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Brexit: May dribla crise interna e coloca “a bola” do lado da União Europeia
A quinta ronda de negociações para o Brexit arranca esta segunda-feira com Theresa May a enviar uma mensagem à União Europeia: “a bola está do vosso lado”. No último fim-de-semana, May conseguiu dar a volta, pelo menos para já, aos tumultos que se geraram no Partido Conservador.
A quinta ronda de negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia começam esta segunda-feira, 9 de Outubro, depois de uma semana complicada para Theresa May, que fez com que a primeira-ministra tenha aberto a porta a uma remodelação. As expectativas para esta ronda negocial são baixas, com os negociadores do lado do bloco europeu a não acreditarem que sejam alcançados grandes avanços nesta ronda negocial, de acordo com a Reuters.
Ainda assim, um diplomata sénior, consultado pela agência, antecipa que será dado um espaço de manobra ao Reino Unido para que, na cimeira de meados de Dezembro, seja acordado que as negociações se foquem na relação comercial entre o Reino Unido e os 27 membros da União Europeia. "O meu palpite é que os líderes vão tentar encontrar alguns elementos positivos", sendo que pode ser dado a May algum espaço para que sejam alcançados acordos até à cimeira de Dezembro, salientou.
Theresa May, depois de uma semana turbulenta, vai esta tarde ao Parlamento para prestar informações sobre como estão a decorrer as negociações para o Brexit. E, de acordo com o seu gabinete, a primeira-ministra vai deixar claro que: "a bola está do lado deles", ou seja da União Europeia. "Apesar de o caminho do progresso não ser sempre suave, ao abordarmos estas negociações de uma maneira construtiva – num espírito de amizade e de cooperação e com o nosso olhar no futuro – acredito que podemos provar que os pessimistas estavam errados", acrescentou.
Até aqui, a União Europeia tem dito que não foram alcançados progressos suficientes para que as negociações se debrucem sobre um tema que Londres quer ver o quanto antes em cima da mesa: a relação comercial futura entre o bloco e o Reino Unido. A factura do "divórcio" que Londres vai ter de pagar com o Brexit, os direitos dos cidadãos expatriados e a questão da fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, têm sido os temas citados para justificar que as negociações não avancem.
Além disso, haverá países da UE que estão bloquear as propostas que permitam que as negociações avancem para o tema do período de transição, de acordo com a Bloomberg. Até aqui, os 27 têm falado a uma só voz. Mas esta união pode começar a ter fracturas se as negociações sobre a relação comercial forem adiadas para além de Dezembro, segundo diplomatas citados pela Bloomberg. A Holanda e a Dinamarca são dois dos países que querem dar início, o quanto antes, a estas negociações.
Semana conturbada
Esta quinta ronda de negociações é a última antes da cimeira europeia de 19 e 20 de Outubro. E coincide com o fim de uma semana conturbada para a primeira-ministra britânica. Na última sexta-feira foi noticiado que 30 personalidades do Partido Conservador queriam a saída de Theresa May tanto da liderança do partido como da liderança do governo.
Para já, May conseguiu dar a volta à situação, abrindo a porta a uma remodelação governamental – isto menos de seis meses do actual governo ter entrado em funções (eleições gerais no Reino Unido realizaram-se no início de Junho) – que pode levar à saída do ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, tido com um dos elementos que tem sido acusado de tentar fazer valer a sua própria visão no Brexit.
Questionada pelo jornal Sunday Times sobre qual o futuro de Johnson no Executivo, Theresa May disse que faz parte da sua missão garantir que tem os melhores na sua equipa."Nunca foi meu hábito esquivar-me a um desafio e não vou começar agora. (...) Eu sou a primeira-ministra e parte do meu trabalho é garantir que tenho sempre os melhores na minha equipa, tirar o maior partido da riqueza de talentos do partido," afirmou, em palavras que o jornal interpreta como estando May a preparar-se para afastar e substituir ministros que se têm mostrado incómodos.
Segundo a Reuters, Boris Johnson é visto como um potencial sucessor de May à frente dos Conservadores, onde a liderança da primeira-ministra se tem enfraquecido desde que em Junho perdeu a maioria parlamentar em eleições que desencadeou.