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Pequim vai controlar mais de metade dos alimentos no mundo. "Fome" chinesa provoca aumento de preços

Pequim está a acumular reservas de alimentos em níveis historicamente altos. Para alguns especialistas, esta atitude de Pequim motiva a subida dos preços dos alimentos e o aumento dos casos de fome no mundo.

O presidente chinês, Xi Jinping, conseguiu controlar o vírus e retomar a atividade económica no final de fevereiro.
Noel Celis/Reuters
26 de Dezembro de 2021 às 09:00
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"A China detém atualmente um stock alimentos em níveis historicamente altos", afirmou m novembro Qin Yuyun, responsável pelo departamento de cereais da Administração Nacional de Alimentos e Reservas Estratégicas de Pequim. E não estava a exagerar. Neste momento, o país é o que mais armazena cereais no mundo.

Na altura, Qin Yuyun chegou mesmo a afirmar que "os nossos stocks conseguem responder à procura durante um ano e meio".

De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA, a China vai controlar 69% das reservas de milho de todo o mundo no primeiro semestre de 2022, 60% das reservas de arroz e 51% do trigo. As projeções representam um aumento de cerca de 20 pontos percentuais face aos últimos 10 anos.

Em 2020, a China gastou  98,1 mil milhões de dólares em importações de alimentos, 4,6 vezes mais em relação à década anterior, de acordo com os dados da Administração Geral e Alfandegária do país. De janeiro a setembro de 2021, Pequim reforçou as suas reservas como não era visto desde 2016.

Nos últimos cinco anos, as importações chinesas de soja, milho e trigo foram entre duas a doze vezes superiores às compras de outras nações, como o Brasil e EUA.

De forma a alimentar o seu stock, as empresas chinesas iniciaram uma onda de aquisições de empresas estrangeiras. Em junho, o principal fornecedor de carne do país, o WH Group, comprou um homólogo europeu em junho, enquanto o Inner Mongolia Yili Industrial Group comprou uma empresa líder de laticínios na Nova Zelândia em 2019.

Xi Jinping apela à "segurança alimentar no país"

Ao contrário dos alimentos, a memória na China não é escassa. Em abril, respondendo ao apelo do presidente chinês, Xi Jinping, sobre "a segurança alimentar", Pequim aprovou uma lei de combate ao desperdício de alimentos que proíbe sobras excessivas. No final de outubro, o Partido Comunista Chinês e o Conselho de Estado instruíram os funcionários sobre como reduzir o desperdício alimentar.

O esforço de Pequim para que haja comida para todos e durante muito tempo é um exercício de memória que lembra a crise da fome durante a Revolução Cultural, que ocorreu entre 1966 e 1976. "As pessoas da minha geração lembram-se de como passámos fome durante esses tempos", contou certa vez Xi Jinping, durante uma entrevista à agência pública chinesa Xinhua.

Segundo os dados da Agência para a Alimentação e Agricultura da ONU, os preços dos alimentos dispararam 30% num ano em todo o mundo. Em novembro, o índice alimentar das Nações Unidas voltou a registar um novo máximo de 10 anos.

Akio Shibata, presidente do Instituto de Investigação de Recursos Naturais de Tochigi, em entrevista ao Nikkei Asia, diz que a China pode estar a contribuir para o aumento dos preços e da fome no mundo. "A acumulação da China é uma das razões para o aumento dos preços", sublinha o especialista.

A opinião de Shibata é partilhada por outro académico, Goro Takahashi, professor jubilado da Universidade de Aichi e especialista em agricultura chinesa, para quem "a China tem uma grande quota de responsabilidade pela fome no mundo, ainda que todas as nações desenvolvidas sejam responsáveis no seu todo".


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