Notícia
Acumulam-se vozes na Zona Euro contra o reinício do quantitative easing do BCE
Mario Draghi poderá enfrentar uma dura oposição na reunião da próxima semana. O possível reinício das compras de ativos, conhecida por quantitative easing, é criticado e coloca dúvidas a alguns governadores.
O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, está prestes a abandonar o cargo, mas terá ainda um período desafiante até dizer adeus a Frankfurt a 31 de outubro. A penúltima reunião de política monetária, que acontece na próxima semana, a 12 de setembro, promete ser de conflito entre os governadores que querem um regresso do quantitative easing (QE) - compra de ativos no mercado secundário - e os que dizem que não é preciso.
O principal confronto a Draghi, que já admitiu que poderá ser necessário retomar o QE, surge dos opositores habituais: a Alemanha - cuja economia está prestes a entrar em recessão - e a Holanda, dois países que também já tinham sido contra a introdução do QE pela primeira vez em 2015. Os governadores dos bancos centrais desses países já vieram a público afirmar que não é necessário, neste momento, retomar as compras de ativos, nomeadamente dívida pública dos Estados-membros da Zona Euro, para animar a inflação e o crescimento económico.
Para o governador do Bundesbank, Jens Weidman, um corte dos juros ou o regresso do programa de compras "não fariam justiça aos recentes dados económicos divulgados na Zona Euro". Na mesma linha está o governador do Banco da Holanda, Klaas Knot: "Se o risco da deflação voltar à agenda, acho que o programa de compra de ativos deverá ser ativado, mas na minha previsão de inflação, não há necessidade disso".
Mas não foram os únicos. Também o governador do Banco de França, Francois Villeroy de Galhau, admitiu ceticismo sobre a necessidade desses estímulos no imediato. O mesmo admitiu Robert Holzmann, governador do Banco da Áustria, que disse ser "cético" quanto a um corte dos juros.
A estes junta-se ainda o governador do banco central da Estónia, Madis Muller, que não considera que existam razões suficientes para reativar o QE e o governador do banco central da Eslováquia, Peter Kažimír, que disse que o BCE precisará de uma "união ampla" numa decisão sobre estímulos para que tenha credibilidade, segundo a Bloomberg.
Normalmente, o conselho de governadores tenta tomar decisões por unanimidade (ou quase), mas desta vez deverá ser quase impossível pelo que poderá haver uma votação.
E não são só os governadores dos países. Dentro de casa, Mario Draghi também pode enfrentar dificuldades. A alemã Sabine Lautenschlaeger, membro do comité executivo do BCE, que tem voto nas reuniões de política monetária, também disse que não existe risco de deflação e que só nesse caso é que se deve retomar o QE. Ou seja, para ja, é contra.
Contudo, dado que existe um sistema de votos rotativo no conselho de governadores do BCE, é de notar que François Villeroy de Galhau não terá voto na reunião da próxima semana, assim como Madis Muller. A estes juntam-se ainda o governador do Banco da Irlanda, Gabriel Makhlouf, e o governador do Banco da Grécia, Yannis Stournaras.
Na reunião seguinte, em outubro, a última de Draghi, será o governador do Banco de Itália, Ignazio Visco, o governador do Banco da Irlanda, Gabriel Makhlouf, o governador do Banco da Grécia, Yannis Stournaras, e o governador do Banco do Chipre, Constantinos Herodotou, a não ter voto.
Olli Rehn ao lado de Draghi
O governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, foi o primeiro a defender a introdução de um "pacote de estímulos" que surpreenda os mercados pela positiva para que o impacto seja eficaz. O ex-comissário europeu dos Assuntos Económicos e Monetários tem maior influência, pelo menos mediática, do que outros governadores, tendo os mercados reagido em alta às suas palavras.
Além de Rehn, Mario Draghi deverá ter a seu lado o governador do Banco de Espanha, Pablo Hernández de Cos, que já pediu que se mantenha todas as opções em cima da mesa. O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, o economista-chefe, Philip R. Lane, e os outros membros do comité executivo Benoît Cœuré e Yves Mersch deverão estar ao lado de Draghi.
Contudo, há vários governadores que não se pronunciaram nem é possível prever a sua intenção de voto - exemplo disso é o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa - pelo que é difícil fazer contas sobre quantos "sim" e quantos "não" existem. Ainda assim, a Bloomberg escreve que esta onda de oposição é uma das mais complicadas que o atual presidente do banco central da Zona Euro teve de enfrentar durante os oito anos do mandato.
Mas também não é certo que Draghi queira já avançar com as medidas que mandou "estudar" na última reunião, podendo esperar por mais dados que confirmem o risco de recessão. E, mesmo que queira avançar, terá de equilibrar os efeitos positivos com os negativos, tal como notou ontem a nomeada para presidente do BCE, Christine Lagarde, no Parlamento Europeu. As medidas do BCE podem estar a criar bolhas na valorização dos ativos, por exemplo, e a penalizar os aforradores em detrimento dos devedores.
Certo é que os mercados financeiros, seja nas bolsas seja nas obrigações soberanas, já incorporaram que haverá alguma ação por parte do BCE até ao final do ano. No mínimo, antecipam uma descida dos juros dos depósitos, a taxa que os bancos têm de pagar para "estacionar" dinheiro no banco central.
O principal confronto a Draghi, que já admitiu que poderá ser necessário retomar o QE, surge dos opositores habituais: a Alemanha - cuja economia está prestes a entrar em recessão - e a Holanda, dois países que também já tinham sido contra a introdução do QE pela primeira vez em 2015. Os governadores dos bancos centrais desses países já vieram a público afirmar que não é necessário, neste momento, retomar as compras de ativos, nomeadamente dívida pública dos Estados-membros da Zona Euro, para animar a inflação e o crescimento económico.
Mas não foram os únicos. Também o governador do Banco de França, Francois Villeroy de Galhau, admitiu ceticismo sobre a necessidade desses estímulos no imediato. O mesmo admitiu Robert Holzmann, governador do Banco da Áustria, que disse ser "cético" quanto a um corte dos juros.
A estes junta-se ainda o governador do banco central da Estónia, Madis Muller, que não considera que existam razões suficientes para reativar o QE e o governador do banco central da Eslováquia, Peter Kažimír, que disse que o BCE precisará de uma "união ampla" numa decisão sobre estímulos para que tenha credibilidade, segundo a Bloomberg.
Normalmente, o conselho de governadores tenta tomar decisões por unanimidade (ou quase), mas desta vez deverá ser quase impossível pelo que poderá haver uma votação.
E não são só os governadores dos países. Dentro de casa, Mario Draghi também pode enfrentar dificuldades. A alemã Sabine Lautenschlaeger, membro do comité executivo do BCE, que tem voto nas reuniões de política monetária, também disse que não existe risco de deflação e que só nesse caso é que se deve retomar o QE. Ou seja, para ja, é contra.
Contudo, dado que existe um sistema de votos rotativo no conselho de governadores do BCE, é de notar que François Villeroy de Galhau não terá voto na reunião da próxima semana, assim como Madis Muller. A estes juntam-se ainda o governador do Banco da Irlanda, Gabriel Makhlouf, e o governador do Banco da Grécia, Yannis Stournaras.
Na reunião seguinte, em outubro, a última de Draghi, será o governador do Banco de Itália, Ignazio Visco, o governador do Banco da Irlanda, Gabriel Makhlouf, o governador do Banco da Grécia, Yannis Stournaras, e o governador do Banco do Chipre, Constantinos Herodotou, a não ter voto.
Olli Rehn ao lado de Draghi
O governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, foi o primeiro a defender a introdução de um "pacote de estímulos" que surpreenda os mercados pela positiva para que o impacto seja eficaz. O ex-comissário europeu dos Assuntos Económicos e Monetários tem maior influência, pelo menos mediática, do que outros governadores, tendo os mercados reagido em alta às suas palavras.
Além de Rehn, Mario Draghi deverá ter a seu lado o governador do Banco de Espanha, Pablo Hernández de Cos, que já pediu que se mantenha todas as opções em cima da mesa. O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, o economista-chefe, Philip R. Lane, e os outros membros do comité executivo Benoît Cœuré e Yves Mersch deverão estar ao lado de Draghi.
Contudo, há vários governadores que não se pronunciaram nem é possível prever a sua intenção de voto - exemplo disso é o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa - pelo que é difícil fazer contas sobre quantos "sim" e quantos "não" existem. Ainda assim, a Bloomberg escreve que esta onda de oposição é uma das mais complicadas que o atual presidente do banco central da Zona Euro teve de enfrentar durante os oito anos do mandato.
Mas também não é certo que Draghi queira já avançar com as medidas que mandou "estudar" na última reunião, podendo esperar por mais dados que confirmem o risco de recessão. E, mesmo que queira avançar, terá de equilibrar os efeitos positivos com os negativos, tal como notou ontem a nomeada para presidente do BCE, Christine Lagarde, no Parlamento Europeu. As medidas do BCE podem estar a criar bolhas na valorização dos ativos, por exemplo, e a penalizar os aforradores em detrimento dos devedores.
Certo é que os mercados financeiros, seja nas bolsas seja nas obrigações soberanas, já incorporaram que haverá alguma ação por parte do BCE até ao final do ano. No mínimo, antecipam uma descida dos juros dos depósitos, a taxa que os bancos têm de pagar para "estacionar" dinheiro no banco central.