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Brexit: Alemanha quer que bancos britânicos tenham um período de transição
A Bloomberg teve acesso a um documento do governo alemão, no qual Berlim deixa claro que quer que a UE esteja preparada para conceder um período de transição à banca, caso o Brexit se arraste. Por outro lado, o Rabobank fez as contas e a factura, no caso de um "hard Brexit", não vai sair barata .
A Alemanha quer que seja concedido um período de transição às companhias britânicas do sector financeiro caso o processo do Brexit se arraste. Esta posição consta de um documento do ministério das Finanças da Alemanha a que a Bloomberg teve acesso. Merkel pode estar assim a dar uma oportunidade a Londres para lidar com as suas questões de política interna.
Não é possível perceber em que data este documento foi elaborado, mas este representa a posição germânica para as negociações entre o Bruxelas e Londres. A proposta germânica refere que a União Europeia (UE) deve permitir que os governos dos Estados-membros dêem aos bancos britânicos acesso ao mercado, com base na reciprocidade, por um período de transição, pode ler-se num artigo da agência de notícias. No documento não é referido se os bancos britânicos têm de domiciliar a sua sede nos restantes países da União Europeia.
Sem especificar um período de transição, pode ler-se no documento do ministério das Finanças alemão que, as questões legais que surgem com o Brexit têm de ser abordadas, incluindo "os acordos nacionais de transição na área do acesso ao mercado para as instituições britânicas para [o mercado] alemão e da UE".
Os bancos britânicos podem operar nos restantes Estados-membros da União Europeia porque têm o chamado passaporte comunitário bancário, um documento que confere aos bancos a capacidade para operarem nos restantes 27 Estados-membros. Com o Brexit, as instituições britânicas, em princípio, perdem este passaporte e, por conseguinte, o acesso aos restantes mercados. Este será um dos motivos pelos quais vários bancos, que têm as suas sedes europeias no Reino Unido, já têm planos para as deslocalizar para outras cidades europeias. Dublin e Frankfurt estão entre as principais escolhas.
Quinta ronda, o mesmo desfecho?
Esta quinta-feira termina a quinta ronda de negociações para o Brexit. E, de acordo com fontes da Bloomberg, o fim desta ronda não trará muitos avanços nas negociações. Um diplomata da UE disse à agência que esta ronda – que começou na segunda-feira 9 de Outubro – está a registar poucos progressos e que a questão dos direitos dos cidadãos após Março de 2019 conheceu pouco progressos. Outro diplomata, que pediu o anonimato, alinhou no mesmo prognóstico: as negociações produziram o mínimo que era esperado.
A confirmar-se este cenário, esta ronda negocial, a última antes da Cimeira Europeia de 19 e 20 de Outubro, termina mais ou menos no mesmo tom em que as últimas. Os 27 Estados-membros não querem passar para as negociações sobre a questão comercial antes de ver esclarecidas questões como a factura que Londres vai ter de pagar pelo "divórcio" e os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido.
Haverá países da UE que estão bloquear as propostas que permitam que as negociações avancem para o tema do período de transição, de acordo com a informação que avançava a Bloomberg há dias. Mas se até aqui, os 27 têm falado a uma só voz, esta união pode começar a ter fracturas se as negociações sobre a relação comercial forem adiadas para além de Dezembro, segundo diplomatas citados pela Bloomberg há alguns dias. A Holanda e a Dinamarca serão dois dos países que querem dar início, o quanto antes, a estas negociações.
A possibilidade, apontada no mês passado, que indicava que os líderes europeus poderiam, na Cimeira da próxima semana, alargar o mandato de Michel Barnier, negociador-chefe da União Europeia, para que a questão da relação comercial pudesse começar a ser discutida, parecer ter entretanto caído por terra, de acordo com uma fonte ligada à UE da Bloomberg.
Factura de mais de 12 mil euros
No início desta semana, Theresa May, primeira-ministra britânica, admitiu que Londres está a fazer planos de contingência para preparar o cenário de uma saída da União Europeia sem um acordo com o bloco regional. Avisou inclusivamente os britânicos que precisam de se preparar para o pior. A líder do Executivo afirmou no parlamento, que apesar de pretender que as negociações com Bruxelas sejam bem-sucedidas, "também é nossa responsabilidade, como governo, preparar-nos para todas as eventualidades".
Um Brexit sem acordo pode não sair muito barato para os britânicos. O banco Rabobank fez as contas e calcula que um "hard Brexit", nomeadamente sem um acordo comercial, possa custar 11.500 libras (mais de 12 mil euros) a cada trabalhador britânico até 2030, de acordo com a Bloomberg.