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Draghi, o "dragão", deixa legado mais leve mas exigente a Lagarde

Mario Draghi termina este mês o seu mandato de oito anos à frente dos destinos do BCE. Os economistas ouvidos pela Lusa elogiam o trabalho do italiano na preservação do euro, consideram que deixa o trabalho facilitado para a sua sucessora e não esperam novas medidas na quinta-feira, a última reunião do conselho a que vai presidir.

Reuters
20 de Outubro de 2019 às 10:42
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Mario Draghi preside à sua última reunião como presidente do Banco Central Europeu (BCE) na quinta-feira, 24 de outubro, depois de oito anos à frente dos destinos da autoridade monetária da zona euro. Os economistas contactados pela Lusa consideram que as medidas anunciadas por Mario Draghi em setembro facilitaram o trabalho a Christine Lagarde, que recebe do italiano um legado "exigente", mas mais "leve" do que dos anteriores presidentes do BCE.

"Cremos que Mario Draghi facilitou o trabalho de Lagarde, nomeadamente ao ter anunciado já as medidas de estímulo na última reunião [de setembro]. Diria que o legado de Draghi não é pesado, mas leve", afirmou Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, à Lusa, acrescentando que "é mais fácil suceder a Draghi do que ter sucedido aos anteriores presidentes do Banco Central Europeu (BCE)".

Já Clara Raposo, professora e presidente do ISEG, considerou que "a herança deixada a Christine Lagarde é exigente", o que "não se deve propriamente a Mario Draghi, mas sim à natureza da união económica e monetária e ao atual contexto internacional, geopolítico e económico".

João Borges Assunção, professor da Universidade Católica, afirmou, por seu turno, que "a nova presidente do BCE entra numa altura em que há uma divisão clara entre os membros do Conselho de Governadores do BCE em matéria de condução da política monetária".

Segundo o professor da Católica, a "principal tarefa" de Lagarde "será conseguir dar ao Conselho a liderança intelectual que o seu antecessor atingiu, o que lhe permitirá comunicar eficazmente com o mercado e com os vários governos nacionais dos países que integram a zona euro".

No mesmo sentido, Clara Raposo frisou que a primeira grande tarefa de Lagarde será "encontrar uma forma de funcionamento harmoniosa com a sua equipa no BCE" e que "só assim poderá ter eficácia na definição de políticas que vier a querer implementar".

Francesco Franco, professor da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), salientou, à Lusa, que "Draghi deixa um banco central que produz pesquisas de vanguarda úteis para capacitar os decisores" e que dispõe de "um conjunto renovado de ferramentas de política monetária que são coerentes com os novos níveis da taxa de juro natural", ou seja, a taxa de juro ideal para o banco central.

No mesmo sentido, segundo Rui Bernardes Serra, "Draghi fez uma leitura extensiva dos tratados europeus", que proíbem o financiamento dos Estados em mercado primário, mas não o proíbem em mercado secundário, o que faz com que o BCE esteja atualmente a financiar os Estados através das suas compras em mercado secundário. "Com Draghi, o BCE utilizou instrumentos nunca antes utilizados pela instituição, nomeadamente, os programas de compra de dívida", salientou o economista-chefe do Montepio.

Contudo, apesar dos avanços, Francesco Franco destacou que "a arquitetura da área do euro ainda está inacabada" e que "Lagarde tem uma tarefa difícil pela frente".  "Mas, devido ao seu histórico percurso, sou otimista", acrescentou o docente da Nova SBE.

Para Clara Raposo, "Lagarde é ainda uma incógnita enquanto líder do BCE". Christine Lagarde deixou a liderança do Fundo Monetário Internacional (FMI) para ser presidente do BCE, funções que vai exercer a partir de 01 de novembro.

Draghi, o "dragão", "padrinho" e "guardião" que evitou "maus caminhos" ao euro

Os economistas ouvidos pela Lusa consideram que Mario Draghi ficará na história como o banqueiro central que teve a coragem de salvar o euro quando muitos acharam que era uma "missão impossível", e sugerem vários cognomes ou epítetos.

"Em alternativa ao já popularizado 'Super Mario', que não deixa de lhe assentar bem, especialmente se nos recordarmos de quando muitos acreditavam que a sua missão era impossível, penso que poderíamos também adotar o cognome de ‘Guardião do Euro’", afirmou Clara Raposo.

Francesco Franco, professor da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), considerou que o sobrenome do ainda presidente do BCE "é muito adequado". "Draghi significa 'Dragões' (no plural) em italiano", disse.

Rui Bernardes Serra comentou, por seu turno, que "Draghi não foi o pai do euro, mas foi certamente aquele que se substituiu aos pais e evitou que o adolescente ‘euro’ fosse por maus caminhos". "Bem podia ser assim o padrinho do euro. Mas esse nome em Itália tem segundas interpretações. Talvez seja simplesmente "Il Salvatore del Euro", acrescentou o economista-chefe do Montepio.

‘Adeus’ de Draghi no BCE será "tranquilo" e sem novas medidas

Mario Draghi não deverá anunciar novas medidas na sua última reunião à frente dos destinos do BCE, já que as medidas anunciadas na reunião de setembro terão sido suficientes.

"Creio que a despedida de Mario Draghi será tranquila, pautada por um agradecimento e homenagem prestados pelo Banco Central Europeu (BCE) pela dedicação e persistência da sua ação na defesa da coesão e sustentabilidade do projeto da zona euro", afirmou à Lusa Clara Raposo.

"O mandato de oito anos de Mário Draghi termina em 31 de outubro, no mesmo dia do ‘Brexit’ [saída do Reino Unido da União Europeia]. Espero que a transmissão de mandato a Christine Lagarde aconteça de forma suave", comentou Francesco Franco.
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