Notícia
Lagarde estava presente no "whatever it takes" de Draghi e espera não ter de o repetir
Em resposta ao eurodeputado português Pedro Marques, Christine Lagarde revelou que assistiu ao discurso de 2012 de Mario Draghi e que espera não o ter de fazer, caso seja confirmada para a liderança do BCE.
A 26 de julho de 2012, Mario Draghi fez o discurso considerado de "salvação do euro" numa altura de elevada turbulência nos mercados. Na plateia a assistir estava Christine Lagarde, diretora-geral do FMI. Sete anos depois, Lagarde deverá assumir o papel de Draghi, mas espera "nunca" ter de chegar a uma situação onde tenha de fazer esse discurso novamente.
"O BCE está preparado para fazer o que for necessário para preservar o euro, dentro do seu mandato". Pausa. "E acreditem, será suficiente", acrescentou o presidente do Banco Central Europeu (BCE) numa intervenção em Londres. As palavras tiveram impacto nos mercados financeiros, revertendo a tendência de deflação e de crise das dívidas soberanas da Zona Euro.
Sete anos depois, a economia europeia volta a ter nuvens cinzentas no horizonte, ainda que a situação seja diferente a vários níveis. O PIB está a desacelerar, a situação externa está a deteriorar-se e os bancos centrais voltam à carga com os estímulos monetários. No caso do BCE, é expectável que haja novidades na próxima semana, a 12 de setembro, estando em cima da mesa uma descida dos juros e um regresso da compra de ativos.
Numa audição no Parlamento Europeu esta quarta-feira, 4 de setembro, Christine Lagarde relembrou o discurso de Mario Draghi, após uma pergunta de Pedro Marques, eurodeputado do PS, que a questionou sobre se manterá a promessa de preservar o euro "custe o que custar" (whatever it takes). "Eu estava presente quando Draghi disse que ia fazer tudo o que fosse preciso para salvar o euro", revelou, referindo que o instrumento desenhado nessa altura pelo BCE nem chegou a ser utilizado dada a eficácia do discurso.
"Espero nunca ter de chegar a essa situação. Se o fizer, isso quer dizer que os outros atores políticos não estão a fazer aquilo que é necessário", apontou Lagarde, remetendo para o papel da política orçamental e da coordenação económica na Zona Euro. Para a francesa há "margem de manobra em termos de políticas orçamentais", apesar de não nomear quais os países que a têm.
Numa outra resposta na ronda de perguntas dos eurodeputados, a nomeada a presidente do BCE tinha dito que "os bancos centrais não são o único ator em jogo" e que há vários países que podem ter um papel orçamental. "Alguns países da Zona Euro podem usar o seu espaço orçamental para despesa pública que ajude a lutar contra a recessão", afirmou Lagarde, assinalando que a maior parte dos Estados-membros tem um saldo orçamental equilibrado ou um défice inferior a 0,5% do PIB.
Mas o problema passa também pelas reformas estruturais nesses países. Respondendo a outra eurodeputada portuguesa, Lídia Pereira, do PSD, que fez uma pergunta sobre esse tema, Lagarde disse que "em alguns países, as reformas estruturais ficaram apenas nos discursos e não nas medidas que foram tomadas". "As reformas estruturais em muitos países ainda são uma missão por finalizar", alertou.
Assim, há três fatores que poderão resolver a situação atual, evitando assim um discurso à la Draghi: uma política monetária "adequada", uma política orçamental expansionista de quem "pode e necessita de o fazer", e a implementação de reformas estruturais.
Taxonomia sobre investimento "verde" tem de andar depressa
Um dos temas fortes desta audição, que também já tinha estado presente nas perguntas e respostas anteriores à ida ao Parlamento Europeu, foi o papel do Banco Central Europeu (BCE) na crise climática. Confrontada por alguns eurodeputados (principalmente dos Verdes e do GUE) sobre o que fará nesta área, Christine Lagarde assumiu que o objetivo principal será sempre a estabilidade dos preços, mas que essa meta não é incompatível com a luta contra as alterações climáticas.
"Vou ser cautelosa porque não quero vincular ou influenciar o conselho de governadores do BCE na sua capacidade de tomar decisões, mas a minha posição pessoal é que qualquer instituição tem de ter em conta as preocupações verdes", afirmou Lagarde, referindo o exemplo do que fez no FMI em que tentou de melhorar a eficiência do edifício, onde trabalham três mil pessoas, e onde incluiu as alterações climáticas na avaliação dos riscos macroeconómicos. Além disso, notou que também houve análises do Fundo aos subsídios estatais às indústrias fósseis, nomeadamente sobre o seu custo "direto e indireto".
"Sem colocar em causa aquilo que poderei vir a fazer, penso que temos de começar por fazer o trabalho de casa", disse, referindo o exemplo do fundo de pensões gerido pelo BCE que toma decisões sobre o local onde investe. No entanto, em termos de compra de ativos, Lagarde admitiu que o banco central "não pode investir exclusivamente em obrigações verdes porque não há mercado suficiente".
Mas para que tal aconteça no futuro é preciso "determinar aquilo que é verde ou não". Em causa está a taxonomia dos produtos financeiros "verdes", ou seja, a existência de uma maior clareza sobre o que classifica um investimento de "verde" ou não. Para Christine Lagarde a definição de uma taxonomia tem de ser feita mais depressa para que esta seja adotada pelos agentes do mercado, nomeadamente o BCE.
Quanto ao atual portefólio do BCE, que alguns eurodeputados disseram que detinha dívida de empresas poluentes, a nomeada para presidente do BCE admitiu que isso "não mudará de um dia para o outro", mas que poderá "haver uma transição". "Se estamos convictos de que precisamos de lutar contra as alterações climáticas, parece-me óbvio que tal aconteça", afirmou, referindo, mais tarde, numa outra resposta, que o BCE já compra obrigações verdes do Banco Europeu de Investimento.
"O BCE está preparado para fazer o que for necessário para preservar o euro, dentro do seu mandato". Pausa. "E acreditem, será suficiente", acrescentou o presidente do Banco Central Europeu (BCE) numa intervenção em Londres. As palavras tiveram impacto nos mercados financeiros, revertendo a tendência de deflação e de crise das dívidas soberanas da Zona Euro.
Numa audição no Parlamento Europeu esta quarta-feira, 4 de setembro, Christine Lagarde relembrou o discurso de Mario Draghi, após uma pergunta de Pedro Marques, eurodeputado do PS, que a questionou sobre se manterá a promessa de preservar o euro "custe o que custar" (whatever it takes). "Eu estava presente quando Draghi disse que ia fazer tudo o que fosse preciso para salvar o euro", revelou, referindo que o instrumento desenhado nessa altura pelo BCE nem chegou a ser utilizado dada a eficácia do discurso.
"Espero nunca ter de chegar a essa situação. Se o fizer, isso quer dizer que os outros atores políticos não estão a fazer aquilo que é necessário", apontou Lagarde, remetendo para o papel da política orçamental e da coordenação económica na Zona Euro. Para a francesa há "margem de manobra em termos de políticas orçamentais", apesar de não nomear quais os países que a têm.
Numa outra resposta na ronda de perguntas dos eurodeputados, a nomeada a presidente do BCE tinha dito que "os bancos centrais não são o único ator em jogo" e que há vários países que podem ter um papel orçamental. "Alguns países da Zona Euro podem usar o seu espaço orçamental para despesa pública que ajude a lutar contra a recessão", afirmou Lagarde, assinalando que a maior parte dos Estados-membros tem um saldo orçamental equilibrado ou um défice inferior a 0,5% do PIB.
Mas o problema passa também pelas reformas estruturais nesses países. Respondendo a outra eurodeputada portuguesa, Lídia Pereira, do PSD, que fez uma pergunta sobre esse tema, Lagarde disse que "em alguns países, as reformas estruturais ficaram apenas nos discursos e não nas medidas que foram tomadas". "As reformas estruturais em muitos países ainda são uma missão por finalizar", alertou.
Assim, há três fatores que poderão resolver a situação atual, evitando assim um discurso à la Draghi: uma política monetária "adequada", uma política orçamental expansionista de quem "pode e necessita de o fazer", e a implementação de reformas estruturais.
Taxonomia sobre investimento "verde" tem de andar depressa
Um dos temas fortes desta audição, que também já tinha estado presente nas perguntas e respostas anteriores à ida ao Parlamento Europeu, foi o papel do Banco Central Europeu (BCE) na crise climática. Confrontada por alguns eurodeputados (principalmente dos Verdes e do GUE) sobre o que fará nesta área, Christine Lagarde assumiu que o objetivo principal será sempre a estabilidade dos preços, mas que essa meta não é incompatível com a luta contra as alterações climáticas.
"Vou ser cautelosa porque não quero vincular ou influenciar o conselho de governadores do BCE na sua capacidade de tomar decisões, mas a minha posição pessoal é que qualquer instituição tem de ter em conta as preocupações verdes", afirmou Lagarde, referindo o exemplo do que fez no FMI em que tentou de melhorar a eficiência do edifício, onde trabalham três mil pessoas, e onde incluiu as alterações climáticas na avaliação dos riscos macroeconómicos. Além disso, notou que também houve análises do Fundo aos subsídios estatais às indústrias fósseis, nomeadamente sobre o seu custo "direto e indireto".
"Sem colocar em causa aquilo que poderei vir a fazer, penso que temos de começar por fazer o trabalho de casa", disse, referindo o exemplo do fundo de pensões gerido pelo BCE que toma decisões sobre o local onde investe. No entanto, em termos de compra de ativos, Lagarde admitiu que o banco central "não pode investir exclusivamente em obrigações verdes porque não há mercado suficiente".
Mas para que tal aconteça no futuro é preciso "determinar aquilo que é verde ou não". Em causa está a taxonomia dos produtos financeiros "verdes", ou seja, a existência de uma maior clareza sobre o que classifica um investimento de "verde" ou não. Para Christine Lagarde a definição de uma taxonomia tem de ser feita mais depressa para que esta seja adotada pelos agentes do mercado, nomeadamente o BCE.
Quanto ao atual portefólio do BCE, que alguns eurodeputados disseram que detinha dívida de empresas poluentes, a nomeada para presidente do BCE admitiu que isso "não mudará de um dia para o outro", mas que poderá "haver uma transição". "Se estamos convictos de que precisamos de lutar contra as alterações climáticas, parece-me óbvio que tal aconteça", afirmou, referindo, mais tarde, numa outra resposta, que o BCE já compra obrigações verdes do Banco Europeu de Investimento.