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Ex-primeiro-ministro italiano pede restauração do Mare Nostrum
O responsável político pela adopção, em 2013, do programa Mare Nostrum, defende que o mesmo seja agora restaurado. Letta espera que “desta vez não haja apenas conversa”. Londres admite que redução da escala das operações no Mediterrâneo falhou e o vice-ministro grego da Defesa diz que a Europa tem de “fazer mais”.
Enrico Letta, ex-primeiro-ministro italiano, defende que a Europa deveria restaurar o programa de busca e salvamento Mare Nostrum. Letta foi, precisamente, o homem responsável pela adopção, em Outubro de 2013, do programa no Mar Mediterrâneo, denominado de Mare Nostrum, na sequência de um naufrágio que vitimou quase 400 migrantes ao largo da costa da ilha transalpina de Lampedusa.
Agora, quando o tema das migrações clandestinas para a Europa, cuja maior porta de entrada continua a ser o Mediterrâneo Central, voltou à ribalta mediática, Letta sustenta que o Mare Nostrum, suspenso em Outubro passado devido ao elevado custo de quase 10 milhões de euros mensais, totalmente a cargo da Itália, deveria ser readoptado.
Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, o antecessor de Matteo Renzi disse esperar que "desta vez não haja apenas conversa, porque após Lampedusa foi somente conversa". Enrico Letta criticou o facto de então, apesar daquela tragédia, o peso ter permanecido unicamente sobre os ombros da Itália. O político italiano fazia referência ao encontro desta quinta-feira dos líderes da União Europeia (UE) para discutir o problema relacionado com as migrações para a Europa, nomeadamente através do Mediterrâneo.
Comentando as palavras de Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, que esta quarta-feira, 22 de Abril, disse esperar melhorar a actual situação, "em particular, através do reforço das possibilidades de busca e salvamento", Letta disse que o político polaco mostrou estar "muito determinado", "o que me dá a ideia de que [os líderes europeus] irão tentar fazer algo de significativo".
Também Matteo Renzi disse estar "confiante de que a UE possa mudar de rumo, e não apenas no que concerne ao orçamento" a disponibilizar para a constituição de um programa abrangente de busca e salvamento no Mediterrâneo.
O líder transalpino deixou implícito que é também importante apostar na prevenção dos factores que fazem com que nos últimos meses os fluxos migratórios provenientes de África e do Médio Oriente e com a Europa como destino tenham aumentado de forma tão acentuada.
"A UE deve dar uma resposta orgânica, estratégica e plural àquilo que está a acontecer e que ainda poderá estar para vir", insistiu Renzi. Na mesma linha, o vice-ministro grego da Defesa, Kostas Isichos, disse à BBC que "as grandes potências" da Europa têm de "fazer mais".
Em plena campanha eleitoral para as eleições legislativas britânicas marcadas para 7 de Maio, sendo, actualmente, a questão da imigração um tema central na política britânica, o primeiro-ministro e o seu número dois vieram hoje dizer que a estratégia europeia para o Mediterrâneo de combate à imigração falhou redondamente.
De acordo com o jornal The Guardian, tanto David Cameron como Nick Clegg reconhecem que a ideia de que a magnitude e abrangência do programa Mare Nostrum estariam a agravar o volume de pessoas que tentavam aceder a solo europeu - na medida em que os riscos de vida de atravessar o Mediterrâneo eram menores - resultou de uma percepção errada.
Os números demonstram isso mesmo e, desde o fim do programa Mare Nostrum, tanto o número de naufrágios e mortes daí decorrentes como o número de pessoas que chega à costa europeia tem aumentado.
A Amnistia Internacional (AI), no relatório "Plano para a Acção", refere que o término do Mare Nostrum "contribuiu para um aumento dramático de mortes de migrantes e refugiados no mar". Somente em 2015, e contabilizando os cerca de 800 mortos resultantes da tragédia da madrugada de domingo ao largo do mar líbio, já terão morrido no Mediterrâneo cerca de 1.700 migrantes, cem vezes mais do que em igual período do ano passado.