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Draghi na despedida: "Os opositores do euro não foram bem sucedidos"

Prestes a dizer adeus ao BCE, Draghi defende o seu legado, responde às críticas alemãs, pede a ação da política orçamental e acredita que o mandato de Lagarde será de continuidade.

REUTERS
30 de Setembro de 2019 às 11:11
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Numa entrevista ao Financial Times em que faz o balanço do seu mandato de oito anos à frente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi mostra-se confiante de que fez o que foi necessário para salvar a Zona Euro. 

"Os opositores do euro não foram bem sucedidos", afirmou o presidente do BCE numa entrevista publicada esta segunda-feira, 30 de setembro, pelo jornal britânico, argumentando que "os cidadãos compreenderam os benefícios de uma moeda comum" dado que a confiança no euro aumentou nos últimos anos.

Draghi, a quem muitos atribuem o papel de "salvador do euro", fez em 2012 o célebre discurso do "whatever it takes" que estancou a desconfiança que existia em relação a alguns países da Zona Euro nos mercados obrigacionistas. A confiança foi reestabelecida pelo BCE e os "mercados fizeram o resto", resume.

"Do meu ponto de vista, a continuação da reação favorável do mercado mostrou que era realmente uma crise de confiança que tinha de ser resolvida", assinala o italiano que abandonará o cargo a 31 de outubro, sendo substituído pela francesa Christine Lagarde, a primeira mulher à frente do BCE. 

"Nós estávamos a cumprir o nosso mandato, o tratado pede-nos para agir de forma a preservar a estabilidade do euro", defende Draghi quando confrontado com as críticas alemãs. 

Após oito anos de ataques vindo da Alemanha, que voltaram a intensificar-se nesta reta final do mandato por causa do novo pacote de estímulos, o presidente do BCE aproveita para rebater as críticas, elogiando o passado do Bundesbank (banco central alemão) por ter garantido a estabilidade dos preços, mas avisando que o presente é diferente: "Com o euro nós entramos num novo mundo. E este mundo está a mudar rapidamente". 

"Falo da necessidade da política orçamental como complemento desde 2014"
Mario Draghi aproveita também para defender o seu legado que se materializa também no pacote de estímulos anunciado a 12 de setembro. "As perspetivas pioraram, especialmente na indústria, e a inflação já não estava a caminho da nossa meta [de próximo, mas abaixo de 2%]", explica, justificando o porquê de ter reiniciado o programa de compra de ativos, o que causou muita polémica. 

E o atual presidente do BCE acredita que com Lagarde, que foi informada da decisão da última reunião, haverá continuidade na ação do BCE: "Todas as decisões de política [monetária] dependem das circunstâncias, mas não tenho nenhuma razão para pensar que as pessoas que irão sentar-se naquelas cadeiras [do conselho de governadores] nos próximos anos irão interpretar o âmbito do nosso mandato de uma forma diferente do que [a interpretação dada pelo] conselho de governadores que se reuniu no verão de 2012". 

O mais urgente neste momento passa pela ação da política orçamental, o que poderia ser impulsionado por um orçamento ao nível da Zona Euro, sobre o qual diz estar "otimista", ainda que reconheça que o "debate político tem um longo caminho a percorrer". É que se não houver um estímulo orçamental na economia europeia, o "estímulo [monetário] extraordinário pode ter de durar por um longo período", o que não está isento de riscos.

"Eu falo da necessidade da política orçamental como complemento da política monetária desde 2014, mas agora é mais urgente do que no passado", alerta Mario Draghi, avisando que os "efeitos secundários negativos" da ação do BCE vão ficar "mais visíveis" à medida que o tempo passa. "O que está em falta? A resposta é a política orçamental. Essa é a grande diferença entre a Europa e os EUA".

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