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Piketty: "É um erro acreditar que se reduz a dívida pública apenas com austeridade"

O francês Thomas Piketty esteve reunido cerca de uma hora com António Costa. À saída, disse que a austeridade não chega para baixar a dívida e o défice. E disse estranhar que a Alemanha e a França exijam que tudo seja pago quando não pagaram as suas dívidas de guerra.

Bruno Simão
27 de Abril de 2015 às 14:02
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Thomas Piketty, economista francês autor do "Capital no século XXI", está esta segunda-feira, 27 de Abril, em Portugal, com uma agenda carregada de encontros com figuras da esquerda. Após a reunião com António Costa, na sede do PS, Piketty sustentou que "é um erro" pensar que só a austeridade pode baixar a dívida e o défice. Não há evidência histórica que suporte essa abordagem. Aliás, no passado, Alemanha e França nem sequer pagaram as suas dívidas, acusa.

 

"Estamos a cometer um erro na Europa se acreditarmos que conseguimos reduzir um montante tão grande de dívida pública apenas a somar austeridade a mais austeridade", defendeu o francês. "Se olharem para a história da dívida pública na Europa, vê-se que quando se tem uma dívida equivalente a 100% ou mais do PIB", leva "muitas décadas a baixar a dívida" se a abordagem for "apenas com excedentes orçamentais ou austeridade".

 

O segredo é o crescimento e a inflação, sublinha Piketty. "Países como Alemanha ou França já tiveram muita dívida pública no passado, depois da II Guerra Mundial, mas reduziram-na não só com excedentes orçamentais mas com mais crescimento e com mais inflação", lembrou. "Quando temos zero inflação e um crescimento muito pequeno, que é o que temos na Zona Euro actualmente, é praticamente impossível reduzir tanta dívida pública".

 

"Não é uma questão de esquerda ou direita, é também uma questão de evidência histórica. Dizer que a única maneira de reduzir o défice é com austeridade" não tem eco no passado, afirma Piketty.

 

Aliás, "é um bocado estranho que países como Alemanha ou França, que nunca pagaram as suas dívidas da II Guerra Mundial, estejam agora a dizer a Portugal, Grécia ou Espanha que tudo tem de ser pago", e "sem inflação nem reestruturação da dívida". "Acho que Alemanha e França têm sido muito egoístas em relação à Europa e muito ineficientes nas suas decisões, porque agora a situação na Zona Euro é que o desemprego cresceu imenso", particularmente o desemprego jovem, "e é muito difícil de o reduzir".

 

"França e Alemanha têm de aceitar que são em parte responsáveis por esta situação", sintetizou Piketty.

 

António Costa descreveu a reunião com Piketty como "uma conversa muito interessante sobre alguns temas fundamentais", como a "Europa, a redução das desigualdades", além de terem sido abordadas "propostas para a redução da precariedade" e o aumento "dos rendimentos do trabalho".

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