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França insiste: Londres tem de pagar 100 mil milhões com o Brexit
O ministro das Finanças de França insiste que Londres terá de pagar uma factura de 100 mil milhões de euros. Apesar de ter reconhecido nos últimos dias que vai ter de pagar pelo Brexit, no passado, quando foi noticiado o valor de 100 mil milhões, o Reino Unido rejeitou-o.
Em plena semana de negociações entre Bruxelas e Londres, o ministro das Finanças francês poderá ter colocado mais uma acha na fogueira, insistindo na factura que Londres terá de pagar com o Brexit. Bruno Le Maire insistiu no pagamento de 100 mil milhões de euros. Apesar de na semana passada o Reino Unido ter admitido, pela primeira vez, que terá de pagar à União Europeia (UE) pela sua saída, em Maio, Londres afastou o pagamento desta importância.
"Vou dizer o que disse Margaret Thatcher: ‘Queremos o nosso dinheiro de volta’", afirmou Le Maire, ao final do dia desta quarta-feira, 19 de Julho, no parlamento francês, citado pela Bloomberg. O governante fez referência às palavras proferidas pela antiga primeira-ministra britânica quando conseguiu um reembolso dos pagamentos feitos pelo Reino Unido para o orçamento comunitário.
"Podemos sempre debater o montante, mas o facto de o Reino Unido ter de pagar o que deve ao orçamento da União Europeia é um pré-requisito não negociável no início das negociações", adiantou ainda o ministro das Finanças da França.
Não é a primeira vez que este valor é apontando. Em Maio, o Financial Times referia-o como sendo o montante calculado em função das exigências apresentadas pela Alemanha e pela França. O Financial Times adiantava na altura que os responsáveis da UE pelas negociações reviram em alta os seus cálculos depois de terem sido apresentadas exigências por parte de vários estados-membros, incluindo pagamentos agrícolas e comissões entre 2019 e 2020.
Logo nessa altura, David Davis, governante britânico responsável pelas negociações com Bruxelas, apressou-se a dizer que Londres não pagaria esse valor. Em Maio, Davis rejeitou mesmo adiantar qual o valor que Londres estaria disponível para pagar, realçando que "o que temos de fazer é discutir em detalhe quais são os direitos e obrigações".
O Reino Unido só deverá se comprometer com um valor a pagar numa fase mais avançada das negociações, aponta a Bloomberg.
Semana de negociações
As negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia começaram esta segunda-feira, numa altura em que, em Londres, as lutas internas entre os ministros sobre o futuro da primeira-ministra Theresa May sobem de tom. David Davis regressou, entretanto, esta quarta-feira a Bruxelas e deve almoçar esta quinta-feira, 20 de Julho, com o líder das negociações por parte da UE, Michel Barnier, e encontrar-se com os negociadores britânicos que nos últimos dias têm estado a negociar temas como as obrigações financeiras do Reino Unido e os direitos dos cidadãos europeus em território britânico.
Este último ponto é especialmente sensível. No final do mês passado, Theresa May garantiu que os cidadãos dos países da UE vão poder permanecer no Reino Unido com todos os seus direitos assegurados, o que é visto como insuficiente por parte dos responsáveis europeus. Barnier afirmou, na semana passada, que os cidadãos europeus vão perder direitos, e mostrou-se espantado com o facto de alguns membros do Governo britânico não aceitarem que o Reino Unido tem de cumprir as suas obrigações.
Não é expectável que, durante esta semana de negociações, sejam feitos muitos avanços. Contudo, a pressão vai começar a aumentar à medida que novos encontros decorram. Novas reuniões estão programadas para o final de Agosto, em Setembro e em Outubro. Na cimeira de 19 e 20 de Outubro, os líderes europeus vão avaliar se os progressos alcançados são suficientes.
Se a resposta for positiva, as negociações poderão passar para outro tema: as relações comerciais e a possibilidade de período de transição. O relacionamento comercial entre Londres e o bloco europeu é um tema que Londres ambiciona debater. Contudo, no Reino Unido a questão de Londres ter de pagar uma factura por causa do Brexit é, politicamente, difícil. Isto numa altura em que Theresa May perdeu a sua maioria absoluta no Parlamento, após as eleições de 8 de Junho.