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Dijsselbloem avisa Varoufakis: "Já perdemos demasiado tempo"
O ministro grego das Finanças foi o primeiro a chegar para o encontro desta tarde, mas não falou. Já o presidente do Eurogrupo avisou que é tempo de Atenas discutir propostas concretas com as instituições da troika e implementá-las. Só assim poderão ser feitas novas transferências.
"Temos de parar de perder tempo, essa é a minha mensagem hoje", frisou Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, à chegada à reunião que decorre esta tarde em Bruxelas entre os ministros das Finanças da Zona Euro para avaliar os planos do novo governo grego. "As negociações de verdade ainda não começaram", alertou, pelo que é necessário "parar de perder tempo". A Grécia prometeu apresentar um conjunto de novas medidas, capazes de permitir fechar o actual programa de resgate, que foi prolongado até ao fim de Junho e do qual depende a última transferência da troika de 7,2 mil milhões de euros.
À semelhança de outros ministros europeus, Dijsselbloem deixou transparecer alguma frustração com as sete reformas propostas na sexta-feira por Yanis Varoufakis, que foi o primeiro a chegar hoje à sede do Conselho Europeu, não tendo, porém, prestado declarações aos jornalistas. Numa altura em que os cofres do país estarão à beira da ruptura, o presidente do Eurogrupo salientou que há disponibilidade para antecipar transferências para Atenas, mas que estas apenas podem acontecer depois de se obter a luz verde da troika às novas medidas propostas por Atenas. "Temos vindo a afirmar que continuaremos a apoiar a Grécia se o caminho das reformas for prosseguido. Penso que as conversações técnicas com as instituições deveriam começar o quanto antes. Já perdemos demasiado tempo", disse.
Questionado sobre o risco de a Grécia resvalar para bancarrota, o ministro das Finanças de Malta, Edward Scicluna, respondeu, por seu turno, que "a situação é muito séria", ao passo que o seu colega luxemburguês, Pierre Gramegna, defendia que "é melhor agir mais rápido em vez de falar demasiado", num recado aparentemente dirigido a Varoufakis que, desde que tomou posse, se tem desdobrado em entrevistas e contradições. Ainda neste fim-de-semana, em entrevista ao italiano IlSole24Ore, falou na possibilidade de um referendo ao euro ou de novas eleições, caso não consiga o acordo de Bruxelas, tendo depois clarificado que um eventual referendo será sobre as medidas de austeridade, o que, em qualquer dos casos, implicaria "parar o relógio" da governação que continua travado.
Varoufakis de saída?
Segundo o que afirmou o ministro irlandês, Michael Noonan, Atenas terá entretanto sinalizado que doravante Varoufakis seria substituído pelo vice-primeiro-ministro Yannis Dragasakis na coordenação das negociações com os credores, mas uma fonte do governo de Alexis Tsipras, citada pelo Guardian, negou essa informação.
Uma das principais vertentes das sete medidas propostas pelos gregos é a procura de mais receita fiscal, seja através do combate à fraude e evasão, seja pela criação de incentivos ao pagamento de dívidas em atraso. Mas as medidas sugeridas causaram, dentro e fora de fronteiras, alguma perplexidade, designadamente a ideia de contratar jovens desempregados, donas de casa e até turistas para fiscalizar "à paisana" a cobrança de impostos junto de restaurantes e bares. "Seria muito divertido, não fosse tão trágico, ver propostas como estas serem feitas por um governo de um país industrializado", afirmou um alto funcionário europeu ao Financial Times.
O Governo avança também com as medidas com as quais pretende responder à crise humanitária, num valor de 200 milhões de euros, despesa que, garante, será compensada de modo a ter um efeito neutro no orçamento.
Na mesma carta endereçada ao Eurogrupo, Yannis Varoufakis diz que, paralelamente a estas negociações para conclusão da última avaliação do programa de ajustamento, gostaria de iniciar as negociações para o acordo pós-Junho, sempre com o cuidado de não lhe chamar programa de ajustamento, ou terceiro resgate, e deixando uma nota: "Por favor tome nota que o Governo grego gostaria que o ‘acordo subsequente’ tome a forma de ‘Contrato para a Recuperação e Crescimento da Economia Grega".
(Notícia actualizada com mais informação)