajustamento entre a oferta e a procura, que provoca uma difícil crise para resolver". E apontou "o fim das quotas leiteiras, o embargo russo, o abrandamento do desenvolvimento da China e de mercados emergentes como Angola e Venezuela, além da redução do consumo interno do leite, em contraponto com um aumento de produção", como principais factores para as dificuldades dos produtores do sector.