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Draghi: Portugal com “progressos significativos em todas as frentes”. Falta o malparado

O presidente do BCE sublinha os bons resultados conseguidos em Portugal em todas as frentes, e coloca a tónica numa fragilidade em particular: o elevado malparado da banca. Garante que ainda é cedo para planear retiradas de estímulos monetários.

15 de Junho – Draghi no Parlamento Europeu

“A bola está do lado grego. Precisamos de um acordo sólido depressa.
29 de Maio de 2017 às 16:05
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Portugal registou progressos significativos em todas as frentes da economia, considera o presidente do Banco Central Europeu que lembra, no entanto, que o país tem grandes fragilidades, destacando o elevado nível de malparado na banca que impede as instituições financeiras de apoiarem a retoma.

"Portugal registou progressos significativos em todas as dimensões. Este é o primeiro ponto que devemos ter presente. Permanecem, no entanto, muitas vulnerabilidades, especialmente no sector bancário, onde ainda há um nível muito elevado de crédito malparado, como aconteceu noutros países da periferia", afirmou o presidente do BCE numa resposta a Pedro Silva Pereira, eurodeputado socialistas, incentivando o país a resolver este problema tão rapidamente quanto possível.

Os elevados níveis de crédito malparado "precisam de ser tratados para o bem dos próprios bancos, mas também para que seja possível explorar o potencial máximo dos bancos a financiarem" a economia, pois "são um travão à capacidade dos bancos" concederem crédito às famílias e empresas.

Em resposta ao deputado português, o presidente do BCE, afirmou ainda que não esperava que os pagamentos antecipados ao FMI planeados pelo Governo flexibilizem o limite de compras de dívida pública portuguesa, e que não se antecipam mudanças na política monetária, visto que ainda não há uma recuperação sustentada da inflação.

Draghi: "Ainda é muito cedo para dizer que vamos mudar a política monetária"

Mario Draghi apresentou-se no Parlamento Europeu com uma mensagem optimista no crescimento e pouco entusiasta na inflação, traduzindo um dos desafios da economia europeia no momento: uma recuperação sem aumentos de salários e preços. Na sua intervenção, o presidente do BCE sinalizou que se confirmará o plano temporal que Vítor Constâncio, o vice-presidente, avançou há dias: novidades sobre o programa de estímulos só deverão chegar depois do Verão.

Perante os eurodeputados, Draghi destacou a "melhoria nas perspectivas de crescimento" da Zona Euro, o facto de a "recuperação estar a ganhar solidez, e de se esperar que fique cada vez mais sólida, por se basear no consumo e não nas exportações, e por ser mais abrangente em termos de países e sectores", disse. O líder do banco central explicou, por exemplo, que um dos indicadores de medição dessa abrangência – um índice do BCE que calcula a dispersão do valor acrescentado nas várias economias – está "no nível mais elevado desde 1997, muito antes da crise". "O que quer dizer que muitos dos problemas que tínhamos como a fragmentação financeira, problemas com a transmissão da política monetária, e crescimentos muito diferentes, entre vários outros problemas" estão ultrapassados, afirmou, num tom claramente optimista.

Mas se há bons sinais da economia, o mesmo não se pode dizer da inflação, que permanece volátil e influenciada pelos preços da energia, sem os quais a inflação subjacente continua a rondar apenas os 1%, longe dos quase 2% registados na inflação global.  

Apesar da recuperação "quando olhamos para a inflação, vemos que a inflação subjacente é ténue. A inflação global subiu, mas principalmente pelos preços da energia, e esperamos que baixe quando este efeito baixar" afirmou, recordando ainda que não há sinais de pressões inflacionistas porque também não há sinais de recuperação de salários, que são um dos elementos que sustentam a recuperação da inflação.

"O crescimento de salários ainda é ténue. Apesar de começarmos a ver algum crescimento em algumas partes da Zona Euro, que se observa também nos preços da produção, e é ainda é muito cedo para dizer que vamos mudar a política monetária", afirmou o banqueiro central, que na sua intervenção lembrou, por um lado, que o mandato do BCE é garantir uma recuperação sustentada da inflação para valores próximo, mas abaixo de 2% no Zona Euro e que, por outro, as actuais perspectivas de recuperação da inflação dependem de se manterem no terreno os actuais estímulos.

Na intervenção inicial, Draghi foi claro, a defender que ainda precisam de mais informação para ponderarem uma alteração de políticas: "Apesar de uma recuperação mais firme, e olhando para as leituras voláteis da inflação nos meses mais recentes, as pressões inflacionistas têm permanecido ténues. As pressões de preços domésticos, nomeadamente nos salários, são ainda insuficientes para suportar uma recuperação durável e auto-sustentável da inflação para o nosso objectivo de médio prazo. Para as pressões domésticas se fortalecerem, ainda precisamos de condições de financiamento muito acomodatícias", afirmou, acrescentando que no BCE "permanecem firmemente convencidos que uma quantidade extraordinária de apoio da política monetária, incluindo através do "forward guidance" ainda é necessária".

No início do ano, Draghi estabeleceu quatro condições para que a política monetária pudesse reverter o rumo – que a previsão da inflação se aproximasse dos 2% no médio prazo, de forma duradoura, sem depender dos estímulos do BCE e considerando a média dos valores registados nos 19 Estados-membros do euro. Por agora, Draghi não está convencido que estas condições estejam reunidas.

Em Junho, os governadores do BCE receberão novas previsões do seu "staff" o que ajudará os governadores a "a formular o julgamento sobre as distribuições de riscos sobre qual o cenário mais provável para crescimento e inflação".
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