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Guerra quente EUA-Irão tem no petróleo a principal vítima, mas pode haver mais

O assassínio do todo-poderoso comandante dos Guardas da Revolução do Irão representa um duro golpe para as aspirações de Teerão no Médio Oriente e antecipa uma escalada que pode bem culminar no eclodir de uma guerra regional. O petróleo surge como a primeira e principal vítima, porém há uma série de países onde a escalada de violência pode estar acontecer a qualquer momento.

03 de Janeiro de 2020 às 14:01
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"Os Estados Unidos estão agora numa guerra quente com o Irão depois de terem travado guerras por procuração nas várias décadas passadas. Isto não significa guerra, não vai levar a uma guerra e não tem o risco de guerra. Nada disso. É guerra", escreve, na The Atlantic, o antigo conselheiro da Casa Branca para assuntos relacionados com o Médio Oriente, Andrew Exum.

Exum reagiu assim ao assassínio de Qasem Soleimani pelas forças norte-americanas e por ordem direta do próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O todo-poderoso Soleimani era comandante dos Guardas da Revolução do Irão e principal obreiro da influência regional conquistada por Teerão em países como o Líbano, Síria, Iraque ou Iémen.

O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, já veio frisar que os EUA "não procuram" uma guerra com o Irão, isto depois de o presidente americano, Donald Trump, ter publicado um tweet em que afirma que "o Irão nunca venceu uma guerra, mas nunca perdeu uma negociação". Trump parece referir-se ao acordo sobre o nuclear iraniano que o próprio denunciou pondo fim a um período de normalização das relações da comunidade internacional com o regime iraniano.

Teerão já prometeu retaliar e vingar a morte do líder da força de elite Al-Quds. Quanto ao ataque junto ao aeroporto de Bagdad (Iraque) que vitimou o comandante iraniano, não se sabe se faz parte de um plano de ação do presidente Trump ou se não passa de uma ação isolada, sendo que o histórico da atuação da atual administração americana aponte mais para o segundo caso.

Seja como for, é ainda prematuro tentar antecipar as consequências desta ação militar direta executada pelas forças norte-americanas, contudo é quase certa a escalada no conflito Washington-Teerão e real a possibilidade de eclosão de uma guerra regional, direta ou por procuração.

Irão pode atacar infraestruturas energéticas

Além das (inúmeras) consequências eminentemente militares, há já um efeito que se faz sentir nos mercados internacionais de crude. O preço do petróleo dispara cerca de 4%, com o Brent (Londres) a negociar em máximos de setembro e o West Texas Intermediate (Nova Iorque) e transacionar na cotação mais alta desde maio.

Todavia, mais do que a previsível subida expressiva do petróleo, existe mesmo o risco de disrupção ao nível da oferta global da matéria-prima.

O Estreito de Ormuz aparece assim como potencial alvo preferencial de Teerão, o qual está localizado na costa sul iraniana e que, no verão passado, foi palco de vários ataques contra navios petroleiros que se repercutiram na subida do preço do crude. Num cenário extremo de ataques constantes na ligação entre o Golfo e o Mediterrâneo que obrigasse ao encerramento do mesmo, não seria o crude o único afetado mas o conjunto da economia mundial.

É que pelo Estreito de Ormuz é transportado cerca de um quarto da produção mundial de petróleo produzido e é o único ponto de ligação do Golfo Pérsico aos restantes oceanos.

EUA de saída do Iraque?

A Al-Quds foi transformada por Soleimani numa espécie de força multidisciplinar com atuação ao nível político e geopolítico, financeiro e de inteligência, tendo-se mesmo tornado no principal braço de atuação externa de Teerão.

A atuação do comandante Soleimani foi determinante para o regime de Bashar al-Assad ter reconquistado o controlo sobre vastas áreas da Síria, no combate aos jihadistas tanto em território sírio como iraquiano, ou ainda nos avanços inicialmente conseguidos pelas forças rebeldes que seguem em guerra no Iémen contra o antigo regime, por sua vez apoiado por Riade. Foi ainda importante no apoio ao libanês Hezbollah.

Em qualquer daqueles países é previsível assistir-se a um intensificar dos conflitos por interpostas forças onde Irão e Arábia Saudita há muito disputam a hegemonia no Médio Oriente.

Contudo, uma das consequências com maior probabilidade de se verificar passa pela saída das forças militares americanas que permanecem no Iraque (cerca de 5 mil tropas). Desde logo porque os dois mísseis disparados pelo drone americano vitimaram não só Soleimani, mas também um dos mais importantes líderes militares iraquiano, o que tem potencial para "virar" o Iraque contra a já contestada presença americana no país.

Depois da intervenção militar dos EUA no Iraque que derrubou Saddam Hussein, a maioria xiita recuperou o poder em Bagdad, aproximando o país dos interesses do regime liderado pelo alauíta (ramo xiita do Islão) Assad. A imprensa americana reporta que Washington já terá dado indicações para reforçar a presença militar na embaixada da capital iraquiana.

O ataque aéreo desta sexta-feira acontece depois de, na terça-feira, uma mílicia iraquiana ter tentado atacar a embaixada americana em Teerão.

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