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Lagarde: "A política orçamental tem de estar disponível para não se sobrecarregar a política monetária"

A nomeada para presidente do BCE apresentou-se no Parlamento Europeu como um Mario Draghi 2.0. Defendeu as políticas do passado, mas também prometeu ir mais além na agilidade do banco central.

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04 de Setembro de 2019 às 10:49
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Christine Lagarde, a nomeada para presidente do Banco Central Europeu (BCE), não tem dúvidas de que, "sem a inovação" do banco central com a introdução de medidas não convencionais, "a crise teria sido bem pior". Contudo, também não se pode "sobrecarregar" a política monetária e, por isso, pede que a política orçamental esteja preparada para tempos piores.

A ainda diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), cargo que abandona a 12 de setembro, está a ser questionada pelos eurodeputados esta quarta-feira, 4 de setembro, naquela que é a sua primeira audição pública desde que foi nomeada para presidente do BCE, em substituição de Mario Draghi. Na intervenção inicial, Lagarde apresentou-se como um clone do antecessor, mas numa versão 2.0: quer ir mais além na agilidade e promete mudanças.

Em duas palavras, Lagarde definiu as prioridades para os próximos oito anos (duração do mandato): compromisso [com o mandato do BCE] e agilidade [na resposta aos desafios]. No Parlamento Europeu, a nomeada a presidente do BCE comprometeu-se a cumprir o objetivo de uma inflação perto mas abaixo de 2%. "Irei atuar sob os mesmos princípios [de Mario Draghi], se for confirmada", assegurou, assinalando que uma política monetária altamente acomodatícia deverá ser necessária durante um longo período de tempo. 

"O BCE teve de ser inovador dentro das fronteiras da lei e do seu mandato. Sem essa inovação, a crise teria sido, na minha opinião e na dos especialistas que olham para o assunto seriamente, bem pior", disse aos eurodeputados, defendendo o seu antecessor e referindo estudos do próprio banco central que concluíam que, sem as medidas não convencionais de 2014, o PIB da Zona Euro estaria 2% abaixo do nível atual.

Ora, o desafio da inflação - ou "lowflation", como lhe chamou - "não desaparaceu". Ao mesmo tempo que reconheceu a necessidade de manter os estímulos monetários, Lagarde reconheceu que é preciso monitorizar e fazer "uma análise de custo-benefício" das medidas dado os potenciais efeitos secundários negativos dessa política monetária. No entanto, estas questões "estratégicas" impõem-se a todos os bancos centrais, "não é exclusivo do BCE", relembrou. 

"Terá de haver mudanças"
"Temos de refletir se os instrumentos [do BCE] são suficientemente robustos para lidar com os desafios", afirmou, insistindo nos desafios do futuro e das possíveis implicações que terão na política monetária. Exemplos disso são a crise climática - Lagarde já disse que irá promover uma reflexão no BCE sobre a introdução de critérios "verdes" nos investimentos -, o impacto "disruptivo" da tecnologia no setor financeiro (e na transmissão da política monetária) e a deterioração do multilateralismo.

Certo é que "terá de haver mudanças", assumiu. E é aí que entra um outro princípio de Christine Lagarde, a inclusividade: "Os bancos centrais não atuam no vácuo", disse, destacando a importância da cooperação dentro do eurosistema, nomeadamente uma maior coordenação entre as instituições europeias para lidar com choques externos. "A política orçamental tem de estar disponível para não se sobrecarregar a política monetária", alertou, tal como já tem dito Mario Draghi.

Foi aí que recordou a sua experiência enquanto ministra das Finanças em França e a "dificuldade em coordenar a política orçamental", assumindo que os Estados-membros "tendem a focar-se nos assuntos nacionais" sem perceber que, para resistir à instabilidade externa, é necessária uma resposta comum. "Temos de trabalhar para que o papel internacional do euro se torne cada vez mais como uma 'divisa de reserva' num mundo cada vez mais incerto", pediu.

"O BCE tem de ouvir os mercados, mas não pode ser guiado por estes"
Outra prioridade fixada por Christine Lagarde será a diversidade, a qual tem uma "importância crítica". À semelhança do que fez no FMI - onde, por exemplo, nomeou a primeira mulher para economista-chefe - a nomeada para presidente do BCE (a ser confirmada será a primeira mulher no cargo) quer captar talentos com diferentes contextos, seja de raça, género, nacionalidade, experiência profissional ou académica.

"A diversidade é a fonte de riqueza", afirmou Lagarde, argumentando que o diálogo entre um "vasto grupo de vozes" traz melhores resultados. Para a francesa "o BCE tem de ouvir os mercados, mas não pode ser guiado por estes". "O BCE também tem de entender as pessoas porque a divisa, o euro, pertence às pessoas", disse, anunciando que, se for confirmada, irá tentar envolver representantes da sociedade civil no processo de decisão do BCE.

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