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"Ninguém pode bater à porta de uma grande superfície sozinho"

Num sector caracterizado por um tecido produtivo muito atomizado, ganhar escala é sinónimo de oportunidade, seja a nível nacional, seja para conseguir internacionalizar o negócio. O tamanho é importante até para conquistar nichos de mercado.

08 de Março de 2016 às 11:51
Sara Matos
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Toda a gente reconhece a importância da força agrupada", sustenta José Maria Rasquilha, administrador da organização de agricultores CERSUL. "Hoje em dia, ninguém pode bater à porta de uma grande superfície sozinho", observa, exemplificando uma realidade bem conhecida dos vários empresários agrícolas reunidos em Évora, na conferência sobre a fileira agro-alimentar promovida pela Novo Banco.

É preciso "massa crítica para poder competir nos mercados com uma dimensão que a pessoa isolada não tem", sustenta Luís Rosado, administrador da Fundação Eugénio de Almeida, acrescentando que "para pensar em mercado de exportação é preciso ter dimensão, até porque seremos mais competitivos".
cotacao Considerando a profissionalização actual da agricultura portuguesa, reunir esforços e ir atrás de qualquer oportunidade é relativamente rápido. José Maria Rasquilha Administrador da CERSUL
Essa massa crítica é muitas vezes conseguida através de estruturas associativas. E "as pessoas estão mais sensíveis para a necessidade de se associarem", considera Aníbal Martins, director da união de cooperativas agrícolas Ucasul.

"Só uma empresa ou agrupamento, depois de se dar a conhecer, pode procurar alternativas aos produtos comuns", acrescenta Rasquilha, para quem Portugal tem capacidade para aproveitar nichos de mercado que "podem ter pouca expressão no PIB, mas na actividade individual podem ser importantes". A título de exemplo referiu a produção de trigos de baixo teor de pesticidas utilizados na alimentação infantil ou a cevada para malte, e os trigos para bolachas e massas.


6%
PIB
O sector agro-alimentar tem vindo a consolidar a sua importância na economia nacional.


"Considerando a profissionalização actual da agricultura portuguesa, reunir esforços e ir atrás de qualquer oportunidade é relativamente rápido", sustenta.

Em Évora, fez-se o retrato de um sector agro-alimentar cada vez mais organizado, profissionalizado, onde já "ninguém pensa num projecto agrícola sem ponderar o mercado", refere Luís Rosado.

Um sector "crescentemente reconhecido pela sociedade", que "não vai salvar a economia nacional", mas que tem vindo a "consolidar a sua importância no PIB [cerca de 6%]", e que "tem uma importância crescente na balança comercial", assinalou o engenheiro agrónomo Francisco Gomes da Silva na apresentação que serviu de mote para o debate que teve lugar na segunda parte da conferência.
cotacao Não podemos é olhar para a agricultura na procura de uma solução que resolva todos os problemas. Aquilo que é uma oportunidade para um, pode não ser para outro. Francisco Gomes da Silva Engenheiro agrónomo 
Isto não significa que seja um sector isento de desafios, e Gomes da Silva nomeia alguns, entre eles, a necessidade de uma cultura-âncora ganhar capacidade crítica ao nível da organização da produção, superar o deficit de capacidade transformadora instalada e apostar em tecnologia para superar desajustamentos naturais.

"A agricultura é um sector de oportunidades, elas têm surgido", sustenta. "Não podemos é olhar para a agricultura na procura de uma solução que resolva todos os problemas. Aquilo que é uma oportunidade para um pode não ser para outro", concluiu.