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Estados Unidos querem carregar nas tarifas sobre produtos europeus
Depois do fim das negociações para um acordo, os EUA avançam com tarifas a produtos europeus, abrindo caminho ao que se poderá transformar numa guerra de tarifas entre os dois blocos.
Os Estados Unidos pretendem carregar nas tarifas sobre produtos importados de vários países europeus devido à disputa com União Europeia sobre as ajudas estatais concedidas à Airbus.
A administração de Donald Trump colocou já em consulta pública o documento onde detalha as tarifas que pretende implementar e que incidem sobre bens no valor de 3,1 mil milhões de dólares que são importados de França, Alemanha, Espanha e Reino Unido. São estes os países que deram ajudas à Airbus que a Organização Mundial do Comércio (OMC) considerou ilegais.
Em outubro os EUA já tinham avançado com tarifas sobre bens no valor de 7,5 mil milhões de dólares devido a este caso e agora pretendem carregar ainda mais.
Em causa estão tarifas sobre bens como azeitonas, cerveja, gin e camiões. E também um aumento das tarifas já em vigor sobre componentes aeronáuticos, queijo e iogurte, refere a Bloomberg que cita o documento que estará em consulta pública até 26 de julho.
Esta iniciativa dos EUA (que ainda não é final) já era de alguma forma esperada depois de terem colapsado as negociações entre o país e a União Europeia sobre esta disputa histórica na OMC sobre os subsídios concedidos às fabricantes de aeronaves.
Adivinha-se agora uma guerra de tarifas entre os dois blocos, uma vez que a União Europeia também deverá receber em breve luz verde da OMC para avançar com tarifas a produtos dos EUA devido às ajudas à Boeing, que também foram consideradas ilegais.
O agudizar das relações entre os dois blocos está já patente na negociação dos mercados esta quarta-feira, com as bolsas europeias a marcarem perdas em torno de 2%.
Guerra de tarifas à vista
O processo que a UE tem a correr na OMC em que contesta a legalidade dos subsídios concedidos pelos Estados Unidos à norte-americana Boeing deverá ficar decidido já em julho.
Se a OMC der razão à UE – tal como deu aos Estados Unidos no caso dos apoios à Airbus – o bloco poderá avançar com tarifas de milhares de milhões de euros sobre as exportações norte-americanas já a partir do próximo mês.
O objetivo das negociações entre a UE e os EUA, que chegaram a um impasse no início deste mês, era precisamente prolongar uma trégua alcançada em julho de 2018 e evitar esta guerra de tarifas. No entanto, o comissário europeu do Comércio, Phil Hogan, já disse que as atenções em Washignton estão viradas para as eleições presidenciais e para o combate aos efeitos da covid-19, pelo que qualquer solução só deverá ser alcançada depois de novembro.
Washington "recuou" nas negociações nas últimas semanas, confirmou Phil Hogan num encontro com ministros do comércio em Bruxelas, a 9 de junho. "Temos de ver que os EUA estão agora numa fase pré-eleitoral, pelo que a atenção política em Washington está muito mais voltada para os desafios imediatos na política interna dos EUA, como a necessidade de lidar com o surto da covid-19".
Se se cumprir a expectativa de Hogan, a OMC dará luz verde à UE para impor tarifas sobre bens importados dos Estados Unidos, depois de, em outubro, também ter dado o "ok" aos Estados Unidos para imporem tarifas de 7,5 mil milhões de dólares sobre importações europeias, no âmbito de um processo paralelo, em que Washington contestava a legalidade dos apoios concedidos à Airbus.
Caso obtenha luz verde da OMC, a UE pretende mesmo avançar com tarifas de retaliação sobre os Estados Unidos, como confirmou o comissário europeu.
"Lamento que os EUA tenham recuado nas negociações nas últimas semanas", disse Hogan. "As posições, portanto, ainda estão bastante distantes. Se for esse o caso, a UE terá pouca escolha a não ser exercer os seus direitos de retaliação e impor as nossas próprias sanções no caso Boeing, assim que tenhamos autorização da OMC".