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Rússia e Estados Unidos mantêm impasse sobre a Ucrânia
Os representantes diplomáticos dos dois países encontraram-se esta sexta-feira, mas voltaram a não conseguir obter um acordo mínimo sobre a crise ucraniana. Moscovo sublinha que vai respeitar o resultado do referendo da Crimeia.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que se encontrou esta sexta-feira, em Londres, com o congénere russo, Sergei Lavrov, lamentou que o Presidente russo, Vladimir Putin, não esteja na disposição de discutir um acordo antes da realização do referendo deste domingo na Crimeia, revela o “Wall Street Journal”.
Desta forma, Washington e Moscovo selaram a discordância, quanto à crise na Ucrânia, que mantêm desde a deposição do ex-Presidente ucraniano Viktor Yanukovych. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia adiantou que o encontro de seis horas com Kerry não tinha permitido obter “uma visão comum”.
A “BBC” acrescenta que, apesar da incapacidade das duas delegações atingirem pontos em comum, Lavrov acabou por considerar esta reunião como “construtiva”.
O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tinha dito sexta-feira que se Moscovo “continuasse a violar a soberania” da Ucrânia, teria de enfrentar duras “consequências. Kerry reafirmou, depois do encontro desta sexta-feira, que “a Rússia enfrentará consequências se não mudar de posição” relativamente à questão da Crimeia, escreve o “Washington Post”.
Questionado sobre se estas “consequências”, que se devem revestir na forma de sanções económicas e isolamento internacional, poderiam alterar de alguma forma o rumo adoptado pela Rússia, Lavrov foi lacónico: “Vamos respeitar a vontade do povo da Crimeia”.
O chefe da diplomacia russa quis também deixar uma mensagem de pacificadora relativamente à posição de Moscovo. “Posso assegurar que os nossos parceiros compreendem que a aplicação de sanções é contra-produtiva e não facilita os interesses mútuos”, concluiu Lavrov.
Este domingo a população da península autónoma da Crimeia vai votar, e deverá aprovar, um referendo sobre a possibilidade de secessão da Ucrânia e posterior anexação à Rússia. Moscovo já iniciou preparativos que permitem facilitar a atribuição de cidadania russa a descendentes russos (a população da Crimeia é maioritariamente russófona) e, entretanto, agendou uma discussão, no Parlamento, sobre alterações legislativas que permitam a anexação da Crimeia.
Em paralelo, nas últimas horas Moscovo aumentou o dispositivo militar nas bases militares de que dispõe na Crimeia e iniciou manobras de treino militar ao longo da fronteira da Ucrânia com a Rússia. Esta quinta-feira ficou marcada por novos confrontos em Donekst, a maior cidade da zona oriental da Ucrânia.
A comunidade internacional tenta, neste momento, evitar que para além da Crimeia, que já parece dada como um caso perdido, também a região leste da Ucrânia, cuja população também é de maioria russófona, possa seguir um caminho de aproximação à Rússia. Teme-se a repetição da desagregação da Jugoslávia na Ucrânia. Putin referiu desde o início do conflito que Moscovo vai "defender os interesse e direitos" de todos os cidadãos com ascendência russa.
Os manifestantes armados pró-russos que há cerca de três semanas controlam a Crimeia já afirmaram que, depois do referendo, estão na disposição de defender os direitos e interesses dos cidadãos descendentes russos, de outras regiões da Ucrânia, contra as novas autoridades de Kiev.