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Medicamentos criados na Trofa já valem metade das vendas da Bial

Os produtos desenvolvidos para a epilepsia (Zebinix) e Parkinson (Ongentys) reforçaram o peso no negócio da farmacêutica, que está a diversificar as fontes de financiamento e prevê começar a faturar na Ásia daqui a dois anos.

Paulo Duarte/Correio da Manhã
06 de Fevereiro de 2019 às 17:37
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A farmacêutica Bial obteve uma faturação de cerca de 270 milhões de euros em 2018, que ficou em linha com o registado no ano anterior. Com presença comercial em mais de 50 países, os mercados internacionais valeram 70% das vendas, destacando-se Espanha e Estados Unidos da América no topo da lista dos melhores destinos.

 

Segundo adiantou o administrador José Redondo, os dois medicamentos de inovação própria e criados de raiz pela empresa da Trofa (distrito do Porto) já "representam cerca de metade do volume de negócios", sendo as restantes receitas obtidas através de produtos mais antigos ou de licenças de multinacionais para as quais comercializa em Portugal, Espanha ou noutros países.

 

No anterior exercício, o Zebinix (lançado em 2009 para doentes epilépticos) tinha gerado 90 milhões de euros nos 44 países em que está aprovado. Disponível no mercado português apenas desde setembro, o Ongentys – nome comercial do segundo medicamento de patente portuguesa a chegar ao mercado e destinado a pessoas com a doença de Parkinson – tinha vendido cerca de dez milhões de euros em 2017.

 

"Vendemos para países na Europa, em África e na América. E a prazo temos outro grande desafio que é estar presente em alguns países asiáticos, nomeadamente no Japão, na China e na Coreia do Sul. Esperamos que seja uma realidade dentro de dois anos", concretizou. O responsável da Bial falava num debate sobre estratégia, inovação e financiamento, no âmbito da conferência "Finance Talks for Growth", em Matosinhos, onde o Banco de Fomento acrescentou 40 milhões para "financiamento puro" às empresas.

A companhia liderada por António Portela, que investiu 650 milhões de euros no desenvolvimento destes dois primeiros medicamentos de raiz portuguesa – o terceiro, destinado à hipertensão pulmonar arterial, deverá estar cá fora dentro de três anos –, anunciou no início de 2018 um acordo de licenciamento com a chinesa Wanbang para a importação, embalagem e comercialização do Ongentys no país. Para entrar no mercado coreano assinou contratos abrangendo os dois produtos, com a perspetiva de que começariam a ser vendidos a partir de 2020.

 

Três fontes de financiamento para investir

 

O homem que controla as contas da farmacêutica, fundada em 1924, recordou que no início da década de 1990 só tinha financiamentos de um ano (renovados automaticamente) na banca comercial, contrapondo que "hoje o peso dos financiamentos de curto prazo é residual – e pontualmente nulo". "Porque se temos investimento de algumas centenas de milhões de euros e cujo lançamento do produto no mercado acontece, em média, 12 a 13 anos depois do início do projeto, é de bom senso adequar essas necessidades às fontes de financiamento", acrescentou.

 

Nos últimos seis anos, além de financiamento de médio e longo prazo (a quatro ou cinco anos) negociado com a banca, a Bial teve dois empréstimos de maior dimensão com o Banco Europeu de Investimentos (BEI) – "normalmente nunca podem ser menos de 50 milhões de euros" – e concretizou dois empréstimos obrigacionistas com reembolso no final do prazo de cinco anos. Depois da primeira emissão de 50 milhões de euros, que se vence em junho, fez uma operação semelhante no valor de 60 milhões de euros em outubro de 2018.

 

Gostaria de um dia me poder financiar só nos capitais próprios, só no EBITDA, mas provavelmente, pela ambição da empresa e pelos projetos que tem, esse dia nunca chegará. José Redondo, administrador da Bial

 

"Repartimos as nossas necessidades de financiamento por estes três pilares também de forma a não estamos sujeitos à conjuntura da banca. Quem trabalhou nos últimos anos em Portugal na área financeira sabe que (…) tivemos momentos de grande escassez e de grande liquidez. Quando se tem projetos de investimento de longo prazo, que não podem ser parados de acordo com a liquidez de A ou de B, temos de garantir um financiamento estável para que os projetos não serem afetados por razões de ordem financeira", justificou José Redondo.

 

A finalizar o debate, em que também participaram João Miranda (CEO da Frulact) e Andreia Meireles (CFO da António Meireles), o administrador da Bial, que recentemente investiu cinco milhões de euros para ampliar o centro onde trabalham mais de uma centena de investigadores de oito nacionalidades, indicou ainda que prefere manter relações com um número reduzido de bancos mas privilegiar essas parcerias duradouras.

 

José Redondo confidenciou também que, enquanto diretor financeiro, "gostaria realmente de um dia [se] poder financiar só nos capitais próprios, só no EBITDA da empresa, mas provavelmente, pela ambição da empresa e pelos projetos que tem, esse dia nunca chegará". "E, se calhar, ainda bem para todos, no sentido em que a empresa tem mais projetos do que aquilo que é a sua capacidade de autofinanciamento", concluiu.

Frulact abre mais que números para negociar ‘packs’ de investimento

João Miranda, presidente da Frulact, sustenta que as empresas têm "a obrigação de partilhar [com os bancos] não só aquilo que plasmam com os números, mas muito mais aquilo que é a sua visão do futuro, a sustentabilidade do seu negócio e como conseguirão materializar aquilo que projetam", pois "isso é que dá confiança às instituições financeiras, que também têm de ganhar dinheiro".

Dando o exemplo da multinacional da Maia, que é uma das maiores fabricantes mundiais de preparados à base de fruta para a indústria alimentar, detendo um total de oito fábricas em Portugal, Marrocos, França, África do Sul e Canadá, o empresário nortenho "tenta sempre de forma antecipada negociar com os parceiros [financeiros] ‘packs’ de investimento que, se calhar, só daqui a dois anos vão acontecer", partilhando o caso de negócio, as geografias em que pretende entrar ou o nível de investimento que será necessário para concretizar esse plano.

Independentemente da evolução tecnológica em curso, João Miranda acredita que o financiamento das empresas "deve continuar a passar muito pela proximidade e pelo contacto das entidades financeiras com as empresas", lembrando como obteve o financiamento para o primeiro investimento da Frulact em 1990. Precisava de 600 mil contos e bateu à porta de três bancos, sem sucesso, até que "houve um senhor no BNU que não [o] conhecia, mas achou que projeto tinha sentido e que tinha à frente dele um miúdo que demonstrava alguma irreverência".

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