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Magda pelo não: “Subimos impostos, reduzimos salários, mas não fomos a lado nenhum”

Os apoiantes do “não” sustentam que anos de austeridade não levaram o país a lado nenhum. A convicção é grande, mas o nervosismo varia: é maior para quem mais a perder.

Reuters
04 de Julho de 2015 às 14:23
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Sentada a comer cerejas numa mesa improvisada em frente à loja de discos do namorado, no bairro de Exarchia, Magda defende o voto no "não", mas não esconde o nervosismo. "O ‘não’ é um grande ‘não’ às propostas da austeridade. Ao longo destes anos, aumentámos impostos, reduzimos salários mas não fomos a lado nenhum. É uma coisa que vem de dentro, quero que a minha voz seja ouvida. Mas sei que é uma longa batalha e, pela primeira vez, tenho medo de perder o emprego".

 

Enfermeira há dez anos num hospital em Pireos, perto do Porto de Atenas, trabalha como assistente de cirurgia. Explica que os doentes têm o hábito de adiar a ida ao hospital e que só aparecem numa fase avançada do problema. "As pessoas esperam, esperam, e só vêm ao hospital no último minuto. Porque os gregos acreditam que têm de pagar uma gorjeta. Não sei bem de quem é a culpa: se dos médicos ou se das pessoas".

 

A situação é "crítica" numa equipa que perdeu duas dezenas de pessoas, num total de 50, sobretudo por via de saídas voluntárias e para a aposentação. Magda teve um corte salarial de 27%, sem contar com a supressão do 13º mês, mas mantém um emprego que considerava seguro. Agora admite que as coisas possam mudar. "É muito importante que oiçam a nossa voz. Mas na verdade não sei o que vai acontecer a seguir". Talvez o Governo e a Comissão Europeia se sentem e conversem, admite. "Mas também podem pressionar as pessoas, através dos bancos".

 

A incógnita sobre o que poderá acontecer na segunda-feira não foi esclarecida pelo primeiro-ministro, Alexis Tsipras, que esta sexta-feira à noite fez um curto discurso na manifestação de apoio "não", na praça Syntagma. Adam, sociólogo, não estranhou a omissão. "Ninguém tem a certeza sobre o que vai acontecer na segunda-feira. Acreditamos que se o ‘não’ ganhar o primeiro-ministro pode ir a Bruxelas pedir um compromisso que respeite a decisão dos gregos e que inclua uma medida clara sobre a dívida. Isso sim, seria realista", diz.

 

Vem às manifestações na praça Syntagma desde o início da crise, em 2010, e garante que esta foi uma das maiores que já viu. "Isto é uma celebração". Apesar de alguns incidentes localizados com a polícia, logo no início da concentração, o ambiente – criado por uma multidão vestida de roupas largas, cores escuras e peças de algodão, numa estética bastante distinta da que dominou a manifestação do sim – foi sobretudo festivo. Depois do discurso de Tsipras, as pessoas comeram, beberam, cantaram e ficaram pela praça a conversar.

 

Ao contrário de Magda, Adam não tem propriamente um emprego ao qual se agarrar. "Trabalho de graça". Ou quase. Há quase três anos que investiga como independente para a Universidade de Atenas. "Por todo este tempo recebi um total de 3.000 euros líquidos". Tem-se aguentado com o apoio da mulher, funcionária pública, mas estava a contar levantar um terceiro cheque, no valor de dois mil euros, no início desta semana. "Não consegui levantar porque os bancos fecharam".

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