Tomou posse na quarta-feira, 24 de Julho, e dois dias depois já está na mesa ministerial a falar da reforma do IRC, tão esperada pelas empresas. Menos de 48 horas depois.

António Pires de Lima, o novo ministro da Economia, lembrou isso mesmo: "Sinto-me afortunado por 48 horas depois de tomar posse poder estar na apresentação do anteprojecto da reforma do IRC", que é "verdadeiramente essencial" para aquela "que deve ser uma prioridade nos próximos trempos, a de atracção de investimento estrangeiro e português". Saudou os antecessores (embora se tenha enganado no nome do ex-ministro da Economia, trocando o Santos por Silva), Álvaro Santos Pereira e Vítor Gaspar. Nenhum estava já na mesa.

Foi uma "coincidência feliz", diria mais tarde Maria Luís Albuquerque quando um jornalista quis saber porque é que só agora o anteprojecto foi apresentado, quando foi entregue ao Governo em Junho. Nessa altura ainda Álvaro Santos Pereira e Vítor Gaspar estavam no Governo. Agora, nos respectivos lugares estão António Pires de Lima, do CDS, e Maria Luís Albuquerque, a ministra da finanças que Paulo Portas não queria.

Maria Luís Albuquerque explicou que a comissão, liderada por António Lobo Xavier, entregou a proposta de reforma do IRC "dentro do prazo", mas houve "dificuldades de agenda para a apresentação pública". Por isso, só agora - passada a crise política - foi possível fazer a apresentação. O que Maria Luís Albuquerque, respondendo por Pires de Lima, disse ser "uma coincidência feliz".

E, assim, uma medida que Álvaro Santos Pereira reclamava há um ano e que ergueu a bandeira como sendo uma guerra sua foi a primeira medida apresentada pelo seu sucessor. 

Pires de Lima não fez promessas mas garantiu, para a frente, que a metodologia usada na reforma do IRC é a que vai privilegiar. Aí deixou elogios a Santos Pereira e Vítor Gaspar, pelo método que implica "discrição durante muitos meses, estudo e profissionalismo". A comissão, disse, foi até liderada "pelo meu amigo" Lobo Xavier e integrou várias valências. "É esta a metodologia mais indicada para que se fazer reformas pensadas e que se pretendem que durem no tempo". E veio a promessa de trabalho conjunto entre Finanças e Economia.

"Aquilo que gostaria e assegurarei é que no presente e no futuro existirá toda a disponibilidade para manter o método que foi seguido e que todas as avaliações e propostas em matérias de potenciais reduções fiscais quer para empresas quer para pessoas serão sempre estudadas de forma conjunta entre a Economia e as Finanças", declarou ao lado dos responsáveis pela fiscalidade dos contribuintes individuais, Maria Luís Albuquerque e Paulo Núncio.

Na primeira intervenção como ministro da Economia, Pires de Lima deixou ainda a crítica aos "múltiplos anúncios bombástico criados para produzir efeitos na comunicação social de medidas mas sem impacto na economia". Não disse a que anúncios bombásticos se referia, mas assegurou que não estava a falar do supercrédito fiscal, que é "uma medida positiva, embora tenha sido apresentada como temporária". Os anúncios, disse depois, foram feitos em "anos distantes".

Na conferência de imprensa para apresentar o anteprojecto da reforma do IRC não ficaram de fora os "swaps". Maria Luís Albuquerque não deixa de ser questionada sobre o assunto. Terá sido, também, uma coincidência que na mesma altura o PS estivesse a dar uma conferência de imprensa, a que se seguiu o PCP, a pedir a demissão da ministra das Finanças que tomou posse há 25 dias.