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Panama Papers motivam investigações de França ao México
As revelações sobre o mega escândalo de evasão fiscal provocaram ondas de choque por todo o mundo, levando as autoridades de países como França, México, Costa Rica, Austrália e Nova Zelândia a anunciar investigações sobre o caso.
O presidente francês François Hollande anunciou, esta segunda-feira, 4 de Abril, que vão ser realizadas investigações sobre o esquema de evasão fiscal exposto pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação e os envolvidos serão julgados.
"Posso assegurar-vos que serão realizadas investigações, vão ser abertos processos e vai haver julgamentos", garantiu o chefe de Estado, à margem de uma visita a uma empresa nos subúrbios de Paris, citado pela Bloomberg.
Hollande considerou ainda que as revelações feitas no âmbito dos Panama Papers são "boas notícias", já que permitirão o aumento da receita fiscal. "Estas revelações são uma boa notícia porque vão aumentar as receitas fiscais daqueles que cometeram fraude", afirmou.
As palavras do Presidente francês vão ao encontro das declarações do comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, que recebeu com agrado as notícias avançadas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, por estas constituírem armas políticas importantes para o combate à evasão fiscal.
"É uma excelente notícia porque nos dá as armas políticas para dizer ‘basta’", afirmou Moscovici, numa entrevista à rádio francesa RTL, citada pelo Expansión.
"Haverá sempre uma luta a travar contra a evasão fiscal, a fraude fiscal, os comportamentos criminais e a corrupção. Haverá sempre uma competição entre as autoridades públicas, os criminosos e os que os apoiam", acrescentou o comissário.
Esta manhã, também a autoridade tributária da Austrália anunciou que está a investigar mais de 800 clientes de um escritório de advocacia do Panamá por suspeitas de evasão fiscal.
"Actualmente identificámos mais de 800 contribuintes (australianos) e ligámos mais de 120 deles a um fornecedor associado de serviços situado em Hong Kong", disse o departamento australiano de impostos ao diário The Australian Financial Review.
Segundo a estação local ABC, os suspeitos australianos estão sobretudo ligados à Popular Corporate Service Limited, um dos fornecedores de serviços "offshore", que procura os serviços da empresa de advogados Mossack Fonseca para alegadamente contornar a lei.
De acordo com a Lusa, na Cidade do Panamá, o Governo panamiano garantiu que irá "cooperar vigorosamente" com todos os Estados sempre que se detectarem provas de fuga ao fisco de qualquer um dos visados nos documentos, assegurando um "comprometimento total com a transparência" e "tolerância zero" para qualquer delito.
Na Nova Zelândia, as Finanças estão a trabalhar "em estreita colaboração" com os seus parceiros para obter detalhes completos de quaisquer residentes fiscais no país que possam estar envolvidos em negócios facilitados pela Mossack Fonseca, garantiu John Nash, gerente de estratégia de receita internacional da Receita Federal, em comentários enviados por email à Reuters.
Entretanto, a Bélgica, o México e a Costa Rica juntaram-se à Austrália e Panamá na intenção se verificar se existem delitos fiscais nos respectivos países no caso Panama Papers.
Em Bruxelas, o ministro das Finanças da Bélgica, Johan Van Overtveldt, assumiu estar "muito impressionado" com o "escândalo" e criou uma comissão especial para investigar eventuais fugas de impostos de pelo menos 732 cidadãos belgas, escreve a Lusa.
Segundo o jornal Le Soir, entre os belgas mencionados figuram artistas, aristocratas e herdeiros de patrimónios familiares, médicos, farmacêuticos, contabilistas, líderes do sector têxtil, académicos e personalidades dos mundos da comunicação, negócio de diamantes e da indústria.
Na Cidade do México, o Governo indicou, em comunicado, que vai investigar os dados de um número não avançado de personalidades e empresas mexicanas aparentemente envolvidas.
No entanto, sabe-se que, entre as personalidades mexicanas figuram Juan Armando Hinojosa, dono do Grupo Higa, e que também já esteve envolvido no escândalo do "Caso Casa Branca", que envolveu o presidente Enrique Peña e respectiva mulher, Angélica Rivera, bem como o presidente da TV Azteca, Ricardo Salinas.
Também o Governo da Costa Rica vai investigar os nomes de personalidades e de empresas costa-riquenhas que surgem na lista para determinar eventuais fugas aos impostos, mas o número de envolvidos não foi adiantado.
A Autoridade de Supervisão Financeira da Suécia, por seu lado, entrou em contacto com as autoridades do Luxemburgo para pedir informações relacionadas com as alegações de que o grupo bancário Nordea ajudou alguns clientes a esconder dinheiro em paraísos fiscais.
"Levamos isso muito a sério", disse à Reuters Christer Furustedt, chefe do departamento de supervisão dos grandes bancos suecos da Autoridade de Supervisão Financeira.
Também o Governo britânico pediu uma cópia dos documentos obtidos pela investigação do grupo internacional de jornalistas para examinar a informação e agir em conformidade.