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Negociações do Brexit recomeçam em Bruxelas com Londres dividida
David Davis, ministro responsável pelo Brexit, e Michel Barnier, negociador da UE, já se reuniram em Bruxelas para dar seguimento às negociações em torno da saída do bloco. Em Londres, crescem as divisões entre os membros do Governo.
É num clima de incerteza em Londres que se vão retomar as negociações sobre o Brexit, quase um ano e um mês após a decisão dos eleitores de abandonar a União Europeia.
Esta segunda-feira, 17 de Julho, o ministro responsável pelas negociações em torno da saída da União Europeia, David Davis, regressou a Bruxelas para retomar as conversações com o bloco regional, enquanto as lutas internas entre os ministros em Londres sobre o futuro da primeira-ministra Theresa May sobem de tom. Isto depois de a governante ter decidido convocar eleições para o início de Junho, que acabaram por resultar na perda da maioria absoluta dos conservadores, enfraquecendo a posição do Governo britânico.
Antes do início da reunião, e reconhecendo que a abertura das negociações no mês passado pouco ou nada adiantou, o negociador da UE para o Brexit, Michel Barnier, afirmou que agora é "crucial entrar a fundo no assunto".
"Para nós, é incrivelmente importante fazermos agora bons progressos", declarou Davis aos jornalistas, citado pela Bloomberg. "É hora de negociar e identificar as diferenças para que possamos lidar com elas e identificar as semelhanças para as podermos reforçar".
Os grupos de trabalho estarão focados em duas questões centrais. Por um lado, os direitos dos cidadãos depois do Brexit; por outro, a exigência da UE do pagamento de 60 mil milhões de euros por parte do Reino Unido para cobrir os compromissos orçamentais em curso.
Segundo a Bloomberg, Davis pretende ainda acelerar as conversações sobre a futura situação do comércio, mesmo numa altura em que divisões abertas entre os membros do Governo britânico tornam difícil para a Europa perceber exactamente quais são os objectivos do Reino Unido.
Divisões internas fragilizam Governo de May
Para ilustrar a delicada situação da primeira-ministra Theresa May, e o seu poder enfraquecido, o Sunday Times recorreu a uma montagem de fotos (à esquerda), onde o ministro das Finanças Philip Hammond, David Davis e o ministro dos Negócios Estrangeiros Boris Johnson – todos apontados como potenciais sucessores de May – surgem com pistolas apontadas uns aos outros.
Segundo fontes citadas pela Bloomberg, David Davis está entre os membros do Governo que estão descontentes com a política da primeira-ministra em relação à União Europeia, tendo advertido repetidamente May que o destino incerto dos cidadãos após o Brexit está a prejudicar as conversações com os Estados-membros da UE.
Já o Sunday Telegraph avança que 30 deputados do Partido Conservador apoiariam uma liderança de Davis, em oposição a May. O mesmo jornal escreve que um ministro (não identificado) acusou Hammond de tratar os colegas que apoiam o Brexit como "piratas que o fizeram refém".
Boris Johnson, outro dos potenciais sucessores, também está em Bruxelas esta segunda-feira. O ministro dos Negócios Estrangeiros falou aos jornalistas, mas evitou o tema dos conflitos no seio do Governo em Londres.
"Estou muito satisfeito por estarem a começar as negociações noutra parte da cidade; como sabem foi posta em cima da mesa, pelo Reino Unido, uma proposta muito justa", afirmou, acrescentando esperar que a oferta seja vista como merece.
No final do mês passado, Theresa May garantiu que os cidadãos dos países da UE vão poder permanecer no Reino Unido com todos os seus direitos assegurados, o que é visto como insuficiente por parte dos responsáveis europeus. Barnier afirmou, na semana passada, que os cidadãos vão perder direitos, e mostrou-se espantado com o facto de alguns membros do Governo britânico não aceitarem que o Reino Unido tem de cumprir as suas obrigações.
A decisão de May de invocar o artigo 50 do Tratado de Lisboa há três meses significa que o Reino Unido deixará o bloco com ou sem acordo em Março de 2019. A União Europeia já deixou claro, porém, que as negociações sobre o futuro relacionamento entre o Reino Unido e o bloco só avançarão quando houver "progressos suficientes" nas questões dos direitos dos cidadãos e das obrigações financeira do Reino Unido.